terça-feira, 26 de abril de 2011

Sobre o mapa americano que retira a Amazônia dos territórios dos países latino-americanos, inclusive do Brasil

Pessoal, hoje pude trocar correspondÊncia com um grande amigo que me enviou e-mail perguntando se eu já tinha visto um mapa absurdo com o qual os americanos estariam educando suas crianças informando que a Região Amazônica seria território internacional, desconsiderando a divisão política existente em que tal região integra os territórios soberanos de uns nove países latino-americanos, inclusive o nosso Brasil.

Há um bom tempo eu queria tratar desse tema, mas não via oportunidade, já que outras informações se tornavam mais oportunas, à medida em que a grande mídia apresentava artigos desinformativos que impunham sua abordagem imediata para aproveitar o momento (des)informativo social. Eu gostaria de falar de vários temas, mas, às vezes, como a mídia publica algo errado e de apelo, aproveito o momento para dar o tanto quanto possível imediato contraponto e aproveitar ao máximo uma sinergia comunicativa criada pela publicação do artigo que critico.

Mas há tempo para algumas abordagens autônomas e conseguimos inovar na pauta de discussão social várias vezes. Hoje, é um desses dias.

O tema sobre esse mapa de livros didáticos americanos é conhecidíssimo e a política americana de tentativa de criar uma legitimidade para intervenção em territórios ricos em água, biodiversidade genética e em minérios, como é o caso da Região Amazônica que até petróleo tem, é uma constante especialmente para os EUA.

Veja a carta que escrevi para o meu amigo e cujo teor compartilho com você.

"Jà vi (o mapa). É o que eu tinha visto. Alguns disseram que este mapa foi criado pelo Exército brasileiro e que essa informação foi disseminada pela inteligência do Exército para mobilizar o povo brasileiro para esta hipótese. Esse mapa começou a circular antes da eleição de Bush contra Al Gore.

(Seja)Através de invenção do Exército ou sendo impressões verdadeiras de livros americanos, a verdade é que na época o próprio Al Gore, democrata, defendia a "proteção" de áreas sensíveis e de importância para a normalidade do clima mundial: amazônia à frente. Tive medo naquela época, porque eu não queria o Bush, mas o argumento dos democratas era mais inteligente do que as óbvias movimentações do vaqueiro do Texas.

Graças a Deus Bush ganhou e a política fina que poderia possibilitar movimentos mais inteligentes no sentido de "proteção" de áreas internacionais michou. Com a crise de 2008 então... ficamos salvos pois eles agora não têm como olhar pra fora antes de arrumarem a bagunça econômica e política interna.

O Governo americano sempre está de olho na Amazônia. No livro Relações Perigosas (de Moniz Bandeira), a informação é de que queriam fazer uma anexação da Amazônia brasileira como fizeram no México. A estratégia era obter a livre navegação do Amazonas, instalação de portos e centros comerciais no Amazonas, propiciar o desenvolvimento de assentamentos americanos e depois, quando os assentamentos crescessem e a população local fosse favorável aos americanos em boa quantidade percentual em relação aos brasileiros locais, incentivar e apoiar autonomia regional e depois o reconhecimento de tratamento especial. Ou viraria novo território americano, como Texas, ou viraria Estado Satélite, como Costa Rica. A ocupação seria com os negros americanos (a menção à forma de ocupação, inclusive com negros americanos é descrito no livro mencionado).

Por isso é importante investirmos agora em armamento militar. O projeto do submarino nuclear, a compra de 3.000 blindados anfíbios para o exército, o programa FX2 e o projeto de utilizar avião não tripulado para vigiar a fronteira contra o narcotráfico é importantíssimo para que nos atualizemos em tecnologia de defesa até 2025, quando a água doce norteamericana não será suficiente para a sua população e o apetite dos falcões americanos traga de volta toda a mobilização em "defesa de territórios com ecossistemas sensíveis", através da instalação de protetorados internacionais, sob a batuta dos norte-americanos (claro!) e todos estes ambientes ficariam fora dos EUA, Europa e Japão, claro, assim como de países que possam se defender como Rússia, China e Índia, os quais, por acaso, detêm a tecnologia e bombas nucleares."


Pessoal, é isso. Não adianta ver o mundo como querem que nós vejamos (ou como gostaríamos que fosse). Se os europeus e americanos possuem "brasilianistas", senhores especializados em Brasil, nós temos alguns cientistas brasileiros "americanistas" a quem devemos prestar atenção porque estudam os movimentos americanos não sob a ótica, muitas vezes a soldo, mercadológica, mas sob o prisma de movimentação estratégico-política que se desenvolve por anos e décadas. Temos entre nós o venerável Luiz Alberto Moniz Bandeira que durante mais de 30 anos estudou, pesquisou e observou documentos e manobras americanas no Brasil.

Este mundo que está aí só respeita quem tem poder econômico e militar. Não se enganem. Não é preciso nem pedir para integrar o Conselho de Segurança. Se o Brasil fosse economicamente forte (estamos chegando lá) e militarmente forte, o lugar estaria muito mais ao nosso alcance, sem força, por mera questão de fato. O que não nos faria prescindir de profissional representação diplomática, óbvio.

