É, senhores e senhoras... não há mais dúvidas. A decisão de aumentar em outros 0,5% o juros Selic pelo Copom em 10/07/2013 evidencia que a postura do BACEN agora é outra daquela inaugurada em julho de 2011 e que estava em vigor até a reunião de 29/05/2013, quando houve o primeiro aumento de 0,5% na Selic de 2013.
O Bacen pós julho de 2011, que baixara juros contra a vontade do mercado e proporcionou crescimento econômico e geração de emprego durante dois anos praticamente, com inflação controlada (dentro da meta cheia), não é o atual, apesar do Presidente ser o mesmo. Agora, desde 29/05/2013 o Bacen está preocupado com as manchetes de jornais e com o que o mercado vai falar de sua atuação e coisas do gênero.
O aumento de 0,5% foi totalmente desnecessário!!! Quero deixar isso claro e isento de dúvidas: o Bacen está aumentando juros quando o IPCA vem caindo desde janeiro de 2013 até junho e com previsão, mesmo antes do aumento de juros de 10/07, de mais queda do índice IPCA para julho!!
E o que significa isso? Bem, Mantega e Dilma, o comércio e as indústrias devem estar irados e a oposição, bancos e instituições financeiras felizes da vida. Até o fim do ano, o crescimento previsto em 2,5% pode não chegar a 2% com juros de 8,5% e já previstos novos aumentos pela evidente alteração de comportamento do BC. O desemprego começa a ficar aparente na janela do trem Brasil que agora andará bem mais devagar, quando já estava diminuindo velocidade com juros a 8% e a maior safra da história do País chegando às gôndolas dos supermercados.
E qual a justificativa? Bem, como não há pressão efetiva interna ou externa para a inflação que já caía, o BC não pode dizer que o aumento seria para baixar inflação ou manter tendência de inflação baixa, pois isso, para quem acompanha, já ocorria. A inflação deste ano já seria menor do que a do ano passado.
Fica evidente, portanto, que o Bacen adotou postura ultraconservadora com foco recente em alcançar o quanto antes o centro da meta de 4,5%. Parece que não quer mais saber de entregar o centro da meta somente no fim do ano, mas intenta fazê-lo durante todo o ano, para que não tenha mais notícia de que "somados os últimos doze meses a inflação ficou acima do centro da meta".
Parece também que o fato de o Governo estar pressionado por gastos pelas demandas sociais apresentadas nas manifestações históricas e espontâneas de talvez dois milhões de pessoas pelo Brasil (somatório de todas as manifestações por todos os dias em que ocorreram no Brasil - ninguém apresentou esse número final que pode ter sido em torno de um milhão) gera a presunção de aumento de gastos pelo governo e portanto pressão inflacionária que deve ser contida. Mas isso é presunção, pois Mantega prometeu entregar 2,3% de superávit no fim do ano e é bem possível, pois 15 bilhões de reais podem chegar somente via licitação de Libra (campo gigante de petróleo na Bacia de Santos). O dólar que aumenta também é fator que deve ter alguma pressão inflacionária, mas quanto?
De todo lado que você olha, os fatos são deflacionários e a tendência do IPCA é declinante e indicava que não seria necessário aumento de juros para manter tendência deflacionária que já existia. O que justifica aumento de juros é mudança de foco do BACEN de manter tendência de baixa inflacionária para efetuar baixa ao centro da meta inflacionária o quanto antes, aliado ao combate a presunções de pressões inflacionárias. Os motivos para alta de juros são todos presunções: presunção de que o governo não entregará o superávit, presunção de que o governo manipulará dados fiscais sobre dívida, presunção de que a fuga de dólares implicará em inflação. Mas e todos os fatos deflacionários?!?!? Inclusive licitações de campos de petróleo que atraem dólares, desonerações de investimentos estrangeiros produtivos ou financeiros, safra recorde cegando às mesas, famílias brasileiras baixando consumo?!?!
