Obras-primas são atemporais. É importante que este tipo de informação circule, em que um profissional qualificado de comunicação reclama da falta de ética que impregna a grande mídia em todo o mundo.
Ele denuncia um movimento que imputa ter sido incrementado e até revolucionado por Rupert Murdoch, bilionário das comunicações, que transforma os grupos de mídia em máquinas de negócios e vendas de notícias com menos comprometimento com a verdade, com aproximação com conglomerados financeiros e prejuízo para a informação de qualidade produzida e repassada em sociedade.
Enunciamos e reproduzimos este tipo de matéria para afastar o argumento de que quando se faz esse tipo de crítica, de falta de neutralidade da grande mídia na produção de notícia, está se reproduzindo uma história da carochinha baseada em "teoria conspiratória".
Devemos levar isso a sério porque existe.
Reprodução abaixo:
"Do blog de Paulo Moreira Leite
12 de julho de 2011
A herança que chegou a todos nós
Na medida em que surgem novas indecências no arquivo de imoralidades praticadas pelos jornais de Robert Murdoch, torna-se obrigatório fazer uma pergunta maior.
A questão é definir o papel de Robert Murdoch, o maior empresário de comunicações do planeta, no negócio mundial da mídia. É uma questão imensa e complicada, vamos combinar. Mas é possível fazer algumas observações.
Todos nós, jornalistas e leitores, temos consciência de que no mundo inteiro existe um fenomeno que costuma ser descrito como uma crise nos meios de comunicação. Jornais e revistas não param de perder leitores. O mesmo ocorre com canais abertos de TV e com emissoras de rádio.
O conteúdo da mídia, diz-se, tornou-se menos profundo, menos plural, mais superficial e mais vulgar. Sem dúvida, é cada vez mais apelativo.
Não há dúvida de que boa parte dessas dificuldades é o resultado de mudanças no modo de vida das sociedades contemporâneas.
Podemos listar vários fatores. Por exemplo: os cidadãos querem viver num mundo mais horizontal — e a velha mídia funciona no esquema clássico das sociedades verticais. Graças não só a internet, mas também a formidável elevação dos níveis de educação, o leitor comum possui hoje um acesso primário à informação e a cultura que lhe permite dispensar boa parte das reportagens e análises que as revistas e jornais tem para oferecer.
Há outras mudanças, porém, que são produto de transformações ocorridas dentro da mídia. Não foi só o mundo que mudou. O produto também mudou. E, sob vários aspectos, mudou para pior.
Acho difícil negar que Murdoch e suas empresas tenham dado uma contribuição importante nestas mudanças.
Com um império econômico de vários bilhões de dólares, instalado no centro do capitalismo mundial, operando no segundo idioma dos 6 bilhões de moradores do planeta, Murdoch ajudou a trazer uma nova lógica para um velho negócio. Não foi o único, com certeza. Mas, pela economia e pela geografia, foi um dos mais importantes e talvez o mais decisivo.
No passado, quando o jornalismo era uma profissão invejada pela influencia e prestígio havia a preocupação com um certo rigor na informação, com a separação entre o público e o privado, na distinção clássica entre os interesse da Igreja (o jornal) e o Estado (a empresa).
É claro que todos procuravam equilibrar o negócio. As vendas e a conquista de novos leitores sempre foi um ponto essencial da atividade. Mas havia um pouco de pudor. Nem tudo era industria, comercio e finanças. A preocupação com vendas não fazia parte da pauta das redações.
De uns anos para cá, ocorreu uma mudança no eixo da profissão.
Para dizer muito numa frase curta, o jornalismo banalizou-se. Tornou-se uma atividade empresarial como tantas outras. Frequentemente procura ser rentável como um investimento de alto risco, alienada como uma fábrica de sabonetes, descartável como filminho que a TV exibe à tarde.
Murdoch foi um dos homens que ajudou a alterar a lógica dessa atividade. Não por acaso, o crescimento de suas empresas coincide com uma mudança no padrão do jornalismo, nos valores em vigor em muitas redações, na meta de trabalho e formação dos profissionais.
