quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Análise sobre o Governo Bolsonaro - 240 dias

Senhores, há muito destilávamos o momento para esta análise. Como todas as mídias estavam aguardando e anunciando análises para os primeiros 100 dias, inclusive por próprio anúncio do governo de apresentação de metas e e resultados, deixamos passar mais tempo para que houvesse um momento após o período anunciado.

Muitas coisas permaneceram as mesmas desde os 100 primeiros dias, mas outras evidentemente mudaram e uma face mais clara se demonstra para a sociedade do Governo Bolsonaro. Vamos a ela.

Embate Grande Mídia x Governo Bolsonaro

Primeiramente, temos de enfatizar que a grande mídia está caçando o governo de todas as formas. É algo figadal mesmo. O pano de fundo para isso está em alguns fatos que se interrelacionam:

(1) A grande mídia sempre atacou o Bolsonaro, não sem motivo, porque ele sempre foi polêmico, para dizer o mínimo. Suas grosserias e falta de qualquer reflexão antes de se comunicar em público, principalmente diante de questionamentos de jornalistas, sempre alimentou esse conflito entre ele e a mídia, a qual tinha nele fonte certa de matérias polêmicas e venda de notícia.  O relacionamento por quase 30 anos, portanto, foi de conflito. Bolsonaro agora está dando o troco. Não prestigia a grande mídia, prioriza as redes sociais e prometeu diminuir em praticamente 2/3 os gastos com propaganda estatal da administração direta ou indireta (autarquias federais e empresas estatais) em canais de televisão. Pode haver uma perda de receita de 3 bilhões par a Rede Globo. Segundo um quadro informativo que compara os gastos do governo e estatais com televisão nas principais redes de televisão no Brasil, a Globo recebe três vezes mais do que os demais, em média. Isso seria corrigido.

Veja o gráfico que aparece no Google lincado ao Blog do Fernades Rodrigues - UOL(não conseguimos comprovar a veracidade desses dados que não estão disponíveis com facilidade na rede):   

Acesse: https://www.google.com/search?q=governo+economizar%C3%A1+bilh%C3%B5es+com+propaganda+em+televis%C3%B5es&rlz=1C1GCEU_pt-BRBR850BR851&tbm=isch&source=iu&ictx=1&fir=HxS2Ay7b45RlWM%253A%252C41FaA6X_nYmAJM%252C_&vet=1&usg=AI4_-kQXrmv2dzOivTGeelgiE_msZCLh8A&sa=X&ved=2ahUKEwjGpKyFhankAhW4E7kGHc46DIQQ9QEwBXoECAkQCQ#imgrc=HxS2Ay7b45RlWM:

Então o clima é de confronto. Nesse sentido achamos um exagero a cobertura sobre o conflito informativo sobre Bebbiano, antigo integrante do governo e ex-presidente do PSL, por exemplo, a despeito de ter iniciado tudo com o problema de desvio de valores do fundo partidário por laranjas no PSL. (veja sobre isso: https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/02/17/saiba-quem-e-gustavo-bebianno-e-entenda-a-crise-gerada-no-governo-de-jair-bolsonaro.ghtml)

Os conteúdos das conversas não tinham nada de demais. Foi estimulado, não só nesse momento, o conflito interno no governo pela grande mídia. E com resultados palpáveis em prejuízo do governo.
Mas neste ponto é isso:  A grande mídia quer sobreviver e o Bolsonaro quer atacar.

(2) Bolsonaro encontrou um modelo em Trump. Trump é da área privada, de direita, com péssima conduta, péssimo comportamento, administra de forma personalizada o governo americano e não como estadista e mente em público, cria fake news e usa a rede social para se comunicar com seu eleitorado. Bolsonaro se encontrou nesse modus operandi. Encontrou um paradigma que lhe desse a liberdade de fazer o que pensa mas que não teria tanta coragem em realizar se não tivesse um exemplo desta dimensão para apontar e fazer de modelo e paradigma. Pior, ele percebe que pode movimentar a máquina do Executivo para realizar suas vontades e ensaia fazer isso mesmo (alterações na PF, Receita Federal, COAF, alterações de investimentos e gastos do governo, indicação de filho para cargo proeminente no Itamaraty e outras).

