domingo, 14 de agosto de 2016

Análise Política e Econômica do Governo Interino de Temer - Agosto/2016

É importante que se faça uma análise sobre os principais temas ligados ao governo interino de Temer, para vermos para onde vamos. E, neste momento, já há alguma massa de dados e atos que tornam possível essa análise.

Legitimidade

O governo Temer iniciou com o afastamento da Dilma Roussef, após a autorização da Câmara dos Deputados para que processo de impeachment fosse ao Senado e houvesse o julgamento de crime de responsabilidade, em especial referente a crimes orçamentários: financiamento de governo por bancos oficiais e emissão de decretos com gastos não autorizados pelo Congresso.

A par dos questionamentos em torno de se tais fatos são ou não crime de responsabilidade, tema que já foi objeto de artigo no Blog, o STF reputou legal todo o procedimento. Nós também entendemos que é legal. Logo, não há golpe, apesar de a oposição ter trabalhado muito para que isso ocorresse. Sendo dentro das regras constitucionais, está tudo certo. É para isso que elas existem.

Claro que a Dilma ter incidido em outros dois crimes de responsabilidade após a deflagração deste impeachment, quando Lula foi conduzido coercitivamente a testemunhar em investigação criminal, ajudou muito a erodir a legitimidade de Dilma e refletiu, cremos, na maior facilidade em continuar o processo de impeachment, que tinha outro fundamento. Mas isso não é ilegal. Isso é ambiente político que influi no processo de impeachment.

Se o mundo fosse perfeito, os crimes orçamentários não gerariam, por si só, o impeachment, mas criariam parâmetros mais definidos sobre o que pode o Presidente fazer ou não no tema "atrasar transferências de verbas públicas obrigatórias e assistenciais aos bancos do governo" e no tema "expedição de decretos para gastos acima do orçamento autorizado em lei"; e a Dilma responderia a novo processo de impeachment sobre os crimes de responsabilidade de nomeação do Lula Ministro, para fugir do Juiz Natural de sua causa (Sérgio Moro) e por pegar avião presidencial para fins particulares (visitar Lula em São Paulo porque foi conduzido coercitivamente a depor).

Nestes dois casos, ela incorreu materialmente em crime de responsabilidade, sem dúvidas, para o Blog Perspectiva Crítica. Mas a pergunta é: isso seria o melhor para o País? Não. E aí está a vantagem do processo de impeachment ser político e não somente jurídico. Da forma como ocorreu, para nós, está ocorrendo o melhor para o País, punindo-se os excessos orçamentários, já tornados parâmetros para outros governos, ao mesmo tempo em que se resgata um rumo de governo que estava perdido e com encaminhamentos econômicos equivocados, desde ao menos o segundo semestre de 2013, e, ainda, foi legal e justo, pois se ela não incidiu nos crimes orçamentários, porque até então não havia parâmetros fixos e objetivos quanto aos temas, sendo, inclusive o crime de expedir decretos além do orçamento algo comum até então, para nós ela incidiu nos dois crimes de responsabilidade posteriores e tinha de sair.

Então, o Temer ser presidente interino é legítimo.

Há o risco de ele ser afastado, caso o Tribunal Superior Eleitoral julgue que verbas desviadas da Petrobrás tenham financiado a campanha da chapa Dilma-Temer de 2014. Aí o problema é posterior ao atual momento. Se isso ocorrer a chapa será cassada e Temer será afastado. Aí, sim, parece que a regra constitucional determina novas eleições. E somente então as novas eleições, que foram pedidas pelo PT e Dilma sem qualquer legitimidade procedimental constitucional, seriam legítimas. Até lá, Temer é o presidente interino legítimo.


Economia

É importante que se diga que muitos fatores econômicos positivos atuais já estavam contratados desde o início desse ano de 2016, como falamos desde então. Os juros de 14,25% há meses e meses estão mantendo emprego baixo e atividade econômica baixa, baixando a inflação que pode terminar o ano em 6,5%, quando o mercado chegou a falar em 7,8% e até mais no início do ano.

Este ano não teria correção de gasolina em 50% e nem de energia elétrica em 50%, como houve em 2015, então já dava para ver que não haveria inflação em níveis de 2015, em 10,33%. E mais: com juros altos, atrai-se dólar para este país que paga 7% (talvez até 8%, dependendo da inflação deste ano) de juros reais, enquanto na Europa e EUA esse índice é negativo e a média dos emergentes é de pagamento de 2,5% de juros reais, mesmo para aqueles em guerra. Dólar entrando, é sinônimo de baixa de valor de dólar e, consequentemente, pressão de baixa de inflação.

