Por sugestão de meu grande amigo Oswaldo Tolesani, tecerei comentários e críticas ao artigo do título mencionado e acessível em http://economia.ig.com.br/2014-02-04/politica-economica-de-dilma-e-criticada-ate-por-keynesianos.html
O artigo menciona que a fórmula do governo Dilma, enaltecida em 2010 pelo secretário do Ministério de Fazenda Nelson Barbosa, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas, de que a presença do Estado mais incisiva na economia produzia crescimento da economia e diminuía a desigualdade social ao mesmo tempo, estaria em xeque.
Segundo o artigo "Com um Produto Interno Bruto (PIB) negativo em 0,5% no terceiro trimestre de 2013, comparado a igual período anterior, e o processo de retração da desigualdade estagnado, como demonstra a Pesquisa por Amostras de Domicílio (Pnad) de 2012, academia e mercado questionam: a fórmula desandou?"
A resposta,segundo o artigo de autoria da jornalista Fernanda Nunes, seria que houve flexibilização da política econômica calcada no tripé liberal câmbio flutuante, meta de inflação e superávit primário, defendida pelos liberais, e que sua política não seria reconhecida como fiel nem mesmo aos keynesianos pois o presidente da Associação Keynesiana Brasileira (AKB) criticou que o correto seria que se estimulasse a poupança interna e a intervenção econômica do Estado se desse através de investimentos e não de estímulo ao consumo.
Mas vejam, lendo o artigo, essas conclusões apresentadas são da jornalista, com alguma legitimidade sim, mas eu devo e prefiro, como todo jornalista faz, destacar o que realmente foi publicado como palavras do Professor José Luis da Costa Oureiro, presidente da AKB e professor da UNB:
"Não houve mudança na matriz macroeconômica. O que foi feito foi alongar a convergência do centro da meta da inflação, reduzir a meta de superávit primário e manter o regime de flutuação cambial, mas com indução de valorização por meio de mais controle da entrada de capitais. Foi mantida a lógica do modelo anterior, só que o governo passou a testar os seus limites", diz Oreiro.
Vejam, segundo o notável presidente, não houve mudança na matriz, ou seja, no tripé. O que houve foi que o governo ao invés de buscar centro da meta de 4,5%, busca não ultrapassar o teto. Por quê? Porque isso facilita o crescimento e manutenção de emprego, senhores. Essa foi a opção do governo, em meio ao caos de falta de crescimento e grande desemprego na Europa e um pouco menos nos EUA. Mas na Europa e EUA a inflação está controlada. Vocês acham isso melhor? Vocês querem as pessoas empregadas e economia com crescimento (mesmo que pouco) ou preferem recessão e desemprego como a Europa experimenta. perguntem aos jovens espanhóis e gregos o que eles preferem..
Mas o mercado quer recessão e desemprego. Veja este último trecho do artigo do que realmente foi publicado como palavras do Presidente da AKB, apresentado pela jornalista:
"Ele (Professor Oureiro)reclama de uma má vontade dos economistas. "Chegamos num ponto em que o mercado exige que o governo jogue o País para a recessão".
Repito "Chegamos num ponto em que o mercado exige que o governo jogue o País para a recessão."
Aí pergunto: Você acha que o governo deve simplesmente satisfazer o mercado ou corrigir algumas coisas e tentar manter crescimento econômico e empregos? Aí, senhores, nesse momento você faz sua escolha e terá ou complacência com o governo, torcendo para que ele encontre algo mediano que satisfaça o mercado (ou aborreça menos) e mantenha emprego e crescimento econômico, ou você também exigirá que o governo se submeta e satisfaça plenamente o mercado (que não está nem aí pra você e sua família) e "jogue o país para a recessão", nas palavras do professor, com perda de empregos. O Blog Perspectiva Crítica quer a primeira hipótese.
Mas veja mais: o governo reduziu a meta de superávit. Por quê? Para aumentar o investimento e para manter crescimento econômico e emprego, dando embalo ao consumo (o que restou um pouco exagerado e esgotou-se) e dando 58 bilhões de corte em tributos para as empresa privadas, também para manter produção, empregos e crescimento econômico. Você pode repreender? Nós do Blog Perspectiva Crítica não podemos.
Como o professor Oureiro disse, o governo testa os limites do mercado. Mas por quê? A bem do emprego e crescimento econômico. Então entendemos legítimo. Mas se o teste do limite chegou em um momneto de revisão, que se revise, mas mantendo como foco o objetivo de defender o crescimento econômico e o emprego e não satisfazendo o mercado levando o País à recessão. Esta só deve ocorrer em última instância. Mas a ala financeira quer isso, pois se coaduna com um ambiente de mais segurança para investimentos financeiros de curto prazo, à custa da qualidade de vida do brasileiro. Mais uma vez você deve fazer escolhas: qualidade de vida ao brasileiro ou garantia de investimentos financeiros de curto prazo? O Blog Perspectiva Crítica fica com a primeira hipótese. Pois quem só quer satisfazer o mercado é escravo do mercado e abre mão de projeto autônomo de Nação.
