A Miriam escreve muito bem quando não escreve apaixonada por uma idéia. Quando ela é fria é quando ela apresenta o melhor de si. Se se entusiasma, aí sai o que conhecemos de verborragia financista e de Estado mínimo e juros máximo. Mas quando ela está fria escreve ótimos artigos, como os que me incentivaram a lê-la e acompanhá-la por anos e anos e me ajudaram, junto a outras leitura, naturalmente, a entender economia (macro e dos fatos), o pouco que entendo.
E agora ela apresentou este artigo equilibrado e muito bom, cuja leitura aconselho, mas que com cuja conclusão eu discordo. Conclui ela que não importa muito o que o The Economist escreveu (concordo), mas o que fazemos e o que somos. Aí ela informa que somos uma economia pouco integrada ao mundo em último lugar no ranking dos países importadores e mal colocado no ranking dos exportadores, inclusive atrás da Índia. Informa ela que mesmo as multinacionais que vêm para cá vêm para vender para nós mesmos e não nos integram no mundo. E ainda diz que essa lista de 5 mil itens que recebem tarifas de importação é uma loucura e que por isso e por toda a burocracia é que investidores estrangeiros titubeiam em vir investir como a Presidente Dilma quer e o Brasil precisa.
Vejam, os dados estatísticos que a Miriam traz são ótimos. Sua preocupação com a burocracia e administração de itens de importação também. Mas a preocupação do Brasil deve ser consigo. Se a economia estiver crescendo, o investidor não está nem aí para tudo isso. Essa é a verdade. Tanto é que somos o terceiro destino de investimentos estrangeiros. As multinacionais vêm pra cá porque fazemos dinheiro.
Agora, viriam mais se fôssemos como o Panamá, que não têm política industrial, não têm cadeia de indústrias, não têm regulação de mercado, não têm grandes e exigentes leis trabalhistas e nem previdenciárias. Importaríamos tudo e estaríamos no topo da lista de importadores e ainda estaríamos no topo dos investimentos estrangeiros, quem sabe? E também se fôssemos incapazes de comprar o que produzimos a exportação seria fantástica, mas nossa qualidade de vida seria pior do que hoje.
Então, aí vai minha crítica ao artigo: o artigo aponta que temos coisas a melhorar (concordo), mas tudo o que existe (entendido como ruim) é em função de um projeto de economia autônoma e que garante que o brasileiro participará da riqueza produzida aqui, assim como garante que nossas empresas e indústrias vivam num mundo que não é justo comercialmente. Não podemos, ainda, competir diretamente com franceses, alemães, ingleses e americanos e chineses que subsidiam enormemente suas economias. Então aqui o pecado da Míriam é grande. Exige que nos abramos, mas competiremos de forma desigual e em nosso desfavor.
Quais cadeias produtoras nossas podem competir no exterior? Então somente para essas poucas devemos ter arcabouço jurídico mais simples e que deixa ocorrer uma competição maior. Competir para perder por quê? Eles, os estrangeiros, não fazem isso. Só um imbecil colonizado pode defender que se abra a economia sem antes ter a mesma capacidade de produzir e competir. Se seguir a máxima do livre comércio fosse a tônica dos estrangeiros, não haveria salvaguardas para os seus produtos agrícolas nacionais e nós, brasileiros, teríamos dominado grande parte dele na Europa e EUA. Mas vocês acham que eles deixariam?!?! Nunca!! E o The Economist não critica isso.. rsrsrs.
Não há como todos os investidores virem ao Brasil como abelhas no mel, pois a política nacional em prol do País azeda um pouco o mel. Quanto mais risonhos vierem os estrangeiros, mais preocupado fico. Quanto mais equilibrados e com ar de trabalho vierem, ponderando riscos e lucros, mais sei que vêm com intenção de trabalhar e acrescentar ao País e não apenas se aproveitar de uma política que nos desfavorece internamente. Muitas palmas uníssonas de estrangeiros em economia brasileira é esquisito. Quero as palmas só dos economistas e jornalistas econômicos sérios: Paul Krugman, Joseph Stiglitz e poucos outros. Esses querem mercado equilibrado e todos ricos. Diferentemente da grande maioria que quer só europeus e americanos ricos e os outros dominados.
E quanto à análise econômica de setembro de 2013, aí vem em conjunto e para corroborar minha posição de que o Brasil não perdeu rumo nenhum, muito pelo contrário.
Senhores, da mesma forma que a frase "os investidores não confiam no Brasil" pode ser morta instantaneamente com a análise do ranking de maiores destinos de investimentos estrangeiros (IED) em que o Brasil só perde para EUA e China, a frase "a economia brasileira está um caos assim como a política fiscal" é assassinada pela verdade imediatamente quando se vê que:
a) a inflação medida pelo IPCA caiu por todo o primeiro semestre de 2013, iniciando em 0,86% em janeiro e chegando a 0,03% em julho, com um único pique de 0,55% em maio, neste intervalo. Agosto veio com 0,24%, o que anualizado para frente (assim é que se conta e administra inflação) dá abaixo da meta de 4,5% (multiplique sempre o índice mensal por doze para saber a inflação anualizada pra frente)!!
b) Mais importante de tudo: relação dívida/pib decrescente há dez anos!! E que agora chegará a 34% em dezembro de 2013, enquanto na Europa e EUA está em tono de 100%!!
c) Temos superávit fiscal esperado de 2% do PIB para o fim do ano, enquanto americanos e europeus amargam déficits que variam de 3% a 12%!!!
d) Nosso desemprego está em 5,3% e o de europeus e americanos está entre 6% e 25%... com jovens europeus amargando 62% de desemprego em média...
Aí, senhores, eu adiciono a isso os lucros recordes dos bancos brasileiros, e sua falta de exposição a títulos de dívidas de países quebrados como Grécia, Chipre, Espanha, Itália.. e aí pergunto... como pode um investidor se manter em títulos europeus e não vir investir no Brasil? É importante você ver aqui que há um elemento cultural e patriótico em continuarem investindo nos EUA (com déficit gêmeo: fiscal e comercial) e com relação dívida/pib de 107%, assim como em continuarem a investir na Europa que economiacamente nem se compara ao Brasil, em números.
É muito importante você ver isso. E se você viu, perceberá que toda a falácia de Estado Mínimo, livre mercado (não para agrícolas e minérios, não é?), livre flutuação de capitais no mundo (o FMI depois da crise financeira de 2008, com a revoada do dinheiro europeu e americano para os emergentes - gerando inclusive bolhas imobiliárias em todos os Brics -, passou a defender controle de saída e entrada de capitais.. rsrsrs.. claro.. senão Europa e EUA quebravam.. mas ninguém se preocupava em controlar quando o risco de quebrar era dos emergentes), e de que as regras de mercado (mercado livre de forma geral) não são puras, nem engrenagens automáticas e muito menos respeitadas por quem as alardeia (países trilaterais através de suas universidades e mídia: EUA-Europa-Japão).
Bom, vacinado agora, como você está, veja que nossa economia está muito bem e não só por bons motivos. A inflação está estável e assim ficará porque 2/3 de nosso pib é o consumo, mas as famílias estão no mais alto nível de endividamento histórico de 45% (já foi de 33%). Inclusive isso baixou até a inflação de serviços, grande vilão da inflação recente de 2012 e 2013!! Além disso a safra foi recorde de 180 milhões de toneladas. Foi só chegar aos supermercados que a inflação diminuiu, como sempre. As pessoas estão tão sem dinheiro que acabou a sanha por compra de imóveis e as construtoras amargam estoques que não caem.. resultado: agosto foi o primeiro mês com queda de preço de imóveis e aluguéis. Carros também estão fazendo promoções e já falam em desenvolver estratégia de vendas de serviços, já que venda de carros não parece poder subir a curto prazo.
Então internamente a parte de consumo está controlada. E o orçamento público (política fiscal)? Para tentar fazer a economia crescer, e atendendo a demandas populares das manifestações patrióticas de ruas, o governo está investindo em infraestrutura, serviços médicos, transportes, sem descuidar de produção e distribuição de energia elétrica. A política de baixa de tarifa de energia elétrica gerou gasto anual de 8 bilhões de reais ao fisco. Mas tudo isso está gerando crescimento econômico acima das expectativas (claro.. rsrsrs.. essas expectativas de mercado...rsrsrs), mantendo emprego em alta (índice atual de 5,3% de desemprego é um dos mais baixos no mundo rico) e mercado saudável para se viver e para investimentos. Então a queda de superávit primário está plenamente justificada, gera bônus para o Fisco, já que a arrecadação de tributos continua recorde, mantém empregos e crescimento econômico e, muito importante, ainda é superávit fiscal!!!! Todas as economias ricas estão com déficits fiscais.