A fuga de dólares, que ocorreu no mundo todo, fez o BACEN queimar muitos dólares? Sim. Mas quanto? 30 bilhões de dólares? Em 375 bilhões? Menos de 10% das reservas? (ver p.s. abaixo) Isso é motivo para já amarelar e subir juros para atrair dólares?!?! Ainda mais com previsão de licitações de portos e campos de petróleo que sozinhos atrairiam bilhões de dólares?!?!
E ontem o mercado ainda descobriu que a idéia que se tinha de que o FED pararia de injetar 85 bilhões de dólares por mês na economia americana não se concretizará... rsrsrs quer dizer, os dólares voltaram a circular e investidores a voltarem para as bolsas... nada a ver com o aumento do BACEN!!
Parabéns Mercado!!! Agora o Bacen é do time do Mercado e não mais dos brasileiros e do País. Os lucros de bancos crescerão. Dinheiro no mercado que poderia ir para investimento produtivo agora é atraído para investimentos financeiros. A poupança que há meses já atraía bilhões e bilhões de reais, atrairá mais. O crescimento econômico irá para o saco e a partir de hoje, senhores... a criação de empregos que estava em 150 mil por mês em média, pode começar a chegar a 30 mil. O desemprego começa a se avizinhar no segundo semestre de 2013.
Acompanharemos esse Turn Point do Bacen e suas consequências para a vida do brasileiro.
Na China, inflação é combatida com medidas macroprudenciais, sem elevar juros ou dívida pública. Aqui, a primeira coisa a ser usada é o juros... que crime contra o interesse público. E o pior é que não dá pra tirar o Tombini porque senão parece (e seria, mas a bem do País) intromissão do Governo na política monetária.
Exagero, ultraconservadorismo e até burrice e non sense, para não se admitir má-fé e comprometimento com lucros de bancos, são as palavras que cabem à alta da Selic em 0,5% procedida pelo BACEN em 10/07/2013.
p.s. de 13/07/2013 - corrigimos o percentual indicado erroneamente de 1% de queima de dólares das reservas cambiais para 10%. A explicação se encontra nos comentários abaixo. Importante a questão atual de queima de dólares de reservas cambiais para manter valor de dólar. A questão do valor do dólar e da fuga maciça de dólares do País é a grande questão fática que justifica aumento de juros hoje.
p.s. de 19/07/2013 - Uma pesquisa rápida em artigos de jornal confirma o uso de ao menos 8 bilhões de dólares para conter o dólar entre junho e julho de 2013 em apenas 4 dias, (11, 12 e 20 de junho e 18 de julho), motivo pelo qual estimamos um gasto de 30 bilhões de dólares para os dois meses, até hoje, para analisar o impacto da adminstração da banda cambial nas reservas externas. Veja por exemplo http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-06-20/bc-injeta-quase-us-3-bilhoes-nesta-manha-para-conter-alta-do-dolar
Pessoal, não estou podendo corrigir o texto agora, então faço este comentário. Gasto de 30 bilhões de dólares das nossas reservas de 375 bi dólares não são menos de 1%, mas sim menos de 10%. Esse detalhe é importantíssimo e ainda nã terminei de conferir. Quanto foram gastos nos últimos dois meses das reservas que tinham ultrapassado a marca histórica de 400 bilhões de dólares?
ResponderExcluirQuanto a isso é importante dizer que se em dois meses o Bacen queimou 10 % das reservas para tentar manter equilíbrio do dólar, querer continuar a manter uma faixa do dólar a esse custo, se se mantivesse constante, seria mesmo duro ou impossível e aí o aumento de juros começa a se justificar.
ResponderExcluirMas a questão é que a faixa de R$2,20 para cada dólar já está sendo dito que veio para ficar, no momento (publicado ontem ou anteontem no Jonal do Commercio). Então não adianta lutar contra isso, assim, não hgaveria mais queima de dólares das reservas na mesma proporção que ocorreu nesses últimos dois meses. E por isso, mais uma vez parece que continuar aumento de juros selic, quando nós já oferecemos um dos mais altos juros reais em todo o mundo, é anti-produtivo.