Além disso, o dólar alto no início do ano alavancaria a exportação, como o fez, e isso pressiona a baixa do dólar no mercado interno, o que também gera a pressão de baixa de inflação. Mas não só isso. O dólar também entrou farto pelo lado do investimento, indicando, nos últimos 12 meses, 80 bilhões de dólares em investimento estrangeiro direto (IED), quando a média dos últimos 10 anos foi de 60 bilhões de dólares.

Nossa estrutura econômica não parece desgovernada e falha da forma como a grande mídia apregoava, porque, senão, não viriam mais 20 bilhões de dólares acima da média normal em investimentos de longo prazo e de alto nível.

Os estrangeiros viam que o problema econômico era passageiro, como está sendo e tudo isso já estava contratado antes de 2016. Então, é importante concluir que o Governo Temer não foi mágico, mas é claro que deu novos ares para um ambiente político constirpado e que dá mais ânimo ao mercado, mas as melhoras econômicas já estavam contratadas desde o início do ano e antes.

É necessário creditar-se ao Temer, no entanto, sua disposição em respeitar mais parâmetros de mercado, respeitar seu Ministro da Fazenda (ortodoxo tanto o quanto possível) e iniciar de fato desfazimento de medidas anticíclicas que a Dilma não queria desfazer. Isso fez também uma boa diferença, mas muito mais prospectiva do que dos resultados imediatos econômicos.

Veja que juros a 14,25% já havia há meses, com Dilma no governo, inclusive. E as medidas de aumentar gasolina e energia elétrica em 50%, revendo o sistema de subsídio da energia elétrica foram medidas também de Dilma no ano de 2015. O maior erro de Dilma, nesta seara, foi não desfazer, a partir do segundo semestre de 2013, mais seriamente as medidas anticíclicas adotadas desde 2009.

Ela não o fez porque havia as eleições no segundo semestre de 2014. Tudo bem. Mas depois disso teve a chance de desfazer as medidas anticíclicas e mesmo assim não as desfez em quantidade e velocidade adequadas, aí ela errou feio e se comunicou mal com a sociedade em relação a isso. Desfez, no entanto, medidas básicas (energia elétrica e gasolina), sem influir na taxa de juros, o que contratou em grande parte a melhora que ora ocorre.

Já o governo de Temer está enfrentando esses problemas (desfazimento de medidas anticíclicas, respeito ao tripé econômico - câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário - e cortando custos e gastos públicos - revendo benefícios assistenciais e previdenciários)  e corrigindo melhor isso, se comunicando melhor com o mercado, com o Congresso e com a sociedade.


Política

O governo Dilma era de centro-esquerda. O governo de Michel Temer é de centro-direita. Governos de direita cortam o social, assistência social, direitos trabalhistas e de servidores públicos, direitos previdenciários, privatiza tudo o que puder, baixa tributos e nunca mexem em interesses de ricos e bancos. Governos de esquerda têm tendência em aumentar tributos, gastar mais com o social e assistência social,  proteger direitos trabalhistas e de servidores públicos, aumentar o salário mínimo e não se importam em mexer em interesses de ricos e bancos.

Então veja, o governo do Temer reconheceu direitos ao reajuste inflacionário a categorias do serviço público e cumpriu acordos nesta área, mesmo com toda a mídia e o mercado contra tais medidas. Isto não é típico da direita, a qual, se pudesse, demitiria todos os servidores públicos e nunca reconheceria direitos remuneratórios neste momento ou em outro. E o governo do Temer também aumentou o Bolsa Família. Isso é aumento de gasto social em meio à crise. Essas duas medidas foram medidas importantes de Estado, são apoiadas pelo Blog Perspectiva Crítica e são medidas típicas de esquerda. É por isso que o governo se descaracterizou como sendo de direita e evidenciou ser de centro-direita.

No seu viés de direita, o governo Temer está mantendo juros altos, mesmo que cause desemprego e pouca atividade econômica (ou atividade abaixo do potencial do Brasil), priorizando o controle da inflação acima de quase tudo. Não sugere alterações em impostos sobre grandes fortunas, apesar de iniciar incipiente um debate sobre aumento de direito sobre heranças. Na França, grandes fortunas podem pagar 40% de imposto e no Brasil é sempre 4%, por exemplo. Nos EUA esse imposto pode chegar a 77%, segundo o site do Francisco Dornelles informou há muitos anos.

Além disso, no governo Temer estão se discutindo várias medidas que prejudicam o trabalhador e aposentado. Aproveitando-se o ar cataclísmico alimentado pela grande mídia, desde ao menos julho de 2015, o governo Temer está avançando o projeto de Lei que regula as terceirizações em termos que torna a CLT letra morta. Um crime. Quer transformar as negociações em dissídios coletivos superiores às leis trabalhistas, o que, pouco a pouco pode acabar, categoria trabalhista por categoria trabalhista, com os direitos de todos os trabalhadores. Isso é um crime contra os trabalhadores e seus direitos e é pauta do governo Temer. Essas são medidas de direita.

Só um comentário sobre essas medidas liberais que segundo a mídia progridem a sociedade e a economia: você lembra do "Cadastro Positivo"? Os bancos exigiram isso para que os juros baixassem para os tomadores de empréstimo que tivessem cadastro como bons pagadores. Os bancos ganhavam acesso irrestrito a avaliar sua vida financeira, mas você que paga todos os seus empréstimos teria juros melhores e tudo baixaria. Aconteceu de baixarem juros depois da aprovação do Cadastro Positivo? Não. Mas os bancos podem vasculhar sua vida financeira e oferecer mais produtos financeiros para você. Você perdeu privacidade e sigilo e não houve benefício efetivo nenhum. Isso é o que acontecerá com todas as medidas para diminuir direitos trabalhistas em troca de empregos. A eliminação dos direitos trabalhistas não garante que todos ficarão empregados porque a economia é cíclica e, a cada ciclo ruim, os trabalhadores perderão mais e mais direitos até não terem nenhum. Isso é o que ocorrerá com acordos sendo superiores a leis trabalhistas e com a regulamentação da terceirização incluindo a atividade fim.

O governo Temer também tomou medidas de controle de gastos, impondo limite de aumento de gastos públicos dentro dos parâmetros do IPCA. Essa medida de austeridade combina mais com governos de direita, mas é uma medida que hoje se demonstra acertada, infelizmente, mas para os próximos cinco anos no máximo, pois a economia pode passar a crescer e aí o crescimento da máquina pública para atender mais os cidadãos brasileiros poderia aumentar acima da inflação, caso a arrecadação pudesse comportar tais gastos. Então, essa medida não é ruim, mas seria pactuada para dez anos. Houve quem defendesse 30 anos. A grande mídia e o mercado querem para sempre. Essa medida, atualmente, é de centro-direita, portanto, por excesso de prazo.

A negociação das dívidas dos Estados também é medida importante de austeridade e necessária, mas o governo Temer não está sendo insensível às necessidades dos Estados. Então, a medida não é totalmente de direita, mas de centro-direita. Temer pretende deixar uns gastos dos Estados ocorrerem, se eles se comprometerem a baixar custos e gastos públicos. O Blog apóia a ideia da medida. Vamos ver como será feito.

Temer propõe ajustar a Previdência, flexibilizando direitos, dentre os quais o principal é aumentar o tempo de serviço necessário para se aposentar. Flexibilizar direitos previdenciários são medidas de direita. Mas no caso do tempo de contribuição, há que se reconhecer que se o brasileiro vive em média 72 a 76 anos, ter um sistema que possibilita que se aposente com 50 e poucos anos é inviável (na área pública não existe aposentadoria regular de servidores antes dos 60 anos de idade, por exemplo), ainda mais com a pirâmide etária do Brasil se alterando, diminuindo jovens que trabalham e aumentando idosos que se aposentam. Não se fala em privatizar a Previdência Pública, o que uma direita clássica adoraria. Assim, mexer na Previdência, em especial no tempo de serviço e idade mínima de aposentadoria é essencial. Essa postura neste tema demonstra o viés de centro-direita.