(3) Quanto mais pressionado, mais o Bolsonaro se excede e deixa exceder. Isso gera um efeito de retroalimentação de conflitos que geram publicações e de publicações que geram conflito, dentro e fora do governo.

A parte que nos interessa deste embate e a análise do governo Bolsonaro é que a ala militar, o staff do governo e o porta-voz têm tido muito trabalho para manter a comunicação em uma linha profissional, coerente e útil em benefício do governo. Mas a espoliação da mídia contra o Bolsonaro não é ruim para o brasileiro. Ele foi eleito. Ele terá sua pressão e deve responder a isso. Entretanto é importante dizer que a grande mídia não está se comportando com total enfoque na divulgação da verdade e tal. A grande mídia está sob ataque do governo e quer retirar o Bolsonaro do Poder. Essa é nossa avaliação. O Blog acha interessante para o país que o presidente termine seu mandato. Tem que parar essa prática brasileira de eleger o Presidente e ficar com o Vice, apesar de nós entendermos que talvez fosse  melhor para o país, nesse caso.


AS REFORMAS

O Presidente está com crédito eleitoral no início de governo. O País precisa de reformas. E na medida em que obtém estas reformas tem uma parte do que promete realizado. O Bolsonaro está cumprindo o que prometeu. Ele não pode ser acusado de não cumprir o que prometeu em campanha e o viés é de direita, ou seja, facilitar a vida de empresas e retirar direitos das pessoas, no caso, os trabalhistas tinham sido alterados pelo Temer, mas os direitos previdenciários estão sendo alterados pelo governo atual.

Mas já havia um clima a favor da aprovação da reforma da previdência. Não é tudo mérito do governo. A condução do governo e do novo congresso foi efetiva. Mas a admissão na reforma da previdência do sistema de capitalização acaba com a Previdência Social, como já abordamos. Não parece que Bolsonaro queira isso, pois não dá muita força pessoal a esta tramitação com aprovação do regime de capitalização, em que cada brasileiro poupará sozinho para sua previdência, mas se passar será reputado ao seu governo.

A previdência social brasileira é responsável por 40% de toda a transferência de renda no país. Nem se compara de forma alguma ao que ocorre no Bolsa Família. Os valores do INSS movimentam muitas vezes dois terços da economia de pequenas cidades, que são a absoluta maioria no país. Essa transferência de renda se dá via pagamento pelas empresas de contribuições sociais e impostos que têm valores direcionados para a Previdência Social. Acabar com isso com a implantação do Regime de Capitalização concentra a renda no país, liberará as empresas e bancos do pagamento de bilhões de reais anualmente para a previdência e terminará com a principal política de transferência de renda criada pelo constituinte brasileiro em 1988. É um crime de lesa-pátria. Esperamos que não passe. Se passar, esse crime ficará na história como instituído pelo governo Bolsonaro.

Aguardamos a reforma tributária. Guedes prometeu criar a taxa sobre distribuição lucros e dividendos e a equalização do índice de 20% para imposto de renda de pessoa física e PJs. Não me lembro da referência em relação a este índice ser adotado também para o IRPJ. O fato é que a alteração da previdência bate em celetista, pensionista, servidor público e aposentado. Só pessoa física. É verdade que foi criada uma contribuição para bancos. Ótimo. 

Mas o que ocorre é que enquanto a reforma tirou 700 bilhões de pessoas física pelos próximos dez anos, somente a taxa sobre distribuição de lucros e dividendos daria 250 bilhões. Pouco se fala isso. A conta tá indo nas costas de pessoa física e que vivem de trabalho. E da reforma tributária, em que poderia ter a contribuição de empresas e bancos, só se vê a retirada de compensação por gastos com educação e saúde no imposto de renda de pessoas físicas. Só pessoa física tá pagando.

Avaliamos que por enquanto somente pessoas físicas estão pagando nas reformas e com reflexo para a maioria de cidades do país, as mais pobres.

