sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Crítica ao artigo "Setor Público ignora conjuntura econômica", publicado como opinião da Edição do Jornal O Globo

Há grande publicação na grande mídia sobre a "deterioração das contas públicas". E há a tentativa de colar esse fato à idéia de "incompetência do governo na condução da política econômica". O que realmente ocorre? Há incompetência na condução da política econômica? Em que consiste a "deterioração das contas públicas".

Veja.  A publicação da Opinião do Jornal O Globo sob o título "Setor público ignora a conjuntura econômica" é mais um de vários artigos publicados no sentido de que a economia vai mal, o pessimismo impera e a culpa é do governo por não fazer superávit primário, reformas estruturais, controle de inflação, gerando "pessimismo", baixa de produção econômica e baixa de taxa de investimento.

Mas o que está escrito, ao nosso ver, não é como as coisas aconteceram e acontecem. Há publicações como se os países ricos estivessem bem em forte movimento de recuperação, que os países latinos crescem nababescamente (publicado há poucos dias por Miriam Leitão) e que só o Brasil está em descompasso e que não crescerá e que tudo é um desastre. Botemos os pingos nos "is".

Senhores, os países ricos vão mal. Que isso fique claro. Grande parte da taxa baixa de desemprego dos EUA deriva de abandono de tentativa de os desempregados procurarem emprego. Isso foi publicado recentemente, ainda no mês de julho. O primeiro trimestre americano foi de queda do pib em 3%. Se isso fosse o caso aqui, as manchetes não seriam tão benevolentes como foram com os EUA. Seria publicado que o fim do mundo se apresenta. Mas lá não. Não são feitas previsões catastróficas aos EUA e aos Europeus ou japoneses. Nem pela mídia de lá e nem pela de cá. A economia japonesa está estagnada há 30 anos, e ninguém prevê seu ocaso. E recentemente, assim como Europa, os japoneses perceberam que devem perseguir "um pouco mais de inflação", para possibilitar maior torque à sua economia.

Os países latinos crescem sobre Pib,s muito menores do que o do Brasil. Seus crescimentos de 6% não são nada em termos nominais em relação ao crescimento de 1% do Brasil. Então, convém relativizar isso. E muitos desses países latinos não têm previdência pública como nós, o que é um grande alívio para as contas públicas deles, mas um prejuízo ao bem-estar social que já foi percebido assim no Chile por exemplo e a Bachelet teve de prometer rever a privatização da previdência pública e do sistema de ensino universitário. O povo quer mais universidade gratuita e previdência social pública, serviços públicos que existem na Europa, por exemplo....

Então, o Brasil tem custos que países sem Forças Armadas ou Previdência Social Pública não têm. Mas esses custos com assistência e previdência social são necessários em um país que até bem pouco tempo tinha 40 milhões de miseráveis... hoje tem 6 milhões. Alguém publica isso? Só de forma totalmente apartada das contas públicas, percebe?

Então, senhores e senhoras, como de acordo com recentíssima conclusão da Ficht (grande agência internacional de rating), não publicada no Jornal O Globo, mas publicada no Jornal do Commercio, concluímos que a economia brasileira está estável e forte. Mas houve avanços sociais que exigiram e exigem gastos públicos. Esses gastos fazem com que o superávit primário diminua. E o que você quer? Avanço social ou superávit gigante? Mesmo com esse gasto, não há reversão do aumento de dívida pública líquida ou bruta de forma irresponsável. E só estamos no meio do ano para afirmar que mais superávit não será entregue.

E além disso, contribui para a baixa do superávit primário as desonerações tributárias que somaram 58 bilhões de reais ano passado e outros tantos ocorrerão esse ano. Então, há irresponsabilidade informativa e falta de honestidade nessas abordagens de que a baixa do superávit é por irresponsabilidade na condução da política econômica. Os erros ou ousadias do governo na economia estão em poucos e determinados pontos, como a questão elétrica, a questão da gasolina e a "contabilidade criativa" que toda empresa privada faz, mas que o governo percebeu que não pode fazer, ou seja, já é praticamente passado. Sem contar que a contabilidade do governo é pública e auditável pela oposição e pela mídia, como estão fazendo.