As medidas de gestão estão boas, em geral. E passar pente-fino em benefícios assistenciais e previdenciários deveria ser a praxe sempre, mas ao menos está sendo feito e gerando corte de custos. Endurecer as condições para concessão de benefícios, rever algumas medidas sociais também não é ruim, especialmente diante da importância de outras e de baixos retornos par o investimento social. Mas o correto era que fossem apresentados os parâmetros de retorno social de todas as medidas, para se chegar a veredito perfeito sobre qual se deveria cortar e qual não se deveria cortar. Isso é mais importante do que simplesmente atacar a máquina pública e servidores, trabalhadores e aposentados. Incluímos como essencial medida de gestão a fiscalização e investigação de todas as atividades licitatórias ou de desvio de materiais na prestação de serviço médico público, área que hodiernamente está sendo investigada e já traz parciais resultados positivos.


Conclusão

O governo de Temer, portanto, é legítimo e de centro-direita. Está ajudando na retomada econômica, mas ela já estava contratada desde antes de 2016. Foi correto em acertar contas com servidores públicos que não viam correção inflacionária há anos.  E foi justo em aumentar o Bolsa Família também, porque o custo do programa é muito baixo para o benefício que traz e ainda ajudou na sustentação política de seu governo. Também está correto o governo Temer em inverter a lógica de atuação de fomento econômico anterior, pautado em mero incentivo ao consumo e absoluta principiologia licitatória, calcada em modicidade tarifária, prejudicando o retorno das explorações de concessões e, assim, o sucesso de algumas licitações e o apetite da área privada. Mas é visível que é um governo que está atento a não prejudicar ricos e bancos sem pena de cortar direitos trabalhistas e previdenciários.

É bom que se diga que, como estão acabando os efeitos negativos sobre a economia, este é o momento de a direita obter tudo o que puder contra direitos trabalhistas e previdenciários. Aí, depois de conseguido o prejuízo nestes direitos, se fosse por agora, como a economia está melhorando, se dirá que foram essas alterações nos direitos de trabalhadores e aposentados que possibilitou melhora da economia, até o próximo ciclo de baixa econômica, que certamente ocorrerá depois desta fase de melhora que já se instala. Então, com a aparente lógica e legitimidade das "medidas de cortes de direitos para melhoras da economia", se exigirão mais cortes de direitos trabalhista e previdenciários.

É uma eterna guerra nesse sentido. Você tem que entender seu lado nesta batalha e entender como realmente a economia flui para não ficar refém dos argumentos de que financistas e monetaristas apresentam. Eles sempre quererão acabar com direitos de trabalhadores e aposentados e transformar todos em voluntários ou em terceirizados, para que todo o serviço público seja prestado por eles (empresários, financistas e monetaristas) e que os valores pagos a servidores públicos e trabalhadores (direitos trabalhistas e previdenciários) sejam ou transformem-se em renda para o mercado.

Fique atento. A França e Alemanha enfrentaram a crise de 2008, muito pior e mais longa do que a nossa, sem grandes perdas de direitos trabalhistas e previdenciários. Façamos o mesmo.

E que o governo Temer continue até que o TSE se pronuncie. Que aconteça o que deve acontecer, mas sempre respeitando a Constituição. Só assim trilharemos o caminho da institucionalidade, que dá segurança e paz social. Fora das regras constitucionais, com apelos de "novas eleições" sem previsão constitucional ou de plebiscitos, como os da Venezuela, iremos mal.

E sobre plebiscitos, a saída da Inglaterra da Zona do Euro já demonstra os potenciais perigos de plebiscitos. Eles são imprevisíveis e em um país educado como a Inglaterra deu no que deu!!! O prejuízo econômico da Inglaterra é incalculável.

Assim, sem "gambiarras" e "jeitinhos" em nossos procedimentos, por favor. Sigamos a Constituição e estaremos sempre bem.

p.s. de 14/08/2016 - Texto revisado e ampliado.

p.s. de 15/08/2016 - Texto revisado e ampliado. Para complementar a análise econômica resumida sobre o governo Temer, vale a pena ler nosso artigo "Análise Econômica Interna e Externa" de abril de 2016.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Notícia Confirmada 6 anos depois: países ricos e desenvolvidos têm até três vezes mais servidores públicos do que o Brasil



Após mais de 6 anos publicando que o número de servidores públicos no Brasil não é excessivo e é até três vezes menor do que países ricos e de IDH elevado, somente agora, em 05 de agosto de 2016, outra mídia publica tão claramente a mesma coisa.