A reforma econômica mais importante que poderia ocorrer seria abrir o mercado financeiro para os estrangeiros. Coloquemos os lucrativos e sanguessugas bancos brasileiros para competir pela renda e patrimônio do brasileiro com bancos acostumados a receber menos juros de seus empréstimos. Isso foi falado que seria feito. Mas até agora não vimos nada. Isso dariam bilhões e bilhões, talvez trilhões de reais em crédito para nossa economia, beneficiando empresas, as dívidas do governo e as dívidas e investimentos e compras de pessoas físicas. Parece que teremos que aguardar mais. Nem mais se fala sobre isso.


QUANTO À QUESTÃO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Claro que indicar filho para Embaixada em Washington não é política séria de estado para relações internacionais. Também não é o alinhamento com os EUA em bases personalistas por alegação de administração e amizade pessoal com o presidente atual do EUA. Isso é brincadeira. Isso não é bom para o país que tem que criar relações de Estado e não pessoais dependentes das pessoas do atual presidente brasileiro e atual presidente norteamericano. 

Mas o fechamento do acordo comercial UE-Mercosul foi um super ganho e com mérito para o governo Bolsonaro. O Brasil teve vantagem aí. A negociação de mais de duas décadas foi feita com uma ótica de defesa da nossa economia, com dificuldades enormes. A discussão foi séria por todo esse período. O que tivemos que abrir mão no fim com o Bolsonaro para fechar não parece ter sido nada demais de prejuízo para nossa economia, pois nenhuma confederação econômica do setor produtivo reclamou.

Importante que apesar de em campanha falar mal do Mercosul, no governo voltou o respeito a este grande instrumento de desenvolvimento nacional e regional. Bom isso também.  Falar contra a China também não surtiu efeito e tudo começa a voltar à normalidade por aí também. Bom isso.

Nesse quesito os méritos não são tanto do governo Bolsonaro, mas das instituições brasileiras que funcionaram e funcionam no governo, apesar do governo.

Um ambiente internacional conturbado com a conduta tempestuosa e caótica do Trump tem ajudado também aos países estrangeiros buscarem segurança em outras relações e o Brasil aparece como algo importante aí. Sorte nossa também. O Bolsonaro com sua crassa veia de alinhamento automático com os EUA também parece ter surtido o efeito de os outros países aproximarem-se o que podem para evitar grandes perda de de seus interesses por aqui. Então mesmo com conduta ruim na área internacional, Bolsonaro, que não ficará para sempre, pode, sem querer, estar atraindo a Europa e a China para nossa economia, estes adotando medidas de damage control.

O alinhamento com os EUA da forma como faz é que é um grande erro. Os EUA não tem histórico de respeitar países que não sejam fortes militarmente. Como amigos com alguma experiência dizem "onde eles entram, não saem jamais". Esta associação deveria estar sendo costurada profissionalmente, mas estamos com atuações personalistas de Bolsonaro de Trump e os EUA de  uma forma que só nossa sociedade poderá, através de novo de suas instituições, calibrar para que não gere prejuízo à interesses internos e externos brasileiros. Preocupante isso.

A questão de copiar os EUA sugerindo mudar a Embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém foi a maior bola fora do governo. Não negociamos quase nada com Israel e temos grande comércio com os árabes. Aquilo foi um absurdo.    

Bater em europeus depois de fechar o acordo UE-Mercosul também é coisa de genialidade realmente inalcansável. Mas os outros são profissionais e sabem da importância estratégica dessa parceria. Bom para o Brasil e o Mercosul. Bom para a Europa que ganha um eventual fornecedor de commodities para substituir eventualmente um problema pelo lado americano. Mais uma vez temos de agradecer Trump. A concorrência bem dosada em mais de uma década de período de adequação do nosso mercado, também deve melhorar a qualidade de serviços e bens prestados e oferecidos ao brasileiro e crescimento de troca econômica como ocorreu com o Mercosul (não nos mesmo moldes, mas quantitativamente em valores) e isso significa mais empregos e aproximação das sociedades. Muito bom por aí.

