terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Ranking dos Proprietários do Brasil - divulgado no Blog do Noblat

Pessoal, quero alertá-los sobre um ranking de 397 empresas com ramificações societárias em outras empresas do país que está sendo alardeado como algo fantástico, no qual não vejo nada de fantástico.

O acesso ao site, fazendo uma propaganda a contragosto (pois acho que o trabalho dos rapazes pode ser honesto, bem intencionado e árduo, mas não mostra ranking real de proprietários do Brasil coisa nenhuma), é http://www.proprietariosdobrasil.org.br/index.php/pt-br/

O Blog do Noblat publicaou e você pode ter acesso pelo seguinte endereço: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2013/01/29/os-verdadeiros-proprietarios-do-brasil-por-carlos-tautz-484242.asp

Com certeza o cruzamento de dados societários deve ter dado o maior trabalhão, partindo do pressuposto de que fizeram tudo direito e de que verificaram grande parte das empresas brasileiras de peso. Ao ver o resultado (ranking dos proprietários do Brasil), eu não li sequer o método. Está presente a Companhia de Esgoto da Paraíba e várias empresas desconhecidas. o número um não aparece, mas o segundo maior "proprietário do Brasil" é apontado como a PREVI. O grupo Jereissati, que todos sabem que é um cacique do PSDB do Ceará, também é mencionado. Mas a Rede Globo de Televisão, por exemplo, nem consta. Não consta porque é sociedade de capital fechado e alguém vai dizer que não tem domínimo sob os acontecimentos no Brasil ou influência?

Então vejam, a pesquisa dos rapazes é interessante, mas para mim indicou quem mais investe no País e somente entre as empresas de capital aberto que podem ter seus grupos societários facilmente analisados. Foi uma lista de quem joga aberto e é fiscalizado pela CVM. Isso não é ranking de proprietário do Brasil, lamento.

O livro de Raymundo Faoro, "Os donos do Poder" é muito mais verídico para indicar donos do Brasil. Achei até interessante que os donos do site em questão tenham eleito uma maçã mordida que remete à maçã da capa do livro importantíssimo "A Trilateral", de edição única no Brasil de 1979, esgotada e nunca repetida. Mas, crendo na boa fé dos seus criadores, nada tem a ver.

Tentam remeter esse espraiamento societário a poder de influência no BNDES, mas isso também não dá para considerar, pois no BNDES recebe valores quem apresenta projetos. É só fiscalizar o procedimento de seleção de projetos, todos escritos, escolhidos através de condições objetivas, expressas em documentos e analisáveis pelo Ministério Público.

 Vejam, não há fazendeiros de latifúndios mencionados. Não há políticos/coronéis do Nordeste. Não há reprodutores do sinal da Globo por todo o País, não há integrantes da cúpula das universidades brasileiras, não há ponderação sobre capacidade de alterar a perspectiva da realidade, não há análise de empresas de capital fechado, não há análise de empresas com sede em paraísos fiscais, não é mencionada uma pessoa com capacidade de influência no governo, seja positivamente ou negativamente.

Não é mencionado o grande líder empresarial brasileiro Eike Batista, brasileiro de coração pelo que posso analisar de suas movimentações divulgadas pela mídia. Se Eike não tem influência e não pode ser um dos proprietários do País (sua empresa LLX é mencionada no meio do ranking), sendo o mais rico do país e com influência política e com espírito e capacidade realizadora de seus sonhos, quem mais seria?

O ranking criado diz muito pouco, infelizmente. Foca e atinge com uma "penumbra de desconfiança genérica" grandes empresas produtivas no Brasil e não trata de temas como relações pessoais, familiares e políticas no Brasil, vínculo entre a classe financeira e grande mídia (que é caso de poder em todos os países civilizados no mundo rico), não toca na Comissão Trilateral, não toca no FMI, nem no Banco Mundial, nem na imprensa estrangeira. Não toca no fato de que empresas de mídia estão entrando na área produtiva, comprando cursos e escolas, vendendo apostilas para o governo, prestando serviços de terceirização de saúde e educação.

Quero somente dizer a você que, ao meu ver, e compartilho com meus leitores aqui, aquele ranking diz pouquíssima coisa e não mostra quase nada sobre os " verdadeiros proprietários do Brasil". Pode dizer sobre quem possui participação em empresas, sobre quem tem dinheiro e, portanto, também tem acesso a salões dos governos de todas as esferas (por óbvio), que precisa e tem condições de usar o BNDES (único financiador de longo prazo para a classe produtiva no Brasil).. agora, donos do Brasil? Elucidar algo escamoteado e que permite analisar movimentos escusos que influenciam a Nação de forma decisiva? Infelizmente agaurdarei outra lista que eles façam.