Congratulamos a Infomoney por, depois de muito atraso em relação ao Blog Perspectiva Crítica, publicar essa verdade que combate uma das maiores mentiras propaladas pelo mercado e pela grande mídia no Brasil: a mentira de que o serviço público brasileiro é inchado.

Acesse o artigo intitulado "Funcionalismo Público no Brasil: um gráfico para mudar sua visão - Você acha que o Brasil tem muitos funcionários públicos? Espere para ver o gráfico do Terraço Econômico!", em http://www.infomoney.com.br/blogs/terraco-economico/post/5406420/funcionalismo-publico-brasil-grafico-para-mudar-sua-visao

E depois veja nossos artigos publicados neste sentido desde 2010, tais como:

1 - "OCDE comprova: países de maior IDH e ricos têm até três vezes mais servidores públicos do que o Brasil" (2014)

2 - "Conflito de interesses - grande mídia x sociedade x serviço público" (2010)

3 - "Email de amiga: os excessos de contratação e salário prejudicam a imagem do serviço público" (2010)

E muitos outros. É só procurar no Blog pelo tema "servidor público", "administração pública", "serviço público", "quantidade de servidores".

Observe no gráfico atualizado do Infomoney (gráfico de 2015) que enquanto a média de funcionários públicos em relação a todos os trabalhadores dos 33 países da OCDE é de 21 servidores em 100 trabalhadores, o Brasil tem 12% de seus trabalhadores no serviço público, tendo a Dinamarca 35%, Noruega 35%, Suécia 28%, Reino Unido 23%, Média dos Países da OCDE 21%, França e Canadá 20%, Austrália e Suíça 18%, Itália e Espanha 17%. Faltaram ao menos as informações sobre EUA e Alemanha.  Nossa informações são de que EUA tenham ao menos 15% a no máximo 22% de servidores públicos em toda a economia e que a Alemanha tenha 18% (dados de 2011).

A conclusão superficial do articulista da Infomoney é de que isso talvez signifique uma maior intervenção do Estado na economia desses países  "para absorver pessoas que não puderam encontrar emprego por falta de dinamismo na economia" (citação livre).

Olhe o trecho que selecionamos:

"No entanto, o percentual maior de servidores públicos nos países europeus pode demonstrar justamente uma maior intervenção do Estado na economia no sentido de prover empregos para uma massa de trabalhadores que não é absorvido pelo setor privado, devido a uma série de fatores, como por exemplo, o próprio desenvolvimento da economia."

Agora observem. Pelo menos não se discute mais em relação ao fato de nos países europeus, com os maiores IDH do mundo, haver mais servidores públicos do que o Brasil. Só que vejam a justificativa: é para enxugar os trabalhadores que não encontraram emprego na área privada!!!! AHAUHAUHAUHAUHUAHUAH (Ex. Ah, não pude me empregar como advogado na França, vou ser juiz ou promotor de justiça... são comediantes!)

E mais: dentre um dos fatores para essa falta de absorção dos europeus que não puderam ser empregados da área privada está o pouco dinamismo da economia desses países. Isso falando-se de países que têm índice de dinamismo econômico muito superior do que o Brasil e um dos melhores do mundo como França, Canadá e Reino Unido!!!

Realmente é uma piada a análise de fatos que chegam a nós pelas outras mídias. Como a publicação é do Infomoney, cremos que não se pode publicar algo contrário às razões e crenças de mercado e aí sai isso.

Não é ponderado que há pessoas que têm vocação para o serviço público, além de outras que preferem uma vida sem sobressaltos e riscos, mas o pior de tudo é o seguinte: NÃO FOI PONDERADO QUE MAIS SERVIDORES NA ECONOMIA É UMA MEDIDA QUE FUNCIONA!!!

Eu pergunto a você, que mal há em ter mais servidores na economia se vários países mais ricos do que o Brasil demonstram que isso, ou,  para os céticos de mercado, apesar disso, essas economias conseguem dar mais assistência social a seus cidadãos, escolas públicas gratuitas de qualidade, hospitais públicos gratuitos de qualidade? Esses países têm mais servidores públicos, mais bem pagos  do que no Brasil e seus habitantes não reclamam do serviço público e economizam com planos de saúde e escolas a seus filhos. E esses países têm mais dinamismo em suas economias do que o Brasil!!!!

