segunda-feira, 6 de abril de 2015

Curiosidade econômica de abril de 2015: será que a inflação de 2015 será de 8,2% como prevê o mercado?

Estou muito curioso em relação ao real número da inflação neste ano. Que as previsões econômicas muitas vezes não se concretizam, isso todos nós sabemos. Mas é interessante que o mecanismo de previsão seja sempre o mesmo: previsão de inflação ascendente no início do ano, projetando uma alta inflacionária no fim do ano, inclusive com estouro da meta, o que ainda não ocorreu; e, à medida em que o ano vai passando, as expectativas de mercado vão baixando, até se encontrarem com o real número da inflação no fim do ano. Que trabalho fácil... carrega-se no início e depois vai se corrigindo lá na frente até chegar ao número real que se concretiza...

Mas o mais interessante é o porquê disso. Quando há aumento de expectativa de inflação há a necessidade de aumento da taxa de juros, a qual remunera regiamente o capital e os bancos. E falam que funcionalismo público é "estar nas tetas do governo".. rsrsrsrs.

Não negamos os mecanismos de pesos e contra-pesos de mercado, inclusive os instrumentos de política monetária, mas é importante denunciar esse modus operandi  do mercado para extorquir mais juros básicos. O que o orçamento gasta com juros básico é mais do que gasta com sáude e educação. É a principal despesa do governo. mas põe-se a culpa na inflação por isso, quando na verdade não é esse o problema. A forma como se ataca a inflação é o problema.

Na China, muito da inflação é controlada através de aumento de depósito compulsório. Com menos valores circulando, esfria-se a economia sem penalizar o orçamento. Mas isso diminui operações bancárias e lucro de bancos. Então, pode na China e não pode no Brasil. E somos assim. E ficamos assim.

O roteiro é conhecido. Todo início de ano tem pressão da inflação, pois as pessoas gastam mais no período de festas e porque na virada do ano vários contratos são reajustados, como escolas, material escolar e vários contratos, inclusive públicos (preços administrados). Também é o momento em que se precificam os contratos que sofrerão reajustes como pedágios, transporte público, planos de sáude. Então, nesse clima, joga-se a expectativa de inflação pelo mercado nas alturas.

O Banco Central deverá agir para arrefecer essa expectativa de mercado, mas não pode aumentar depósito compulsório, pois no Brasil só se pode combater inflção com aumento de juros. E assim, aumentam-se os juros básicos que hoje está estratosfericamente em 12,75%. Claro. Se você não bate na inflação por outro lado, só pode bater pelo lado do juros e ele terá de ser carregado.

E assim ficamos. Bancos felizes. Orçamento público com seu maior gasto aumentando. A culpa sendo colocada no governo e na inflação. Aí o governo é obrigado a cortar despesas.. mas não pode ser a despesa com juros, pois essa é automática e autolegitimada. Sem aumentar compulsório, o governo é obrigado a aumentar despesas com juros. Mas e o resultado?

Numa espiral negativa, aumento de juros leva a aumento de renda financeira. Isto faz com que consumidores deixem de comprar e poupem. As empresas também passam a investir em títulos da dívida pública, com bom retorno e menos risco do que investir  na produção.  E com menos produção e consumo a tendência é haver uma recessão. E é isso o que ocorre. É para onde vamos.

Mas aí, vejamos, o comum é que houvesse o reflexo de baixa da inflação e da perspectiva da inflação em algum momento. mas só vemos alta dessa expectativa. Aí é que aparece um descompasso. Se os juros estão altos; se as pessoas compram menos; se diminuiu o emprego; se as empresas investem menos, como a expectativa da inflação pode estar tão alta? O impacto do dólar e as saudáveis correções da política econômica (que foi boa para maner produção e emprego até hoje, ao nosso ver), retirando desonerações tributárias, corrigindo formas de se exercer direitos previdenciários e trabalhistas (correção e endurecimento de regras de concessão de benefícios), bem como aumentando a tarifa de luz, geram um ônus que pesa na conta, com certeza. Mas será que a inflação chegará a 8,2%?

Não se fala mais em racionamento de energia depois das últimas chuvas. Está previsto superávit comercial para o País esse ano em até 10 bilhões de dólares. Estão contratados investimentos estrangeiros diretos de até 58 bilhões de dólares. E os juros estratosféricos atraem muitos dólares para a nossa economia, o que, aliás, já até baixou a pressão altista do dólar que hoje está cotado a R$3,09, enquanto muitos disseram que explodiria para além de R$5,00, talvez até chegasse a R$7,00.. eu ouvi isso de pessoas que trabalham no mercado... naturalmente disse que achava um desvario, pois nossas condições econômicas e do mundo não pareciam legitimar câmbio acima de R$4,00...

