Nós já tratamos disso em outros artigos, sobre como ser contra a CPMF poderia prejudicar o cidadão, mas a grande mídia elegeu a CPMF como o símbolo da luta contra o aumento da carga tributária "nababesca" brasileira e muitos leitores da grande mídia aprovavam essa resistência à CPMF e apoiaram o movimento feito por bancos, FIESP, FIRJAN, FEBRABAN, CNC, CNI e pela grande mídia contra a cobrança de CPMF. Certo.
Mas o déficit fiscal está aí. O rombo criado em especial pelo baixo crescimento internacional (que gerou a maior baixa histórica do preço do petróleo e do minério de ferro desde 2014), pelo fim da bolha imobiliária e pela crise econômica interna brasileira (com o fim dos efeitos positivos das medidas anticíclicas, em especial a partir do segundo semestre de 2013 e sua não reversão desde então pela Dilma), derivada em grande parte desses dois fatos antecessores, tinha que ser coberto, de um jeito ou de outro.
A crise econômica brasileira derivou em grande parte do baixo crescimento internacional (desfazendo demanda externa por nossa produção) e pela falta de demanda e crédito interno (desfazendo a demanda interna por nossa produção). O esvaziamento da bolha imobiliária é reflexo e componente disso, mas todo o esfriamento da economia, considerando-se somente o aspecto interno, derivou do esgotamento das medidas anticíclicas (subsídios concedidos à produção, créditos concedidos à produção e ao consumo), da elevação da dívida das famílias e do arrocho monetário à base de 14,25% de juros, sob o argumento de única arma possível para o controle da inflação.
Independente disso, temos a descoberta de um sem fim de desvio de verba pública por corrupção entre empresas gigantescas brasileiras de vários setores (concessionárias de carro, bancos, fundos de previdência de estatais, dentre outras), em especial empreiteiras, assim como partidos políticos e políticos de pelo menos metade de todos os partidos brasileiros, em especial os maiores: PT, PMBD e PSDB.
A má gestão da concessão e manutenção de benefícios sociais e previdenciários, em especial pagos pelo INSS, também contribuíram para o déficit fiscal brasileiro, o qual, durante a crise de dois anos, entre 2015 e 2016, aumentou, eis que a taxa de desemprego saiu de 6%, na média dos últimos 12 anos, a 10% em 2015 e a 13% em fins de 2016. Só a revisão de todos os benefícios previdenciários pagos pelo INSS pode economizar gastos de 7,5 bilhões de reais ao ano, segundo recente informação publicada na grande mídia.
Enfim, apesar de haver várias fontes de prejuízos ao orçamento público, com uma narrativa muito maior do que a grande mídia apresenta, que foca quase 100% de todo o déficit na Previdência Social e no "gasto" com servidores públicos, aposentados, pensionistas, HOJE a grande mídia diz e a sociedade repete que a solução deve ser quase exclusivamente efetuada via "Reforma da Previdência" e corte de gastos com servidores públicos, aposentados e pensionistas.
E assim como ela diz qual é o quase exclusivo problema do orçamento público, ela enuncia quais são as soluções: flexibilização de direitos previdenciários (para salvar o orçamento), negativa de concessão de reajustes inflacionários a servidores públicos, negativa de contratação de servidores públicos (para salvar o orçamento) e flexibilização de direitos trabalhistas (para reativar a economia). Como se facilitar regras de contratação de terceirizados garantisse emprego.. o que garante é o aumento de demanda interna e externa, sobre o que a reforma trabalhista nunca poderá influir.
Mas veja que neste contexto em que a grande mídia pode dizer qual é o único problema do orçamento e dizer qual é a única solução, ela também vocifera um grande princípio magno: NÃO SE PODE AUMENTAR A CARGA TRIBUTÁRIA BRASILEIRA porque ela já é alta demais. OK. e sem sendo assim, voltar a CPMF seria o fim dos mundos. Ok. E você aplaudiu esta campanha da grande mídia e da FIESP, FIRJAN, FEBRABAN, CNI, CNC, bancos, enfim, das grandes empresas e do sistema financeiro. Você foi solícito contra o aumento de carga tributária para todos, à base de 0,38% da movimentação bancária de todos. Ok.
Mas veja que o rombo do orçamento público existe e tem que ser coberto. Além de estar se querendo aumentar o tempo de contribuição previdenciária, com alguns argumentos legítimos, o que você talvez não saiba é que o IMPOSTO de RENDA DE PESSOA FÌSICA está para ser aumentado de 27,5% para 35%!! Ou seja, aumentarão 8 pontos percentuais. um aumento de quase 40% do IRPF!! E o que a Globo ou a grande mídia faz de campanha contra isso?!?!? Nada.
Observe que com CPMF você pagaria 0,38% de quê? Do seu salário, muito provavelmente. Sim, ele não deixaria de ser descontado quando você movimentasse sua conta. Mas pagaria 0,38% do que movimentasse. E quanto recairá sobre o seu salário com o aumento de imposto de renda? 8%! Isso é 21 vezes maior do que a CPMF! É 2.100% maior o aumento de despesa tributária do cidadão, ao pagar esse aumento de IRPF do que se esse mesmo cidadão pagasse a CPMF, pois a base de cálculo, de fato é quase a mesma. Na CPMF é até menor, porque se você não sacasse o dinheiro e somente investisse, você não pagaria a CPMF, mas o imposto de renda você não poderá deixar de pagar.
E ninguém virá te ajudar, meu amigo e minha amiga!!! Você acha que a FIRJAN, FIESP, CNI, CNC, FEBRABAN, bancos e a grande mídia virão fazer campanha par salvar o seu salário dos 8% de imposto de renda?!?! AUHAUHAUHUHUAHUHAUHAUHAAUHAUHAUHUA
Quer dizer, você bateu palmas para a campanha contra a cobrança de CPMF, salvou empresas e bancos e autônomos que não declaram seu imposto de renda integral e salvou todos os que ganham menos de R$5.000,00 (e não pagam 27,5% de imposto de renda) de pagarem 0,38% do que sacassem de suas contas bancárias... mas agora vai pagar 8%, 21 vezes mais de imposto de renda o que não pagou de CPMF! Por quê? Porque o déficit existe e tem que ser coberto.
Se não se conseguiram os 40 bilhões de reais de CPMF, que pagos por todos seria merreca de despesa para cada um, o governo tem que criar essa receita, então vai no Imposto de Renda de Pessoa Física tirar quase o mesmo valor integralmente do seu, do meu e do nosso bolso. E ficaremos abandonados, sem mídia e sem empresas nos protegendo. Esse é o problema de não saber em que lado você está na luta atual da sociedade por maior participação no PIB. Nós escrevemos artigo específico sobre esse tema ("A guerra pelo PIB - de que lado você está nessa luta").
Por quê não te defenderão?!? Porque os maiores jornalistas da grande mídia recebem como Pessoa Jurídica. Não têm carteira assinada e nem são concursados. Então, veja, desde que não tenha aumento de IRPJ e de PIS/COFINS, que são impostos que recaem sobre empresas, eles não chiarão. Sabem que se forem contra o aumento de CPMF e de IRPF ao mesmo tempo, sobrará para o aumento de IRPJ e aí eles pagarão.
Então é isso. Você foi enganado e pagará caro por isso.
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