E mais. Por que se discute tudo isso agora? Por que o mercado perdeu a paciência agora? O Brasil não é o melhor em bases econômicas dos emergentes? O sétimo pib mundial, a terceria reserva em dólar mundial (atrás de China e Japão apenas), os maiores juros reais do mundo, um dos poucos países que conjugam tudo isso com crescimento econômico e ainda com superávit fiscal? E ainda o quarto maior destino de investimento estrangeiro direto no mundo (atrás de China, EUA e Inglaterra)? Então o que houve? É simplesmente, senhores o que ocorre todo ano (realocação de recursos com base nos novos programas de investimentos dos fundos internacionais de investimento) conjugado com o fato de que EUA melhorou e com ativos desvalorizado pela crise financeira mundial, exigiu retorno de investimento. Isso não é da esfera do controle do Brasil.
E mais, descobriu-se que a China tem descontrole fiscal e que a dívida interna de seus "Municípios" dobrou de 2011 a 2013. Só agora eles farão a Lei de Responsabilidade Fiscal que fizemos em 2001. A China também arrefece seu crescimento de dois dígitos e isso também contaminou a visão sobre o "momento" dos Brics. Rússia nunca esteve fantástica. E Índia sempre demonstrou inflação mais alta... de repente se olhou o conjunto dos Brics e viu-se que de repente seria a hora de sair desse ambiente e voltar pro desvalorizado EUA e Europa, já mais no fim do sofrimento econômico, o que evidencia ativos desvalorizados. Sem contar que o FED retirando 20 bilhões de dólares por mês da economia americana também exige correções de política de investimento dos fundos internacionais de investimentos.
Não estou tirando a responsabilidade do governo nos testes que impingiu ao mercado: contabilidade criativa, intervenção na política de preços de combustíveis, prejudicando valor de mercado da petrobrás, sua lucratividade (ainda superior a 23 bilhões de dólares anuais), e criando uma conta para o Tesouro de 10 bilhões de reais para subsidiar o preço da energia elétrica. Não digo que não se deve ter revisões. Não posso aqui fazer a discussão de todos esses detalhes, mas o teste do mercado, a bem do crescimento e emprego não é desinteressante.
Se você acha que é somente projeto de poder, sim é mais grave, pois você está assumindo que o governo está tentando manipular coisas saudáveis ao mercado para distorcer a seu favor, de forma populista a realidade dos fatos e da vida econômica, aceitando sacrigficar o futuro do país pra se manter no poder. Se você acredita nisso, concordo que você queira o PT longe do poder imediatamente.
Mas não vemos isso. Nossa visão é a do professor Oureiro de que o governo testa os limites do mercado, mas não por irresponsabilidade e desejo torpe de alterar formalmente a realidade de dados de acompanhamento econômico para permanecer no poder. Vemos que os testes são para saber até onde se pode adotar medidas que mantenham emprego e crescimento, sem desandar o mercado.
Observe que o governo não está manipulando estatísticas de inflação do IBGE, como ocorre na Argentina. O governo não promoveu estatização de bancos, empresas, ou shopping centers como na Venezuela, o governo não tirou a independência do Banco Central, o governo não alterou o tripé econômico liberal sequer!!! O Itaú lucrou ano passado 15 bilhões de reais, o Bradesco 12 bilhões e o Banco do Brasil acima de R$10 bilhões (ver p.s. de 13/02/2014). O artigo diz que houve queda do crescimento econômico no penútlimo trimestre de 2013 em comparação com o de 2012... gente, houve crescimento econômico no ano de 2013 de 2,3%. A relação dívida/pib líquida e bruta caíram. As reservas ainda estão em 375 bilhões de dólares. O governo federal satisfez o superávit primário de sua responsabilidade, não tendo os Estados e Municípios feito suas partes, mas havendo a entrega de 1,8% de superávit. Vai ver EUA e Europa... Isso é governo irresponsável?!?! O custo da máquina pública com servidores não passa de 31% do orçamento ou 4,6% do pib, enquanto poderia ser de até 40 ou 50% do orçamento, tendo o FHC gastado até 5,4% do pib com pagamento de servidores públicos!!!
Agora, quer-se mais escolas e universidades públicas com professores públicos, além de médicos públicos para atender o país,, e isso se paga com o quê? Quem quer saúde pública gratuita de qualidade e educação pública gratuita de qualidade, vai ter que admitir subir esse custo de 31% do orçamento da União Federal e esse índice de 4,6% de gasto com salário de servidores... ou pode optar por deixar como está, satisfazer bancos internacionais e continuar chorando por falta de atendimento adequado em escolas e hospitais públicos.. parece que as pessoas não pensam.. elas não fazem a conexão porque a mídia não faz essa conexão para elas.
É preciso estar atento.