Antes, as empresas jornalísticas eram fruto de investimentos de origem familiar, com compromissos definidos por seus fundadores e patronos, competindo por leitores num mercado onde não faltava espaço para a diversidade e a concorrência.
Com uma reconhecida capacidade para encontrar oportunidades favoráveis a seus interesses e batalhar com afinco por eles, Murdoch ajudou a transformar as empresas de comunicação em grandes corporações, impessoais, sem perfil e sem história, dependentes e até associadas a grandes grupos financeiros. Em suas mãos, o pequeno negócio deixou de fazer sentido. Precisava do grande capital, do monopólio do mercado.
Embora nunca tivesse renunciado a suas idéias políticas, de profunda matriz conservadora, sua prioridade real não envolve a qualidade do conteúdo que oferecia — mas a força de mercado que cada novo jornal, cada nova emissora de TV, poderia lhe acrescentar. Seu interesse fundamental não envolvia a mídia como entretenimento, como formação de cidadãos, como parte da democracia, como notícia, mas como instrumento de poder.
Daí a profusão de aquisições, compras e fusões. Embora jamais tenha aberto mão de escândalos em seus veículos, a estratégia não era competir mas eliminar os adversários, transformando-se na única opção para anunciantes e consumidores.
Denuncias e investigações fizeram a glória do jornalismo desde sempre. Mas, enquanto bons jornais e revistas produzem revelações com alguma relação com o interesse público, a rede de Murdoch procura o sucesso em questões privadas, em reportagens que desmoralizam e humilham seus personagens.
Se fosse um empresário fraco, numa cidade remota da Austrália, Murdoch teria criado uma igreja de jornalismo de alcance local e folclórica, como tantas que se encontra em pontos diversos do mundo.
Mas, pelo seu tamanho e sua influencia, tornou-se um padrão imitado e copiado, com outra lógica e outra finalidade. Pela força econômica e pela crescente influencia política, impôs seus métodos aos países onde passou a atuar, num processo de contágio crescente e irresistível, contaminando concorrentes incapazes de enfrentar a chamada desvantagem competitiva.
Como me disse certa vez um dos grandes empresários de mídia do Brasil:
– Se o seu maior concorrente é um grande sonegador de impostos, você tem tres coisas a fazer: ou começa a sonegar impostos como ele, para competir em igualdade de condições. Ou prepara-se para ter custos maiores e lucros menores. Ou muda de ramo.
Foi isso o que ocorreu com a mídia em torno de Murdoch — e não estamos falando de sonegação de impostos, evidentemente.
Felizmente, não é em todo lugar que os repórteres contratam empresas de investigação para promover escutas telefônicas e bisbilhotar a saúde de crianças.
Nem todos os governos se curvam diante dos senhores da mídia de seus respectivos países.
Seria igualmente errado dizer que todas as empresas de comunicação aplicam os mesmos métodos e exibem a mesma falta de escrúpulos.
Mas é difícil negar que há um pouco de Robert Murdoch no pior do que a imprensa mundial exibe hoje, concorda?"
Esse texto foi copiado de um texto em que Merval Pereira estava sendo criticado pelo Blog da Cidadania por ser desonesto em publicar sobre o tema "controle da mídia" que estaria sendo buscado por Lula e José Dirceu à época do debate sobre a criação desse controle, seguindo parâmetros existentes, segundo o crítico, na Alemanha, França, Portugal, Espanha e Inglaterra.
Acesse:https://blogdacidadania.com.br/2011/07/desmascarando-merval-pereira/
Não conseguimos achar o artigo acima no Blog do Paulo Moreira Leite porque a pesquisa naquele Blog é difícil para artigos de 2011. Mas você mesmo pode tentar.
Acesse: https://www.brasil247.com/authors/paulo-moreira-leite?page=37Quanto mais pessoas entenderem o nível baixo a que a grande mídia está submetida para sobreviver como negócio, mais estaremos ajudando a mídia brasileira a se comprometer com uma repaginação e comprometimento com revisão de princípios e disseminação da verdade, com mais neutralidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário