quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Comentários Econômicos de Novembro de 2014

Pessoal, e função das abordagens míopes e parciais da grande mídia sobre o tema macroeconomia, sou obrigado a vir a vocês para fazer algumas considerações e colocar os pingos nos "is". O sensacionalismo econômico está criando grande gap informativo e gerando a perspectiva de que estamos em verdadeiro caos econômico com os elementos de sempre: inflação descontrolada, risco de desemprego, finanças públicas em frangalhos e balança comercial em frangalhos, ou seja, caos total e desmando econômico absoluto. É verdade? Não.

Olhem os destaques da página A-3 do Jornal do Commercio do dia 20 de novembro:

"IBGE - Desemprego cai e renda sobe - Índice recua de 4,9% em setembro para 4,7% em outubro, menor patamar para o mês da série histórica da PesquisaMensal de Emprego (PME), iniciada em 2002. Já o rendimento médio do trabalhador avançou 2,3% no mês passado, alcançando R$2,122,10."

"Salário - Rendimento no Rio prossegue em alta"

"IPCA-15 - Prévia da  inflação oficial desacelera para 0,38%"

E a única ruim: "IGP-M avança 0,72% na 2ª parcial do mês"

Senhores, isso para você indica caos econômico? Desemprego em queda, rendimento em alta, inflação oficial surpreendendo os analistas positivamente e confirmando que terminará o ano dentro da meta.

Observe: No ano o IPCA, incluindo outubro, está em 5,05% (Jornal O Globo, Índices, de 26/11/2014, pg. 27). Se a inflação de novembro fechar em 0,38%, a inflação pelo IPCA vai a 5,43%, com margem para que dezembro apresente inflação de até 1,07% e mesmo assim fique dentro da meta de inflação. A possibilidade de a inflação não fechar na meta é praticamente nula, até porque já houve aumento de gasolina e energia elétrica, por exemplo.

E a inflação do IGP-M? avança a 0,72% na parcial do mês de novembro? Caos? Não. a evolução do dólar é 60% do IGP-M. O dólar subiu? Sobe o IGP-M. E as razões para o dólar subir têm mais a ver com movimentos internacionais e o FED do que propriamente o que está ocorrendo aqui em termos econômicos. É claro que mais exportação, mais superávit da balança comercial e mais investimento direto estrangeiro poderiam diminuir o valor do dólar e o IGP-M, mas o IGP-M do ano inteiro está em quanto? 2,05% até outubro!! Se incluir a prévia de novembro vai a 2,77% no ano, faltando somente dezembro para fechar o ano.  É por isso que você não mais o vê nas manchetes da grande mídia, porque senão ia parecer que a inflação está baixa.. rsrsrsrsrs

Os juros estão altíssimos, refletindo liberdade do Banco Central em administrar a política monetária na persecução da meta inflacionária. Isso combate a inflação. Não como O Blog Perspectiva Crítica defende, que seria com mais medidas macroprudenciais e menos juros, mas a inflação está sendo atacada.

Melhorar a exportação não depende só do Brasil, que pode fazer muito mais, mas também de o mercado internacional estar aquecido, o que não ocorre. Com recessão e baixo crescimento em todo o mundo, é difícil esperar que nossa exportação bombe pura e simplesmente. Trabalhar incentivos tributários para a exportação é importante, mas o governo já desonerou a produção em mais de 100 bilhões de reais no ano de 2014. Já há notícia de queda da arrecadação. A responsabilidade fiscal também exige que se garanta receitas. Organizar a tributação para que seja eficiente não é simples. e não pode ser feito açodadamente. O ritmo de desoneração tributária da produção está razoável e deveria afetar menos as contribuições previdenciárias.

As concessões de portos, estradas, ferrovias, hidrelétricas, de linhas de transmissão de energia, de blocos para exploração de petróleo... tudo isso está alavancando investimentos, mantendo giro econômico, geração de empregos, e o investimento direto estrangeiro dentre os cinco maiores do mundo de novo!! Em torno de 60 bilhões de dólares de novo para o Brasil. Isso ajuda a manutenção de dólar em patamar razoável também, mesmo com o risco de aumento de juros do FED, o que valorizaria o dólar no mundo todo.

Agora, ninguém publica que a bolha imobiliária no país, que agora começa a ceder e esvaziar é grande responsável, também, pelo baixo giro econômico atual. Isso sempre ocorre assim, senhores. O Japão está com baixo crescimento econômico há 30 anos, desde que teve grande valorização imobiliária nos anos 80 e hoje tem relação dívida/PIB de 220%, está em recessão econômica e persegue maior patamar de inflação, para conseguir maior crescimento econômico. Europa está em recessão com relação dívida/pib média superior a 90%, desemprego médio de dois dígitos e quer aumentar o patamar de sua inflação média de 2% ao ano para conseguir maior crescimento econômico. E agora até os EUA sugeriu admitir maior inflação para aumentar crescimento econômico. Então, ter inflação de 2%, pura e simplesmente, não parece remédio para todos os males da economia em uma sociedade.. rsrsrsrs.