A idéia foi curiosa. Útil talvez, mas, na minha opinião, muito longe daquilo a que se propuseram por infinita complexidade do tema e dos intrincados ramos e insterseções de interesses e relacionamentos familiares, políticos, empresariais, financeiros, de mídia, e envolvendo grandes homens de universidades e de todas as indústrias em especial a financeira.

p.s. de 30/01/2013 - revisto e ampliado.

5 comentários:

  1. Prezado Mário César,

    Acabo de ler com atenção o seu artigo, e parabenizá-lo pelo espírito crítico e aberto com que encara os temas de que trata.

    Sou um dos responsáveis pela Campanha Proprietários do Brasil, e gostaria de fazer algumas considerações para contribuir com as reflexões:

    1. O ranking é um processo que apenas se inicia: trata-se de uma pesquisa e uma campanha em movimento, cujas próximas etapas são: articulação da base de 5.600 empresas e pessoas levantadas com doações de campanhas eleitorais, financiamentos do BNDES, trabalho escravo e injustiças ambientais; criação de portal que permite que qualquer cidadão ou cidadã envie (com comprovação da junta comercial do estado correspondente) a composição acionária das empresas de capital fechado que estão fora do ranking; filtros por setor econômico; mais estudos e pesquisas sobre relação do poder econômico com poder político; sistema de buscas diretas em nossa base, por nome ou cpf/cnpj

    2. O ranking não mostra circulação de capital. Aconselho fortemente uma leitura (mesmo que superficial) da metodologia: estamos tratando apenas de ações ordinárias, ou seja, as que dão efetivo poder de voto na empresa, ou seja, poder empresarial. Não estamos tratando de ações preferenciais nem de patrimônios ou rendas. A receita das empresas é necessária para auferir tamanho de cada empresa

    3. Há muitos latifundiários, coroneis e empresários no ranking. Acho que você só olhou rapidamente as 397 empresas do ranking, que têm por trás de si uma base de 5.600 empresas, pessoas e entes estatais. Por exemplo, você citou explicitamente o Eike. A rede de poder dele pode ser vista no seguinte link: http://e.eita.org.br/40 . Pode-se ver as redes de poder de quaisquer outra pessoa ou empresa da base, visualmente: estamos falando de 5.600 redes de poder

    4. Também sentimos falta de não haver ainda empresas como os grandes meios de comunicação. Como disse no ponto 1, este será um campo de expansão via juntas comerciais, que se dará pela interação pelas cidadãs e cidadãos interessados

    5. Este ranking, com apenas 397 empresas, algumas desconhecidas como blessed holdings, rio purus participações, morro vermelho, stichting johannpeter, entre outras, controla a produção de 51% do PIB nacional, e recebeu mais de 50% dos financiamentos do BNDES entre 2008 e 2012, além de serem responsáveis por 400 milhões de reais de doações de campanhas eleitorais em 2012 e 2010. São valores bastante expressivos.

    No mais, nos colocamos à disposição para discutirmos criticamente a metodologia utilizada e seus resultados. O nosso objetivo é contribuir para a transparência sobre o poder econômico brasileiro.

    Um abraço,

    daniel tygel (cooperativa EITA - Educação, Informação e Tecnologia para Autogestão)

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  2. Caro Daniel, você está certo. Como disse no artigo, não li a metodologia pois ao ver a falta de empresas importantíssimas e de mídia, identifiquei que o objetivo de demonstrar os "Proprietários do Brasil" não poderia estar sendo atingido.

    Entretanto, devido à sua explicação de que é um processo inicial de obtenção de informações com objetivo de rastrear movimentação de riquezas e direitos societários (ou seja de decisão) circulantes no PIB brasileiro, aliado à informação do item 5 do seu comentário, passarei a acompanhar seu site com mais atenção e a noticiar descobertas que repute de relevo e fundamentada sempre que vocês as publicarem.

    O objetivo de vocês é excelente. O trabalho a que vocvês se propõem é extenuante. Mas se vocês conseguirem expor a rede de interesses comerciais financeiros que envolve grande parte do PIB, realmente obterão reconhecimento por isso.

    Acho o título "Proprietários do Brasil" impactante, mas vejo dificuldades em realizar a exposição efetiva daqueles que decidem pelo País, pois pessoas e autoridades sem participação acionária teriam de ser juntadas ao rol, assim como alguns expoentes intelectuais de universidades e grandes centros de pesquisa, além de exposição entre a ligação de empresas de mídia e políticos, por exemplo e bancos e instituições finaceiras.

    Complexo. Peço, ainda, já que parece que seu propósito é sério, que vocês dêem uma abordagem mais informativa do que acusativa. Será bom para sua segurança jurídica e a dos noticiados e para a credibilidade de suas informações e do próprio site.

    Peço, ainda, que vocês hajam com muita responsabilidade e impulso construtivo, quando falarem do BNDES, Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, pois são pilares da estabilidade econômio-financeira do Brasil. São instrumento do Brasil e se estiverem em uma ou outra operação sendo usadas de forma escusa para interesse de empresários e políticos, isso ocorre a prejuízo dessas magníficas empresas e a prejuízo do País.