Os EUA seguem princípio instituído por eles mesmos, na época de Theodore Roosevelt, não o bonzinho Franklin de 1929, mas o Roosevelt anterior, de que o país que não tiver capacidade de autogoverno transfere essa legitimidade para quem a tenha e a queira e possa exercer mesmo alhures. Isso também era a política do Big Stick. Alijaram os espanhóis de suas colônias na América Central e também intervieram na República Dominicana, Nicarágua e Panamá.

Os Republicanos, reduto dos "falcões", cresceram os EUA na base da força. A formação do País EUA foi forjada na Guerra de Secessão. Seu hino enaltece "canhões". A política do Big Stick foi desenvolvida pelos EUA. A política do ataque preventivo foi apresentado por Bush para atacar o Iraque e está sendo usado contra a Líbia, em ambos os casos ilegalmente pois sem autorização da ONU.

O que nós podemos fazer é nos informar e combater essas investidas, as quais são fundadas em argumentos falsamente legítimos de intervenção armada para defender direitos humanos, para defender a ecologia, para defender um pequeno grupo sofrido que "deveria" ser autônomo em um determinado País. Temos de fortalecer a ONU. Os organismos multilaterais são o único obstáculo ao uso da força contra a soberania dos povos, o que ocorre sempre com base em argumentos de legitimidade internacional.

Vi há pouco, no Jornal O Globo, que um americano de ascendência asiática defendia o enfraquecimento de organismos multilaterais e defendia que Kadafi fosse morto, pois apesar de não ser legal seria legítimo. Gente, este é o argumento que amanhã pode ser usado contra qualquer País.

A ordem internacional não existe para proteger Kadafis, mas protegendo a não violação de regras internacionais, em casos extremos como o de Kadafi, você garante a segurança de países que por não ter estrutura para criar e publicar fatos para o mundo, não consegue se defender da propaganda maciça dos EUA e EUropa sobre isso ou aquilo que o País tenha de errado, e com isso os EUA e Europa legitimam ações que gerarão a ofensa à soberania daquele país, com base em argumentos de ecologia, direitos humanos, destilados às vezes por anos e décadas, com interesse real econômico. Estão reconhecendo algum caso possível em futuro próximo? Eu estou.

p.s.: Sobre Theodore Roosevelt e a política do Big Stick ver http://pt.wikipedia.org/wiki/Theodore_Roosevelt

p.s. de 09/06/2011: O autor do livro "A Trilateral" é Theotonio dos Santos e não Teotônio Vilela, como informado no corpo do artigo. Os autores são Hugo Assmann, Noam Chomsky e Theotonio dos Santos.

8 comentários:

  1. Mário,

    No BLOG do autor ele inclusive se declara perplexo com a grande atividade do sítio dele em busca das informações sobre o livro mencionando que o tal NÃO pode nem ser encontrado no portal AMAZON.COM.

    http://www.davidnormanblog.com/introduction-to-geography-by-david-norman/

    Enfatiza:

    "Since 2000, a forgery has circulated falsely claiming that the United States and the United Nations have assumed control of the Amazon rainforest in order to safeguard its treasures for all mankind."

    Traduzindo:

    "Desde 2000, uma falsificação tem circulado afirmando falsamente que os Estados Unidos e as Nações Unidas assumiram o controle da floresta amazônica, a fim de salvaguardar os seus tesouros para toda a humanidade."

    Por fim, completa solicitando aos visitantes que dê suas sugestões sobre o caso.

    Devemos nos salvaguardar que até hoje existem grupos de pessoas, associações, partidos políticos, e PRINCIPALMENTE ONGs e OSCIPs que se prevalescem da falta de interesse das pessoas do Sudeste (por exemplo) ou até mesmo da ignorância de alguns para propagar o terror.

    O que devemos nos ALERTAR é sobre a grande atividade dessas ONGs e OSCIPs que atuantes na Amazônia para motivar os índios (também exemplificando) a fim de prejudicar o desenvolvimento do país e o acesso do Estado brasileiro com infra estrutura naquelas regiões.

    Um fato:

    Minha irmã é biomédica e trabalhou por anos como pesquisadora da USP conveniada à Vale do Rio Doce atuando principalmente no Pará para a eleminação biologicamente do mercúrio (por bactérias) metálico do solo e águas nas regiões concedidas à Vale (detalhe: a Vale cancelou o convênio pois não queria investir mais no saneamento ambiental) e conta diversas histórias sobre grandes industrias farmacêuticas mundiais (principalmente francesas) utilizando-se de biopitaria em reservas indigenas.

    Detalhe importante (nas palavras dela): O projeto biológico financiado pelo governo na USP é o mesmo anunciado como descoberta pioneira da NASA na transformação química de elementos por bactérias. Afirmou, inclusive, que muito países tem o mesmo estudo com sucesso há anos, mas a NASA utilizou-se do marketing para promover tecnologia ainda remanescente naquele país visto que nos últimos anos só sofre revés, inclusive, com a perda do investimento governamental do programa espacial e aposentadoria das "space shuttles".