É risível a abordagem que vemos em grandes jornais brasileiros de absoluta intransigência com o centro da meta e ainda com o objetivo de que nossa inflação seja igual a dos países ricos que já têm renda média de 45 mil a 56 mil dólares, enquanto temos de 13 mil dólares. Quando chegarmos a 45 mil dólares de renda média, aí também serei conservador, porque somente então terá o que ser conservado. No momento a renda média alta deve ser ainda criada e para isso o crescimento econômico deve ser maior, com o risco de um pouco mais de aquecimento inflacionário, desde que dento da meta. É assim que são as coisas no mundo real e não no mundo onírico de inflação baixa estável com crescimento alto estável. Esta configuração às vezes ocorre, mas não é durável como parece fazer crer os artigos econômicos de grandes jornais no Brasil.

Mas e os países do America do Sul que estão com crescimentos melhores? México, Chile, Peru, Colômbia? Senhores, qual a plataforma própria produtiva desses países? Não têm parque industrial nacional como o Brasil.. somente o México se aproxima, mas é bem menor. Eles não têm a previdência social que temos para o nosso povo. E produzem o que? Cerveja? Eles podem se abrir totalmente ao exterior porque não têm parque industrial nacional a perder para ninguém. Seu parque industrial existe devido a empresas e investimentos estrangeiros quase exclusivamente. A pauta de exportação do Chile é quase integralmente de produtos primários. O único país na América do Sul que tem parque industrial competitivo (não tão competitivo quanto deveria) grande, autônomo e nacional é o Brasil.

O Brasil também é praticamente o único a exportar uma soma razoável de produtos manufaturados de alto valor agregado. Veja se Peru, Colômbia, México e Chile exportam aviões nacionais como nós exportamos os aviões da Embraer.. Existem crescimentos e crescimentos... veja se a Alemanha está se comparando com o Chile... pô, não dá. Aceitamos todas as comparações desde que sejam sérias para entender o que podemos copiar de bom mas entendendo as diferenças entre as economias que se comparam e relativizando, em função dessas diferenças, os resultados econômicos de cada Nação. Todos têm a nos ensinar algo, mas devemos ser críticos nessas comparações.

Por que o Blog Perspectiva Crítica é otimista quanto à nossa economia? Apesar de pela primeira vez em muitos e muitos anos estar sendo publicado que chegamos ao déficit gêmeos (déficit na balança comercial e déficit fiscal), os EUA já tem déficit gêmeos há pelo menos uns 20 anos? Talvez mais. Nosso déficit gêmeo foi verificado somente agora, no mês de novembro? Mas provavelmente não fechará assim no ano, pois teremos superávit, como há mais de dez anos, na balança comercial. E o déficit fiscal? Parece que teremos superávit primário no fim do ano.. é o que parece. Mas não atingirá a meta de superávit fiscal. Veja, isso é diferente dos déficits fiscais que americanos e europeus obtiveram durante a crise financeira internacional inteira, desde 2008 e que ainda não acabou. Eles chegaram a ter 8% de déficit. E estão vivos e com a mídia batendo palmas para seus crescimentos de 0,3% (França), 0,8% (Alemanha) e 2,1% (EUA), mesmo co índices de desemprego muito maiores do que o brasileiro. Nossa situação é de muito melhor qualidade social e econômica.

Então senhores, a verdade é que no momento estamos muito bem. Nossa situação econômica é das melhores no mundo de que ângulo você pretenda ver. Não é uma situação perfeita, como a de nenhum país é. Mas estamos em um trajeto autônomo de gestão econômica, fiscal, monetária e industrial. Muito pode ser melhorado, claro. E há vários erros e alguns graves, como principalmente a questão elétrica, o atraso nas concessões e na exploração de petróleo, mas tudo tem justificativas de interesse nacional e sobre os quais já falamos por aqui. O governo tentou realizar concessões sob o pressuposto da "modicidade tarifária", diminuindo lucros dos empresários e barateando serviços ao cidadão. Isto nõa é propriamente ruim, não é mesmo.. rsrsrsrs. E conseguiu realizar várias concessões mesmo assim que estão em andamento. Vender caro concessões não é irresponsável. Pelo contrário, é responsável!!

E a corrupção? Senhores, isso é caso para a Polícia. Em discussão econômica essa questão nõa pode ser tomada como parâmetro para realização de nada, pois é uma deturpação criminosa que deve ser atacada pelas instituições responsáveis. Corrupção existe no mundo inteiro. Quem corrompe e é corrompido que responda a processo e, se for culpado, seja preso.