Aí pergunto, com tantos dólares vindo, com o programa de investimentos governamentais e privados, inclusive em função de diversas concessões, com previsão de PIB recessivo em -1,01%.. como a inflação pode chegar a 8,2%? Imóveis baixando de preços.. aluguéis... isso pressiona para baixo a inflação também... mas a economia é dinâmica.. vamos ver... para quem quer ver aumento de inflação, tudo pode ser visto como motivo de aumento de inflação.. por exemplo.. a queda de preço de imóveis pode ser visto como liberação de poupança para consumo e, portanto aumento de consumo gera aumento de inflação... rsrsrsrs

A melhor medida de contenção de custeio seria adotar aumento de depósito compulsório, ao invés de aumento de taxa selic, ao mesmo passo em que fossem tomadas medidas que ampliassem o investimento na economia... mais concessões e agilização dos processos de concretização dessas concessões, se possível com desonerações na atividade de exportação e produção para exportação. Desoneração que reflete em perda de arrecadação previdenciária é criar um problema futuro, pois a previdência vai exigir lá na frente esses valores para pagar benefícios.

E o Brasil também peca por não regulamentar o Imposto sobre Grandes Fortunas. Se bem feito, esse imposto pode catapultar a economia como nunca se viu. Por quê? Porque, como acontece nos EUA, os superricos terminariam sendo obrigados a colocar valores para girar a economia para copensar o pagamento de Imposto sobre Grandes Fortunas. Nos EUA, em que o imposto sobre herança varia de 3% a 77%, os multimilionários e/ou bilionários têm de pagar até 77% de sua fortuna ao governo americano e, portanto, contratam seguro de vida pelo valor do imposto que terão de pagar. Assim seus familiares recebem o direito pago de imposto via pagamento de seguro de vida enquanto o govenro americano recebe uma fortuna de imposto que pode se reverter em investimentos na economia e em serviços públicos. A economia, po sua vez, durante a vida desse bilionário, ganhou a parcela de seguro paga pelo bilionário, que se converterá, via companhia seguradora, em investimentos em letras de câmbio, alavancando investimentos na área privada, e também em títulos da dívida pública, beneficiando o giro econômico e o potencial produtivo do patrimônio do multimilionário e do bilionário, cujo valor estava somente na condição de poupança para renda pessoal do multimilionário/bilionário, parado no banco.

E também por isso explodiu a criação de fundações privadas entre multimilionários por lá nos EUA: você cria uma fundação para destacar patrimônio que iria para o Fisco. Assim dá emprego para parentes e salários (pro labore de cargos honoríficos) fazendo com que recebam algo de um patrimônio que iria para o Estado via imposto de herança. Mas isso cria um instrumento social que põe o valor a favor da sociedade e da economia, gerando empregos e serviços à sociedade. Gerando emprego, arrecadação e riqueza. Então, esse canal também está pouco explorado aqui.

Mas isso fica para outro artigo. O importante é que se veja que o mercado superestima inflação, influencia a política monetária para ser somente através de aumento de juros, lucra com isso, e durante o ano vai adaptando para que a inflação real no fim do ano acabe batendo com a expectativa de mercado que foi alterada mensalmente durante o ano para que não sejam acusados de superestimarem a inflação, o que os faria perder legitimidade para realizar novas expectativas..

Denunciamos aqui esse procedimento do mercado. E temos muita curiosidade com a inflação final desse ano. A inflação desse ano poderá sim ir além da meta? Sim. Talvez. Mas cremos que seja difícil ir além de 7,5%, além de que pode ser ainda menor, em virtude do aspecto recessivo da economia, como consequência da política ciclópica de exclusivo aumento de juros para o controle inflacionário.

A ver.

p.s.: Acesse o artigo que prevê inflação em 8,2% esse ano em http://g1.globo.com/economia/mercados/noticia/2015/04/mercado-financeiro-sobe-para-820-estimativa-de-inflacao-para-2015.html

p.s.2: Texto revisto e ampliado, inclusive com grande alteração do antepenúltimo parágrafo ("E o Brasil também peca..."), que estava com má redação.

p.s. de 13/04/2015 - Vejam uma análise da economia brasileira pelo FMI que está melhor do que o que se publica por aqui. Publicado no Valor Econômico. Acesse: http://www.valor.com.br/brasil/4001748/fmi-reduz-previsao-para-pib-do-brasil-mas-elogia-ajuste-fiscal
O artigo não diz, mas o FMI projeta inflação de 7% para o Brasil em 2015. Já nosso mercado que projetava 8,2% (rsrsrs) começou a baixar sua expectativa.. alguns dias após nosso artigo que já aponta que 8,2% de inflação este ano está difícil de acreditar.. acesse a alteração de expectativa de inflação pelo mercado, após nossa análise, em http://www.efe.com/efe/noticias/brasil/economia/mercado-financeiro-reduz-previs-infla-para-2015-brasil/3/2019/2585014
É uma grande palhaçada essa expectativa inflacionária pelo mercado no início de cada ano... tsc, tsc, tsc.

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