QUANTO À RELAÇÃO COM O CONGRESSO

Aqui foi talvez o maior bônus que nós pudemos notar par o país. Bolsonaro não cedeu na retórica de que não faria toma lá dá cá. O Congresso, sem saída para seus métodos fisiológicos, passou a tentar roubar a cena política se conduzindo mais seriamente como o fez no curso da Reforma da Previdência. 

Sem vantagens de carguinhos, muitos dos quais o Bolsonaro extinguiu (mais funções comissionadas do que cargos em comissão, aliás.. deveria ser o contrário), os políticos passaram a querer fazer política de verdade. Mas o Bolsonaro também recebe parlamentares, o que a Dilma não fazia, e seu governo está trabalhando bem as negociações políticas para aprovar pautas do governo.

AS relações estão boas? Não tanto. mas desse conflito, assim como ocorre com a mídia, o brasileiro está se beneficiando porque está havendo uma atuação mais institucional e republicana do Congresso com a sociedade e do Congresso com o Executivo.

QUAIS OS MAIORES TRUNFOS DO BOLSONARO?

Moro e o combate à corrupção. Paulo Guedes a a busca pelo acerto orçamentário e crescimento econômico.

No primeiro caso, está havendo ruído. O que começou como uma lua de mel entre Bolsonaro e Moro, como assim pareceu até os 100 dias de governo, as divulgações do Intercept estão revolvendo. As questões do filho Flávio Bolsonaro às voltas com investigações policiais e da Receita e Coaf também criaram uma motivação para o Bolsonaro agir com intenções pessoais, personalistas e não republicanas, mudando a PF, Receita e o COAF. Não se sabe até onde isso vai. Se ele errar no que faz, pode acabar com um impeachment e perda de apoio popular. Atacará um pilar de seu governo.

Paulo Guedes está com menos problemas. Ninguém quer ficar na frente da economia. E a economia já estava melhorando desde o ano passado, com 1% de aumento do PIB pouco comentado e comemorado pela grande mídia para manter clima tenso social para fazer passar a reforma da previdência.

A aprovação da reforma foi ótimo. O acordo UE-Mercosul também. Mas onde estão as medidas para obter contribuições tributárias de bancos? E de ricos? Por que ninguém quer CPMF, mas não é contra diminuição de gastos com a previdência? O orçamento também corrige déficit pelo aumento de receita e não só pelo corte de despesa. O Brasil é paraíso fiscal de milionários e bancos e grandes corporações. E abrir a economia para bancos estrangeiros? Por que a demora? Será que é porque Guedes é banqueiro?

Então, senhores, vemos que quem paga o pato é sempre a pessoa física, pequenas empresas e microempresas, todos aqueles que estão mais próximos do cidadão. Mas a economia está reagindo e Bolsonaro capitalizará isso. acompanharemos para dizer o que foi mérito seu e de paulo Guedes e o que não foi.

O déficit público, só com a queda da taxa selic cairá demais esse ano. Será informado como uma surpresa, mas já está contratado. Deixaremos de pagar uns 130 bilhões de juros a bancos esse ano, com a queda que ocorreu de 14,5% de juros selic par atuais 6%. pouco se fala disso também. E isso, essa selic alta era um absurdo, um rouco ao orçamento, um roubo do meu e do seu dinheiro. Mas esse roubo a grande mídia não condena porque é cooptada pelos conglomerados financeiros, como o artigo anterior já detalhou.

As commodities estão valorizadas. As licitações estão saindo. As privatizações de empresas lucrativas estatais é um erro, mas das deficitárias é correto. Liberações de concessões. Tudo isso ativará a economia. Deveria ter sido feito antes, mas foi segurado para chantagear você e nossa sociedade para passar a reforma trabalhista e a previdenciária.

Se o presidente não fosse o Bolsonaro, você  já estaria vendo manchetes de melhora econômica. O emprego é o último fator a melhorar. Mas a macroeconomia melhora, 7 em nove setores econômicos melhoraram, como anunciado pelo O Globo há três meses. Então, a economia melhorará. até o setor imobiliário se movimenta.