    Hoje, ela trabalha em Seatle nos EUA pois a iniciativa privada daqui não investe em pesquisa no Brasil e as bolsas concedidas pelo Estado brsileiro estavam aquém da perspectiva financeira que queria ter para conduzir suas pesquisas e projetos.

    Infelizmente, na minha opinião, essa é a realidade política dos ambientalistas do Brasil ao invés de exigir compromisso no investimento privado nas ações, preferem receber o financiamento para motivação do levante político sobre alguns assuntos, como Belo Monte. Isso se chama PROFISSÃO!

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  2. Em tempo, na resposta à um vistante o autor escreve:

    "É uma brincadeira e completamente fraudulenta. A página realmente não existe, nem o livro que é supostamente estaria contida. E, acima de tudo, eu não sou um geógrafo ou historiador. Eu nunca escreveria sobre esse assunto, porque, francamente, não tenho conhecimento disso."

    Então, deixemos o "cara" em paz!

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  3. Voltei para mostrar algo muito curioso sobre o assunto:

    O livro em questão que publicou o mapa do Brasil é FALSO como diz um comunicado da CGU em:

    http://www.cgu.gov.br/imprensa/Noticias/2001/noticia60.asp

    Mas o vestibular da UFBA de 2009 é verdadeiro... o único que se pode provar, veja em:

    http://www.vestibular.ufba.br/docs/vest2009/gabaritos/Caderno2.pdf

    Vide a página 16, QUESTÃO 17!!!

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  4. Obviamente, o mapa demonstra a abrangência da Amazônia nas várias nações sulamericanas, mas pegou mal!!!

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  5. Execelntes, como sempre, contribuições Fábio. o ideal realmente é o que você sugere: ao invés de ONGs ficarem correndo atrás de dinheirinho do governo brasilieo e estrangeiro para exclusivamente ficar vivendo de movimentos televisionáveis, podederiam usar sua legitimidade e esses valores para desenvolver meios de incentivar a área privada a investir no desenvolvimento de tecnologias que tornem o mundo mais limpo.
    Mas muitas ONGs são mantidas por governos estrangeiros, como se sabe, para dar suporte a interesses estrangeiros no Brasil e um deles é esse de inventivar índios brasileiros a serem autônomos em relação ao País, de forma que amanhã (e hoje) as ONGs ou seus contratantes possam ter acesso às riquezas em território semi-autônomo indígena. Isso precisa ser denunciado. Farei um artigo sobre como os EUA poderiam tomar a Amazônia.

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  6. Acho importante também, mais do que se o livro existe ou não, é ficar o alerta sobre a existência incontestável de interesses estrangeiros sobre as terras amazônicas, ricas em água, biodiversidade explorável biogeneticamente, e em minérios e até petróleo.

    Verdade ou mentira, na medida que incita ao debate sobre os nossos interesses genuinamente brasileiros, a importância da Amazônia, o valor da riqueza incalculável que lá se encontra e a atenção que devemos dar às investidas estrangeiras "pacíficas" através de missões religiosas e ONGs, espalhando bandeiras de outros países por várias tribos indígenas brasileiras, bem como na medida em que incita à atenção que devemos dar a investimento e presença das Forças Armadas lá, acho altamente válido. Por isso, inclusive, a publicação no blog.

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  7. ... bem, se mostrar o mapa, talvez eu acredite nessas informações, de que há uma ambição política voltada para as nossas terras.

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  8. ., desculpe, mas só tenho em PPS. Recebi por email. Se você deixar email eu te repasso. Mande email para mcpdg.blog@gmail.com

    Agora, veja, um mapa pode ser feito por programa de computador. Há informações na internet de que o autor na verdade é paleontólogo e nunca escreveu esse livro de geografia. Eu procurei na internet o livro e não achei apesar dos vários livros sobre dinossauros escritos pelo autor.

    Mas o importante, também é que estas informações batem com as informações de três livros que existem e posso te passar a lista: "Relações Perigosas Brasil X EUA - De Collor a Lula", Moniz Bandeira; "Presença americana no Brasil", Moniz Bandeira; e "A Trilateral", edição única de 1979, esgotado, Teotônio Vilela era um dos organizadores, junto com três cientistas sociais americanos.

    Chamo a atenção pa ra o fato de que esse tipo de acusação, ou seja, do interesse norte-americano em apropriar-se da Amazônia da América Latina e do Brasil, dificilmente será alardeado publicamente nestes termos. Você não verá propaganda nos jornais em sentido direto. Em política, quem vê a movimentação subliminar antes, pode impedir seus efeitos antes de a movimentação se tornar irreversível.

    Mas é claro que podemos escolher sempre entre informarmo-nos ou sermos céticos. Ou informarmo-nos e permanecermos céticos. Ninguém vai te convencer de nada nem esse é meu interesse.

    Eu vejo, busco informações, concluo e não posso me omitir se a conlcusão é grave. Cada leitor tem a liberdade para fazer o mesmo. Somente compartilho informação.

    Abs

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