Pelo lado monetário, BC erra ao elevar juros. Sim, porque a inflação desce desde janeiro e os argumentos do BC para aumentar juros está em cima de "potenciais reflexos inflacionários". Gente.. isso é um absurdo. Juros existe para atacar inflação real e não imaginária. Paul Krugman, no seu artigo "Deem uma chance aos empregos", publicado no O Globo de 17/09/2013, pg. 16, criticou o FED e as discussões sobre manutenção de austeridade e "aperto monetário". Ele pediu que continuassem as injeções de 85 bilhões de dólares na economia americana par gerar empregos e girar a economia. Vou reproduzir trecho do artigo dele que repete o que falo aqui sobre só aumentar juros quando se concretizar a inflação. Veja:
"O ponto é que, embora haja incerteza legítima sobre o que o Fed deveria fazer (aperto monetário e controle da inflação mesmo que potencial ou continuidade de injeções de bilhões mensais na economia e salvar empregos mesmo com risco de potencial inflação), os custos de ser rigoroso demais superam largamente os de ser leniente demais. Errar é humano; errar no lado do crescimento é sábio.Perfeito. Peço o mesmo, com as idênticas ponderações, ao BC brasileiro: não aumentem juros antes de verem a inflação. Mais não posso fazer.
Acrescentaria que um dos pecados predominantes da política econômica de nosso tempo é permitir que riscos hipotéticos, como o da crise fiscal que nunca aconteceu, superem as preocupações sobre os danos econômicos que acontecem aqui e agora. Odiaria ver o Fed cair nesta armadilha (o BC brasilerio já caiu!).
Então minha mensagem é: não façam; não reduzam o afrouxamento monetário, não apertem, até que possam ver o branco dos olhos da inflação. Deem uma chance aos empregos."
Mas essa imbecilidade monetária do BC gera, além de combate ao crescimento e ao emprego, a certeza de que a inflação não subirá.. rsrsrs Como? Sem dinheiro na mão das famílias e o BC ainda apertando... rsrsrs Nem aumento do dólar repercutiu na inflação,, por quê? Porque as famílias não tinham dinheiro. Simples assim. Aumentou produto em dólar? Não se comprou. E diminuiu a importação.. ohhhh inimaginável.. rsrsrs
Previsão de inflação mais que controlada então.
Do lado do câmbio, as operações do BC de vendas diárias de dólares, à vista e no mercado futuro, que já chegaram a 60 bilhões de dólares desde maio de 2013, foram importantes para que o dólar não estourasse, mas não tanto quanto o Fed decidir continuar a injetar 85 bilhões de dólares na economia americana mensalmente, aliado a crescimento da China, melhoria da economia americana e melhoria menos considerável, mas melhoria de números econômicos europeus.
Então, câmbio tranquilo. Além disso, as concessões brasileiras em infraestrutura e o leilão do pré-sal trará tanto dólar para o Brasil que provavelmente o problema do BC será o de não deixar o dólar cair em 2014.
O crescimento está surpreendendo positivamente, a economia está equilibrada, o desemprego está baixo e as previsões são de muitos investimentos no Brasil aumentando a espiral positiva de crescimento, emprego, arrecadação.
Então, para concluir, pergunto à Miriam e ao The Economist: o Brasil perdeu rumo de quê? Quais números assustam? Ridículo. A verdade é que fora o desgaste natural de um governo se perpetuar no tempo no poder, os indicativos são de que 2014 será recheado de boas novas e Dilma não se apresenta fraca para uma futura reeleição. Mas este é um outro papo.
p.s. de 30/09/2013 - Em relação ao fraco superávit da balança comercial, senhores.. totalmente circunstancial em função da conta petróleo. Como a Petrobrás, ao contrário do que ocorreu no FHC, teve a responsabilidade de parar várias plataformas para fazer manutenção, a produção de petróleo caiu e caiu a exportação de petróleo bruto e aumentou a de derivados.. óbvio. Mas as plataformas estão voltando até o fi do ano e durante o primeiro semestre de 2014 e as novas plataformas construídas para o pré-sal também passarão a funcionar. Assim, o superávit comercial de 2014 pode surpreender. Isso também pressiona dólar para baixo (ou o mantém em preço equilibrado), força aumento de reservas internacionais do governo e fortalece a economia, pressionando inflação para baixo (dólar baixo tem pressão deflacionária). Só boas notícias reais em todos os campos... Nem mesmo as desonerações tributárias geraram grandes perdas de arrecadação, tirando um aumento de 10% no déficit da previdência social.. o que avisamos que aconteceria, mas que a mídia de mercado incentivou bastante. Tudo bem até por aqui.
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