Então, e o crescimento baixo e a baixa taxa de investimento? Senhores, o mundo está crescendo menos. E as famílias brasileiras estão endividadas. A bolha imobiliária chega ao início de seu fim, inclusive com notícias em telejornais nacionais de que imóveis estão sendo devolvidos. Isso mostra que o cidadão chegou no seu limite e comprará e tomará menos empréstimo. Então é normal que a economia esfrie.

Além disso, não utilizando medidas macroprudenciais para não ser necessário elevar tanto a Selic para controlar a inflação, as empresas param de investir em produção e aplicam seu dinheiro em mercado financeiro, baixando a taxa de investimento. Então, seja por um mercado mais frio, interna e internacionalmente, seja por que a Selic é ótima e os juros reais os maiores do mundo, as empresas diminuem investimento e aplicam dinheiro na ciranda financeira. Isso baixa taxa de investimento.

Nesse quadro, em que a inflação ainda está na meta e em julho deve fechar em 0,17% - tendo índices como o IGP e o IGP-M apresentado deflação em dois meses seguidos - e em que as empresas não têm ambiente propício ao investimento porque se aumentarem a produção não terão para quem vender no Brasil ou no exterior, é normal que haja um pessimismo. A culpa não é do governo, no nosso ver.

O que poderia estar sendo exigido? O contrário do que o Banco Central está fazendo ajudaria: baixar juros e aumentar depósito compulsório teria o condão de aquecer a economia, pois não assusta os investimentos das empresas, sem criar dívida pública e sem facilitar demais o consumo, que hoje está no limite. De resto é esperar o mundo melhorar e passar o tempo para que as dívidas familiares vão sumindo à medida em que são pagos.

Apresentar oportunidades de investimentos ao mercado como concessões de ferrovias, aeroportos, portos, hidrovias, metrôs, trens e grandes obras públicas em geral são ótima medida para ativar a economia e em parte isso já está sendo feito, como todos podem ver. E em cima disto a mídia poderia informar para catapultar oportunidades de investimentos, alimentando um otimismo para mudar a trajetória de queda do PIB... mas há esse interesse na grande mídia? Não. Por quê? Porque o pessimismo antes da eleição é interessante para a oposição e para os centros financeiros internacionais, que podem manter pressão no Brasil por juros Selic altos, dentre outras sugestões de soluções, como retirar direitos trabalhistas brasileiros, facilitar terceirização de pessoa física (o que acabaria com o emprego que existe hoje e suas garantias obtidas após décadas de lutas socais - há projeto no Congresso com esse propósito.. pasmem), bem como perseguir e instalar o projeto de Estado Mínimo, em que todos os serviços públicos deveriam ser prestados pela área privada, já que ela, sim, seria eficiente.. rsrsrs

É claro que isso não tem nenhuma ligação com interesse por aumento de propagandas em jornais, que não existem tanto com serviços prestados pela área pública, ou com eventual interesse em a área privada conseguir zerar ao máximo os impostos no Brasil, privatizar a Previdência Social, e tornar cargos públicos acessíveis por currículo... rsrsrsrs

A verdade, senhores, é que a economia vai bem e está equilibrada, mas a "conjuntura econômica" não é favorável pelos motivos aqui expostos e o governo tem tentado melhorar a alavancagem de nosso pib, inclusive cortando impostos. As alterações de resultados previstos em orçamento público no fim do ano anterior devem ser acompanhadas e as contas públicas adaptadas (menos crescimento constatável, menos arrecadação..). Mas isso está longe de ser uma irresponsabilidade do governo. A mídia deveria falar algo mais verdadeiro sobre as causas do pessimismo para que pudéssemos discutir saídas reais, erros reais e medidas melhores. Mas a proximidade do pleito presidencial impede esta atitude.

O artigo ora criticado foi muito ruim no sentido de esclarecer o pessimismo econômico atual, suas causas e eventuais soluções.

p.s. de 05/08/2014 - texto revisado e ampliado.


5 comentários:

  1. Agora você tocou no ponto fundamental da questão, visto que, o PIB nunca foi mal e sim a apuração foi manipulada pelas entidades federativas dos setores produtivos. A guerra política sobre a informação está tão medonha que o IBGE está dividido e desde do ano passado se negam a trabalhar e apurar as estatísticas. A mídia coadjuva e o mercado faz suas exigências para gerar o cenário futuro. Digo cenário futuro pois quando se inicio a militância do caos econômico o Brasil estava bem nos índice, entretanto, pressionou-se a inflação como se fazia nas década de 80 e 90, assim, explica-se o prelúdio há dois anos passados quando Dilma anuncia a renúncia tributária em todos os itens da cesta básica e a representação do primeiro setor econômico informou que não repassaria o desconto ao consumidor e em alguns itens os preços seria até majorados.