É o que publicamos há anos e anos... não há estudo ou publicação de estudos no sentido de qual o real valor de desenvolvimento em se investir em serviço público. Um bom servidor público colocado em posição estratégica enriquece o Estado, a área privada e os cidadãos do seu país. O serviço público é um alavancador de desenvolvimento, como o foi na Europa após a segunda guerra mundial em que não existia quase emprego privado e como o foi no crack da bolsa de Nova York em 1929 nos EUA e ainda o é hoje, como mostra o quadro acima.

E ainda há uma inversão de valores na conclusão do ilustre colega do Terraço Econômico: não é o trabalhador que não encontrou emprego na área privada que vai para a área pública, mas é o salário da área pública que, em parte razoável, ainda mais nos países europeus, sustenta a existência de empregos privados, eis que tais salários e servidores criam demanda por produtos e serviços em sociedade, gerando empregos.

E isto assim se dá principalmente em momentos de crise, eis que enquanto a área privada demite para se adequar a uma situação adversa, o Estado não pode deixar de prestar serviços públicos e mantém os servidores que continuam ganhando seus salários e comprando produtos e serviços em sociedade.

Foi pouco publicado, mas um dos maiores motivos para na crise de 2008 a Alemanha e França sofrerem menos em sua queda de produção e PIB foi o fato de terem muito servidores públicos em suas economias. Isso foi tímida e rapidamente publicado. Mas nós vimos. E publicamos também.

Ou seja, o servidor público europeu não existe porque é um pária que não encontrou emprego na área privada, mas, pelo contrário, contribui intensamente para que os empregos da área privada existam e se desenvolvam.

Apesar dos comentários e conclusões preconceituosos contra servidores, o artigo foi ótimo em denunciar o que apontamos há anos e anos: o Brasil tem menos servidores públicos do que europeus e países com maior PIB, com maior IDH, com melhor crescimento relativo (comparando esses dois últimos anos), com mais dinamismo econômico, com inflação menor e com menor desigualdade social.

O Blog Perspectiva Crítica o convida a se independer dos mantras de mercado contrários aos servidores públicos e serviço público e a passar a questionar por que em países com maior IDH e ricos há mais servidores por habitante do que no Brasil e a prescrutar as reais vantagens e desvantagens de investirmos em serviço e servidores públicos a bem de nossas famílias e do país.

E fique ciente de algo que nem a grande mídia e nem o mercado quer que você, leitor e cidadão, saiba. O Bom Serviço Público, ou seja, o serviço público adequado em número, salário, plano de carreira, de acordo com a demanda de seu país, e com gestão profissional, esse Bom Serviço Público gera oportunidade de emprego a você e sua família, mas não só.

Um Bom Serviço Público ao gerar oportunidade de emprego de qualidade em sociedade cria concorrência pela sua mão-de-obra com a Área Privada que será obrigada a aumentar os salários e benefícios oferecidos aos melhores trabalhadores para mantê-los na área privada. Mas não só. Além de puxar o salário da área privada para cima, um Bom Serviço Público, com bons salários, atrai bons candidatos ao cargo público e que, ao tomarem posse, serão bons servidores com capacidade elevada de prestação de serviço público. Claro que também depende da gestão, como em qualquer empresa, mas esperar bom serviço de pessoas mal remuneradas e sem plano de carreira é piada.

E se houver esse ambiente favorável há mais uma vantagem: pode-se almejar que a boa prestação de serviço público torne desnecessário pagar escola para filhos e plano de saúde para se ter educação básica de qualidade e assistência médica gratuita de qualidade, como ocorre na Europa!!!! Investir em Bom Serviço Público é o melhor meio de se garantir retorno pelo imposto pago, além de valorizar a mão-de-obra do brasileiro e nos aproximar do nível de vida europeu.

Acompanhamos e acompanharemos você nessa jornada! E teremos a vida no nível europeu que o Brasil e os brasileiros merecem. Queiram a mídia e o mercado ou não.

p.s.: Texto revisado e ampliado.

p.s.2: Esse texto só foi possível a partir do envio do artigo criticado/comentado pelo meu amigo Fernando Pinheiro, o mesmo que criou tecnicamente este Blog e torna possível essas 861 publicações, em mais de 6 anos de vida do Blog Perspectiva Crítica. Além de ter contribuído para a plataforma deste canal de mais de 228 mil acessos por mais de 40 países, Fernando eventualmente colabora com críticas e, agora, com essa fantástica matéria. Obrigado, Fernando. Abs