Ontem, 23/12/2010, antes de dormir, tentei assistir ao Jornal da Globo. Fico triste de constatar que continuam numa linha factóide e mentirosa, talvez ainda sofrendo pela vitória de Dilma, ao invés de admitir a perda de suas teses e passar a focar sobre as perspectivas reais de governo para frente.
Dois exemplos dessa continuidade absurda de miopia jornalistíca foram as análises de Sardenberg sobre a situação econômica e a do Jabor sobre o Governo Lula.
Sardenberg insiste em comparar a dívida/PIB bruta brasileira, hoje em 60% (a dívida/Pib normal está em 41%), com a dívida/pib bruta média dos emergentes (China, Índia, Rússia, Turquia, México.. - ainda não disse quais são os países que compõem essa média, mas imagino que sejam esses, pois são os comparáveis emergentes de primeira linha como nós, mas me parece que na comparação estão incluídos as Filipinas e a Malásia), hoje em 40%.
Não vou me estender porque já falei sobre isso, mas essa comparação é ridícula e imbecil, gente, simplesmente porque esses países não têm Previdência Pública como a nossa. O Orçamento do INSS, o programa de transferência de renda mínima (Bolsa Família), a assistência social através do LOAS, o financiamento educacional superior como o FIES e o PROUNI, dentre outros programas não existem nesses países, portanto, não dá para comparar os gastos públicos deles diretamente com os nossos como o Sardenberg fez. Comparar somente números diretos assim é irresponsável e enganoso.
Enquanto a relação dívida/pib do Brasil estava pior que a dos países ricos, era essa a comparação feita. Agora que não está, compara-se com a dos emergentes. Só que comparar com os ricos era bom, porque eles têm estrutura semelhante à nossa (relativa a previdência social e assistência social). Comparar com países com renda per capita muito inferior à nossa, sem leis trabalhistas, sem previdência pública e sem assitência soaial para pressionar gastos públicos é uma brincadeira.
A única coisa aproveitável que Sardenberg falou é que precisamos baixar os juros reais, mas ao falar o "como" não tocou no essencial: Mudança de regras de remuneração da poupança. Sem alterar a remuneração da poupança como Lula e Mantega tentaram (e o PSDB e a Globo bancaram que era "mexer na poupança", irresponsável e populistamente), os títulos da dívida pública perdem interesse atrativo como investimento quando a SELIC chega a 8% ao ano. Controle de gastos? OK. Mas ninguém fala que manutenção de crescimento econômico e inflação controlada absorve crescimento de investimento público. Quer dizer, uma palhaçada do nosso amigo Sardenberg. Sem maiores ponderações ele apresenta uma tese que a mim é incompleta e me parece focada em desprestigiar, ainda, o Governo. Espero que o enfoque melhore de nível.
Agora e o Jabor? Disse que o que Lula fez foi "pão e circo" e que a Dilma é séria e deverá fazer diferente e ela sim atacar problemas reais e sérios nuna situação de adversidade e não em céu-de-brigadeiro.
Gente, chega a ser desrespeitoso... pão e circo? 15 milhões de empregos com carteira assinada. Pagamento da Dívida Externa (ou Dívida com o FMI, o mesmo instituto multilateral internacional que agora empresta para europeus). A afirmação de "pagamento da dívida externa" foi usado no excelente Editorial da Folha de São Paulo do dia 19/12/2010. O Lula fez umas quatro revisões/correções da tabela do Imposto de Renda, aumentando faixa de isenção de pagamento de IR e faixa de pagamento de 15% de IR. Instituiu política de aumento contínuo do salário mínimo. Criou acesso efetivo a milhares e milhares de brasileiros ao ensino superior, criou 214 escolas técnicas e quatro universidades. Construiu hidrelétricas e garantiu base energética presente e futura, garantindo que mesmo com o crescimento recorde não haja apagões de grandes proporções no Brasil. Equalizou e incentivou as carreiras de Estado, equilibrando remunerações defasadas. Aumentou valores para Bolsas Científicas... "Pão e Circo", Jabor?
E o "céu-de-brigadeiro"? O governo passou pela maior crise financeira desde 1929, em que todos os países ricos ficaram endividados até o pescoço, com queda de nível de vida (na verdade estavam vivendo um nível superior à sua capaciade econômica em muitos casos, principalmente todos aqueles que usaram os títulos "subprime") e nós continuamos com normalidade de negócios, economia, geração de emprego, arrecadação tributária e crescimento econômico recordes. A manutenção da política econômica do FHC não é mérito? Incentivar o consumo enquanto lá fora todos caíam, e enquanto a Globo falava para não incentivar o consumo, não é mérito do Governo? Investir na economia pelo BNDES, turbinando-o com 180 bilhões de reais, bem combatidos pela Globo, mas o único meio de manter girando o comércio já que os bancos estrangeiros estavam falidos ou em situação de defesa, sem emprestar para ninguém, não é mérito do Governo? Baixar impostos no período de crise, para facilitar a venda, produção e manutenção de empregos no Brasil, não é mérito do Governo? Oferecer e facilitar crédito para compra de imóveis e carros neste mesmo período, para manter nossa economia, não é mérito do Governo... é o cúmulo do ridículo. E depois que o Governo fala e faz, o Presidente não pode falar sobre seus feitos? Não dá, né?
Pelo menos parece que em algum momento irão respeitar a Presidente Dilma, já é alguma coisa.
p.s. 09/08/2011: texto revisto
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