    Quem viveu aquela época conhece bem como isso funciona, imprime-se a sensação direta inflacionária dentro dos supermercados, pois é necessidade básica e habitual.

    Segundo, sob justificativa da crescente inflação na economia, o mercado exige a subida dos juros básicos da economia para que a remuneração do crédito disponibilizado pelos bancos acompanhe essa expectativa, senão eles param de emprestar dinheiro barato para aplicar tudo no SELIC, ou seja, para continuar vendendo o produto tem que valer a pena. Era tudo que o mercado queria para detonar o governo com propaganda negativa e o BACEN caiu nessa, visto que ao aumentar o juros e o Tesouro remunera os títulos por essa base, aumenta-se os gastos do governo para pagar a dívida pública, e, consequentemente, retira-se o investimento na produção para inserir no SELIC. Se meu negócio tem prospecção de lucro for inferior, igual ou até mesmo um pouquinho superior aos 11% ofertados no Sistema Especial de Liquidação e Custódia, escolho a remuneração que me dará menor trabalho para administrar e maior rentabilidade.

    O maior revés para toda essa estratégia econômica se traduzia no PLENO EMPREGO. Era um paradoxo, tanta informação ruim e índice de desemprego ainda é o menor da história. Pô!! Empresário que não produz vai contratar pra quê? Vi economista alucinado (só podia estar sob efeito de entorpecentes) dizendo que a indústria só ainda não começou a demitir porque era muito caro reincidir contratos de trabalho....Putz! Perguntei amim mesmo... como esse cara tem emprego? Pelo nível de aptidão dele o índice de desemprego já poderia estar aumentando.

    Hoje, já estamos observando a diminuição de postos de trabalho e demissões em alguns setores, com a leniência e submissão da administração econômica. CADÊ O CHOQUE?

    O PIB não evolui maior como no governo Lula, já comentei no passado, devido a vinculação, por Lei, da base salarial entre a evolução do PIB mais a inflação apurada no ano anterior. Indexação da base salarial brasileira. Delfim comenta isso em todos os jornais e entrevistas. Na medida real, fazia o custo aumentar e o lucro diminuir gradativamente ao passar dos anos. O mercado apenas encontrou a fórmula para inoculá-la.

    DILMA errou em não se verter ao funcionalismo público federal e hoje eles jogam contra o governo. Ela está fazendo de tudo para não se reeleger. Seja BACEN, seja IBGE, polícias e judiciário. Em relação ao BACEN, por exemplo, posso te informar com propriedade, o SINAL (Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central) venceu a União e já transitou em julgado ação que a condena pagar uma bagatela de alguns milhões para cada funcionário, MAS NÃO PAGA. Mais de 20 anos de processo.

    O fato é que é preciso fazer o BRASIL fracassar para tirar os "PTralhas" (como muitos escrevem por aí) do governo. Não é minha opinião, mas é fato propalado!

    Desculpe-me eventuais erros, escrevi rápido demais impulsionado pela emoção! É assim que o Blog me motiva. Momentos de pura emoção.
    Abraços amigo! Eleições se aproximam, retroceder jamais!!!

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  2. Grande Fábio! Não vou abordar tudo o que você disse. Vou comentar que, sim, há um esforçoda mídia de mercado (grande mídia) para alimentar pessimismo e tentar ajudar a catapultar a candidatura da oposição. O que, devo dizer, seria legítimo se ela fizesse como na Inglaterra e EUA e declarasse apoio à oposição. Mas eu creio que os valores no supermercado não são manipulados apra induzir uma falsa sensação de inflação maior. Alimentos são produtos mais sensíveis mesmo e as pessoas não podem confundir somente a oscilação do supermercado ou, pior, de seus produtos preferidos nas gôndolas de supermercado com o índice oficial e muito mais amplo de inflação. Mas isso é difícil para as pessoas comuns.