Então, senhores, a política econômica está bem. O mundo está mudando seus investimentos. Ok. Vamos questionar o que se pode alterar para diminuirmos nossos prejuízos em meio a esse agito, mas o Blog Perspectiva Crítica quer que essa alteração seja feita com o norte na manutenção, tanto quanto possível, de crescimento econômico, manutenção de empregos, com responsabilidade fiscal.
Por isso o artigo criticado não foi muito bom. Pareceu-me mais um dos vários artigos em moda indutivos e desinformativos, querendo simplesmente publicar algo facilmente perceptível ao cidadão pois os mercados internacionais decidiram realocar investimentos, saindo de emergentes e voltando em parte para EUA e Europa. Justificar algo que todos vêem acontecer é mais fácil do que questionar, entender e concluir algo, mantendo um rumo com foco na qualidade de vida do brasileiro.
A informação econômica neste momento é de péssima qualidade e não informa a população. Tentamos corrigir esse defeito informativo veiculado a todos.
Esperamos ter obtido algum êxito. No macro, é isso. No micro... acertos na política econômica, podemos discutir várias coisas. Mas ficamos no macro no momento.
p.s. de 05/02/2014 - Texto revisado e atualizado. Sobre a dica do presidente da AKB de aumentar a poupança interna para aumentar o investimento.. senhores, isso é o santo graal. Todos querem fazer isso. Mas as pessoas teriam de abdicar de consumo. O EUA também não tem poupança interna suficiente para bancar um alto nível de investimento em sua economia e precisa da poupança externa para isso. Esse é um dos grandes motivos de ter déficit na balança de pagamentos. Os EUA têm déficit fiscal e comercial, o chamado déficit gêmeos e há décadas. Uma maneira de aumentar poupança é aumentando muito juros selic, mas isso prejudica a dívida pública e a economia, pois dinheiro que iria para a área produtiva passaria a ir para títulos do tesouro. Então, falar é fácil. Aumentar o investimento privado também não é fácil, pois as empresas e indústrias brasileiras não têm o hábito de se exigirem muito no quesito produtividade. Não têm o hábito de fazerem parcerias com univerisdades para desenvolver e investir em tecnologia nova ou de ponta. Não há muitos mecanismos de incentivo a que isso ocorra e só gigantes empresas como a petrobrás fazem isso, por exemplo. O investimentos público, esse está indo, inclusive com ajuda da área privada em parcerias público privadas e privatizações/concessões. O petróleo do pré-sal não pôde ser liberado antes para exploração pois havia guerra entre Estados e adaptação do sistema de exploração, alterado de concessão para de partilha, aumentando o retorno do Estado nessas explorações de menor risco. Mas, ao contrário de na época do Fernando Henrique, não tivemos apagões elétricos como o que apagou 60% do País, pois há entrega, por parte do governo, de aumento de oferta de energia elétrica em torno de 6 mil megawatts por ano. E está travado no momento por conta do problema com a hidrelétrica Santo Antônio e Belo Monte. Quer dizer, investimento público há, mas também há que se entregar superávit fiscal!! E aí?!?! Se investe não entrega superávit fiscal e se entrega superávit fiscal diminui investimento público. O que o mercado quer?!?! E o que você quer? Acho que o governo está indo bem nessa corda bamba. E por último, Keynes é da década de 30 do século passado. O mercado de consumo não era dois terços da economia americana. Mas hoje é. E no Brasil também. O apoio ao consumo mantém produção, empregos e é, sim, um meio de atuação anti-cíclica defendida por Keynes. Não pode ser só isso. Não pode deixar tal incentivo e apoio ao consumo gerar inflação. E não pode deixar de investir em infraestrutura para aumentar a eficiência da economia. Também não pode deixar as empresas se aproveitarem de tal incentivo e ao invés de manterem produção ou aumentá-la, aproveitar o aumento do meio circulante (dinheiro) e aumentar preços.. nesse caso começa a parecer interessante aumentar importação e abertura de mercado para a concorrência.. é duro. Mas que incentivar o consumo, hoje, é instrumento anti-cíclico e consoante a teoria keynesiana, amigos... isso é.
p.s. de 11/02/2014 - Miriam Leitão publicou hoje, em sua coluna econômica no Globo, o artigo "Três Crises" que entendemos equilibrada. Concordamos em grande parte, mais de 90%, com o artigo e recomendamos a leitura. Acesse em http://oglobo.globo.com/economia/miriam/posts/2014/02/11/tres-crises-523932.asp
p.s. de 13/02/2014 - O lucro do Banco do Brasil de dez bilhões de reais era a última informação que tinha na época, mas nesta data foi publicado que o lucro total do Banco do Brasil em 2013 foi de 15,8 bilhões de reais, sendo 5,4 bilhões de reias oriundos da abertura de capital de uma empresa subsidiária. Acesse a fonte em http://oglobo.globo.com/economia/banco-do-brasil-teve-lucro-recorde-no-pais-em-2013-158-bilhoes-11589885
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