    Peço, inclusive, que se avaliarem algo equivocado, façam como eu e sugiram como deve se alterar procedimentos para impedir que o mesmo erro ocorra. Sejam propositivos e não se empenhem em ser acusativos.

    Falo tudo isso no intuito de ver vocês se transformando em mais uma arma social contra a desinformação e contra a movimentação de bancos e mídia para avançar sobre o PIB em detrimento de pessoas físicas, contribuintes individuais, autônomos, servidores públicos, ou seja, pais e ma~es de família.

    Sua abordagem técnica e responsável, em sentido informativo e propositivo, ao invés do clássico e pueril sentido indutivo e acusativo, marcará sua chance de marcar posição em nossa mídia social, com grande potencial de ajuda ao País e tendência à longevidade como acontece com o Contas Abertas, por exemplo.

    Leiam, por favor, me artigo "A Guerra pelo Pib". Cuidado para não prejudicar temerariamente a produção, o setor produtivo, e enevoar a influência que bancos, mídia, ruralistas e políticos têm efetivamente sobre os cursos da Nação.

    O objetivo do Blog Perspectiva Crítica não é acusar ninguém, mas sempre publicar o que seja mais real possível e conter movimentos informativos prejudiciais à sociedade e incentivar a produção de informação mais neutra e verdadeira ou alteração de comportamento em empresas, cidadãos e políticos de forma a beneficiar a parcela da população mais importante e que está sempre prejudicada por sua falta de organização sócio-econômica-teleológica: o cidadão, pessoa física, brasileiro.

    Além disso, só desejo sucesso em sua empreitada. Coloco-me igualmente à disposição para discussão de qualquer tema em que possa ser útil.

    Abs

    Mário César Pacheco

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    1. Prezado Mário César Pacheco,

      Somente hoje vi tua excelente resposta (desculpe, não havia retornado para este site, pois pensei que novos comentários seriam encaminhados também por e-mail para meu acompanhamento), e estou de acordo com você em vários dos pontos que você coloca.

      O que precisamos é avançar na transparência e visibilização das redes de poder econômico para que a população possa ter mais conhecimento e com isso mais ferramentas para fazer valer uma efetiva democracia.

      A sua visão sobre o Estado é como a minha: temos ferramentas que não podem ser vendidas ou alienadas do Estado, pois garantem a soberania e a capacidade de que decisões de cunho democrático se sobreponham a decisões voltadas meramente ao benefício de determinados setores privilegiados. Aliás, é neste sentido que temos tentado construir a crítica da forma como tem se dado a relação entre os poderes econômicos e o Estado, o que aparece especialmente na falta de transparência quanto aos critérios e procedimentos no fornecimento de crédito (não só por parte do BNDES, mas também em outras políticas locais, em especial de âmbito estadual) e vínculos que surgem por conta de compromissos assumidos por causa de doações eleitorais (tanto as públicas quanto as que não temos conhecimento oficial).

      Estamos com isso tentando ser cuidadosos também em não cair num "acusismo" infundado, mas sim focarmos na busca de instrumentalizar pessoas e organizações da sociedade brasileira interessadas em fazer de nosso país cada vez um lugar melhor de se viver, com efetiva justiça e igualdade de oportunidades.

      Agradeço aos alertas quanto a mecanismos jurídicos: estamos buscando ser cuidadosos em apenas mostrar dados públicos e fornecidos pelas próprias empresas para a CVM e outras fontes oficiais como o BNDES (setor de transparência, vc já viu?), o TSE e o portal da transparência, além de futuramente as juntas comerciais.

      Ainda não tive tempo de ler o artigo que você sugeriu. O lerei na primeira oportunidade.

      Atenciosamente,

      daniel tygel (EITA)

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    2. Fico feliz com suas palavras, o declarado compartilhamento de visão de Estado e com a evidência de que a Mídia Social ganha mais essa contribuição com seu site e as informações que vocês produzem e pretendem produzir.
      Muito importante a principiologia que você declara: busca pela transparência (do governo e das relações de poder), exposição de informação relevante não produzida pela Mídia de Mercado ou Mídia Convencional e responsabilidade informativa sem admitir denuncismo leviano.
      Isso é a coluna vertebral de um site informativo de nível, na minha e em qualquer concepção, creio. Seguimos isso neste Blog à mais firme risca.
      Acessarei o portal da transparência do BNDES. Obrigado pela dica.
      Sigamos nossos trabalhos. Veremo-nos mais vezes entre linhas.
      Sorte e abraços.

      Atenciosamente,

      Mário César Pacheco

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  3. Daniel, acesse o artigo "Guerra pelo PIB" em http://www.perspectivacritica.com.br/2011/07/guerra-pelo-pibde-que-lado-voce-esta.html

    abs

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