E para o futuro próximo? Vemos o seguinte: correção de valores de imóveis e endividamento alto de famílias pode conter inflação, como está ocorrendo. Aumento de produção de petróleo, aumento de produção de derivado de petróleo, menos importação de derivados de petróleo pelo País, mais exportação de petróleo bruto. Isso é bom indicativo tanto para a balança comercial de 2015 como para a arrecadação fiscal. Vemos que se trata a crise financeira internacional como em seus momentos finais e que em dois a três anos o mundo já estaria retomando crescimento e novo ciclo de expansão econômico ocorreria, isso será antes do fim do governo da Dilma. Se o Brasil conseguiu sofrer menos durante a crise, crescer sua economia, gerar empregos.. aproveitar esse próximo ciclo exigirá grande esforço no setor de educação e inovação. A Dilma está nomeando Levy e Barbosa para Economia e Planejamento... a configuração econômica parece favorável para esses próximos três anos.  



 

6 comentários:

  1. Respostas
    1. Flávio, respondi na forma de comentário para compartilhar mais facilmente com outros leitores.

      abs

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  2. Flávio, desculpa o atraso, mas estou revendo a segunda edição do livro " O Estado Conformacional", preparando o lançamento do segundo livro com uma coletânea de artigos-chave do Blog Perspectiva Crítica e, clrao, como sou humano, curti as festas de fim de ano.. rsrs

    Primeiramente, quero agradecer-lhe imensamente a lisonja de nos seguir. Travamos aqui um debate amplo, franco e aberto sobre os temas de economia, política e sociedade.

    Sendo franco e honesto, a resposta mais detalhada à sua pergunta terá de estar no próximo artigo sobre an´[alise econômica, o que fazemos normalmente de dois em dois meses, no máximo, porque, ao contrário da grande mídia, não vendemos notícia e não temos de passar dia-a-dia o que ocorre.

    Para quem acompanha e entende as questões econômicas, nada muda em menos de seis meses a não ser que ocorra algo fantástico, como a crise financeira internacional ou outras coisas não tão graves mas muito intensas e que possam irradiar efeitos para a economia, como seca, guerra, conclusão de grandes pactos econômicos, crises políticas.. coisas do gênero.

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  3. (continuando)

    De lá pra cá, em rápido briefing par atingir o objetivo de uma resposta superficial, nosso desemprego ficou em 7% enquanto a Espanha ainda está em 21%, a Grécia 24% e a Europa em média de 10,5%. De lá pra cá nossa previsão de melhora da conta petróleo se confirmou, nossa previsão de continuidade da queda de preço de imóveis se confirmou (e recente artigo do Jornal do Commercio indica que as construtoras só esperam normalizar o excesso de estoque em 13 meses), e o bom saldo da balança comercial brasileira também se confirmou, como dissemos.

    Entretanto, a pressão inflacionária aumentou, chegando a 10,66%, muito acima da expectativas até de analistas renomados no mercado financeiro que viam 9,5% em novembro. E a falta de firmeza do governo em adotar medidas fiscais adequadas, sugeridas por Levy, geraram a queda do grau de investimento por duas grandes agências de rating.

    Levy, e seu planejamento fiscal e econômico, com o qual contamos na avaliação de novembro de 2015, de lá pra cá, saiu do Ministério da Fazenda. O petróleo que valia US$50,00 o barril brent, agora vale US$35,00, prejudicando até a exploração do pré-sal e o minério de ferro que já valeu US$190,00 a tonelada, hoje vale US$38,00, prejudicando imensamente a economia brasileira.

    Entretanto as concessões de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias estão saindo do papel e se transformando em investimento já em 2016. E a inflação para 2016 está avaliada em 6,5% ou 6,7%. queda de 35% no índice inflacionário de 2015.


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  4. (continuando - fim)

    Em 2016 continua a previsão de início da atividade do Banco dos Brics, o que pode catapultar investimentos em nossa produção. Teremos de acompanhar todas essas informações e passar novas análises à medida em que os fatos políticos e econômicos, nacionais e mundiais se apresentem.

    Os pressupostos da informação e análise efetuada em novembro de 2015, no que tange ao otimismo em relação a nossa economia se mantêm, em quase tudo, com o minus de não se saber, ainda, como o novo Ministro da Economia se sairá em obter credibilidade para seu plano e obter resultados a curto e médio prazos. Seus passos devem ser observados e analisados.

    A continuidade de controle inflacionário somente através de aumento de juros Selic é burro e o aumento de depósito compulsório não está sendo adotado pelo Brasil, como o foi na China, com várias vantagens fiscais em relação ao aumento de juros que o BACEN, vendido ao mercado, efetua. Tombini, como todos os ex-diretores do BC, também quer emprego em bancos milionários quando se aposentar, não é mesmo? rsrs.

    Em breve farei uma análise. Nossas análises não competem com o dia-a-dia superficial e com intuito de venda de manchetes e jornais para a população. Nossas análises compartilham dados e raciocínios sobre causas dos números apresentaods pela economia. É diferente.

    Leia várias análises anteriores e veja a coesão informativa. Acrescente nosso canal autônomo de comunicação sobre a realidade econômica, social e política brasileira.

    Espero ter atendido sua pergunta.

    Grande abraço!

    Mário César Pacheco
    Blogger

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