    E assim é difícil não haver essa sensação de inflação maior do que a captada pelo índice oficial. Imagina só se excluíssimos alimentos e combustíveis como os EUA fazem?!?! Rsrsrsrs

    A questão dos juros do Banco Central também achamos que está mal conduzida, não exatamente como você disse dessa vez, mas porque simplesmente não há congruência entre nossa estrutura financeira e orçamentária em relação a nossos juros , se comparado com a estruturação financeira e orçamentária dos EUA e Europa e os juros que lá praticam.

    Além disso, o uso de depósito compulsório pelos chineses como forma de controle inflacionário e incentivo a investimentos bancários de atividades econômicas de grande envergadura , muito risco e pouco retorno poderia ser usado aqui e não o é. O motivo é, a nosso ver, sim, uma saudável independência do Bacen em relação ao governo e uma doentia submissão do Bacen em relação aos interesses remunertatórios de juros selic pelo mercado financeiro nacional e interncaional.

    Com relação a "retroceder, jamais", nós concordamos se isso se refere à forma de condução de políticas de diminuição de desigualdade social e regional, manutenção de responsabilidade orçamentária e fiscal, controle da inflção com foco em crescimento econômico e geração de emprego e respeito à liberdade econômica e à democracia. E hoje, quem apresenta esse conjunto de posturas melhor, ao nosso ver, ainda é o PT, mas Eduardo Campos também, o PSDB está adaptando sua plataforma... a questão não é fecahda para sempre no PT e primamos mais pelas propostas de governo do que por um ou outro partido.

    Forte abraço! É impossível não ocomentar seus comentários! Rsrsrs

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Em tempo, Mário, objetivo do primeiro comentário foi justamente o que de início você reconheceu, é para apenas deixar claro como observo a campanha de alguns seguimentos de produção em conduzir o viés eleitoral. O que disse não é especulação, tenho escutado muito isso no ambiente que transito. Há uma cartilha tácita e ideológica do que deve ser dito e propalado, e, que não se deve evidenciar nunca. Obviamente, todo o aspecto negativo da economia e suas estatísticas desfavoráveis.

    Nunca, nem no comentário, quis dizer que pressiona a inflação está somente no supermercado, apenas quis ilustrar que o supermercado é um panfleto oportuno (para alcançar diretamente quem vota) o que será defeso pela mídia, justamente, pela sensibilidade imediata. No índice da inflação, é evidente que o que pesa são os serviços, que correspondem aproximadamente 70% do PIB, cujo aspecto positivo extrai-se disso o fomento, a grande demanda em contratá-los, algo que era bem menos alcançado por pessoas no passado. Nem sempre a inflação é um mal orientador da economia, no aspecto financista, como agora tentam explicar a baixa produção, justificando o alto custo do país, por isso, se desorienta a questão de se prejudicar o crédito em razão do endividamento popular. Esse critério é bancário e não de Governo.

    Toda essa perspectiva doutrinária de uma aristocracia produtora se demonstrou numa matéria superveniente as minhas declarações do comentário acima, quanto ao comando dado nas internas dessa cadeia, e no dia seguinte o jornal "Brasil Econômico" publica o seguinte:

    http://brasileconomico.ig.com.br/brasil/politica/2014-08-04/o-que-pode-derrubar-a-dilma-e-a-economia-diz-paulo-kramer.html

    E é esse o "mote" panfletário que se trabalha nas duas pontas, quando se define as diretivas da postura da sociedade produtora já pensado como trabalhará a mídia quando colher o resultado dessa ação. O trabalho é conjunto. É uma arquitetura. A primeira financia a segunda ponta.

    Mais uma vez, hoje, ocorreu algo que ratifica esse "documento": Houve um discurso dos três principais presidenciáveis na CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil) e um tal candidato mencionou tudo que aquele seguimento queria ouvir (!?) e foi o único que foi aplaudido. Já estava no programa, certamente, não estavam lá para ouvir mais ninguém.

    Contudo, olhemos sempre à frente, visto que os resultados das "derrotas" recentes ainda são valores relativamente mais bem sucedidos do que a experiência do passado recente. Abraços!

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  5. Corretíssimo Fábio. Feito seu apontamento! Valeu por mais essa intervenção. Espero que tenha gostado dos nossos vídeos no Youtube. Procure o canal Perspectiva Crítica Oficial!! Acesse:
    Ditadura Estatal ou Ditadura econômico-financeira? A corrida pelo desenvolvimento social. https://www.youtube.com/watch?v=nvvQAdjsp0o.

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