Então, apesar dos problemas de reflexos da briga China x EUA em nossa economia, não vemos grandes problemas a frente, principalmente com a aprovaçãdo da reforma da previdência e o corte brutal de juros selic que reverterão o déficit público, mas que poderia ter a ajuda do bolso de bancos e ricos. Ainda não foi a vez deles. Rsrsrs


CONCLUSÃO

No geral, senhores, o governo ainda está bem. O amadurecimento institucional está ocorrendo. A economia está melhorando. As brigas de Bolsonaro e a mídia são boas para o cidadão. As bravatas internacionais não são boas, mas têm potencial de prejuízo pequeno ainda a nossos interesses, até porque Bolsonaro já está sendo visto como um pândego, como George Bush Filho foi e como Trump é.

O problema de má conduta informativa em relação às queimadas na Amazônia é que foram o grande furo atual de Bolsonaro. Ele está certo em dizer que sempre houve queimada, que há queimada em outros lugares, e tudo mais. O pulmão do mundo é o oceano, onde se dá em torno de 75% a 85% da troca de carbono do planeta através de fitoplânctons. Mas todo mundo quer a Amazônia. Não se pode dar pretexto.

Vemos que Bolsonaro, na nossa análise se comporta como palhaço, mas não é tanto. Recua quando o erro é demais. Cuida muito de sua base eleitoral mas não de pode dizer que não descuida da imagem quanto aos demais eleitores. O que foi aquilo de chamar governadores do nordeste de "governadores de paraíbas"? para nós essa frase acabou com sua reeleição mesmo que a economia bombe.

Apesar de serem 4 anos a correr ainda, ninguém esquecerá isso e os adversários não deixarão o Nordeste esquecer essa galhofa. É incrível o problema de língua solta do presidente. Parece que ele não tem maturidade de adulto. O Nordeste são 30% dos votos do país! Brincadeira. Fazer o quê?

Continuaremos acompanhando.

Que ele faça bom governo. Nós precisamos e merecemos. Que ele termine seu mandato. O Brasil precisa disso e a institucionalidade também. Seguimos acompanhando e torcendo.

     
  



Uma grande verdade sobre a mídia atual no Brasil e no Mundo

Somos obrigados a reproduzir na íntegra o artigo que segue do jornalista Paulo Moreira Leite, publicado em seu Blog em 12 de julho de 2011.

Obras-primas são atemporais. É importante que este tipo de informação circule, em que um profissional qualificado de comunicação reclama da falta de ética que impregna a grande mídia em todo o mundo.

Ele denuncia um movimento que imputa ter sido incrementado e até revolucionado por Rupert Murdoch, bilionário das comunicações, que transforma os grupos de mídia em máquinas de negócios e vendas de notícias com menos comprometimento com a verdade, com aproximação com conglomerados financeiros e prejuízo para a informação de qualidade produzida e repassada em sociedade.

Enunciamos e reproduzimos este tipo de matéria para afastar o argumento de que quando se faz esse tipo de crítica, de falta de neutralidade da grande mídia na produção de notícia, está se reproduzindo uma história da carochinha baseada em "teoria conspiratória".

Devemos levar isso a sério porque existe.

Reprodução abaixo:

"Do blog de Paulo Moreira Leite
12 de julho de 2011
A herança que chegou a todos nós
Na medida em que surgem novas indecências no arquivo de imoralidades praticadas pelos jornais de Robert Murdoch, torna-se obrigatório fazer uma pergunta maior.
A questão é definir o papel de Robert Murdoch, o maior empresário de comunicações do planeta, no negócio mundial da mídia. É uma questão imensa e complicada, vamos combinar. Mas é possível fazer algumas observações.
Todos nós, jornalistas e leitores, temos consciência de que no mundo inteiro existe um fenomeno que costuma ser descrito como uma crise nos meios de comunicação. Jornais e revistas não param de perder leitores. O mesmo ocorre com canais abertos de TV e com emissoras de rádio.
O conteúdo da mídia, diz-se, tornou-se menos profundo, menos plural, mais superficial e mais vulgar. Sem dúvida, é cada vez mais apelativo.
Não há dúvida de que boa parte dessas dificuldades é o resultado de mudanças no modo de vida das sociedades contemporâneas.
Podemos listar vários fatores. Por exemplo: os cidadãos querem viver num mundo mais horizontal — e a velha mídia funciona no esquema clássico das sociedades verticais. Graças não só a internet, mas também a formidável elevação dos níveis de educação, o leitor comum possui hoje um acesso primário à informação e a cultura que lhe permite dispensar boa parte das reportagens e análises que as revistas e jornais tem para oferecer.
Há outras mudanças, porém, que são produto de transformações ocorridas dentro da mídia. Não foi só o mundo que mudou. O produto também mudou. E, sob vários aspectos, mudou para pior.
Acho difícil negar que Murdoch e suas empresas tenham dado uma contribuição importante nestas mudanças.
Com um império econômico de vários bilhões de dólares, instalado no centro do capitalismo mundial, operando no segundo idioma dos 6 bilhões de moradores do planeta, Murdoch ajudou a trazer uma nova lógica para um velho negócio. Não foi o único, com certeza. Mas, pela economia e pela geografia, foi um dos mais importantes e talvez o mais decisivo.
No passado, quando  o  jornalismo era uma profissão invejada pela influencia e prestígio havia a preocupação com um certo rigor na informação, com a separação entre o público e o privado, na distinção clássica entre os interesse da Igreja (o jornal) e o Estado (a empresa).
É claro que todos procuravam equilibrar o negócio. As vendas e a conquista de novos leitores sempre foi um ponto essencial da atividade. Mas havia um pouco de pudor. Nem tudo era industria, comercio e finanças. A preocupação com vendas não fazia parte da pauta das redações.
De uns anos para cá, ocorreu uma mudança no eixo da profissão.
Para dizer muito numa frase curta, o jornalismo banalizou-se. Tornou-se uma atividade empresarial como tantas outras. Frequentemente procura ser rentável como um investimento de alto risco,  alienada como uma fábrica de sabonetes, descartável como filminho que a TV  exibe à tarde.
Murdoch foi um dos homens que ajudou a alterar a lógica dessa atividade. Não por acaso, o crescimento de suas empresas coincide com uma mudança no padrão do jornalismo, nos valores em vigor em muitas redações, na meta de trabalho e formação dos profissionais.
Antes, as empresas jornalísticas eram fruto de investimentos de origem familiar, com compromissos definidos por seus fundadores e patronos, competindo por leitores num mercado onde não faltava espaço para a diversidade e a concorrência.
Com uma reconhecida capacidade para encontrar oportunidades favoráveis a seus interesses e batalhar com afinco por eles, Murdoch ajudou a transformar as empresas de comunicação em grandes corporações, impessoais, sem perfil e sem história, dependentes e até associadas a grandes grupos financeiros. Em suas mãos, o pequeno negócio deixou de fazer sentido. Precisava do grande capital, do monopólio do mercado.
Embora nunca tivesse renunciado a suas idéias políticas, de profunda matriz conservadora, sua prioridade real não envolve a qualidade do conteúdo que oferecia — mas a força de mercado que cada novo jornal, cada nova emissora de TV, poderia lhe acrescentar. Seu interesse fundamental não envolvia a mídia como entretenimento, como formação de cidadãos, como parte da democracia, como notícia, mas como instrumento de poder.
Daí a profusão de aquisições, compras e fusões. Embora jamais tenha aberto mão de escândalos em seus veículos, a estratégia não era competir mas eliminar os adversários, transformando-se na única opção para anunciantes e consumidores.
Denuncias e investigações fizeram a glória do jornalismo desde sempre. Mas, enquanto bons jornais e revistas produzem revelações com alguma relação com o interesse público, a rede de Murdoch procura o sucesso em questões privadas, em reportagens que desmoralizam e humilham seus personagens.
Se fosse um empresário fraco, numa cidade remota da Austrália, Murdoch teria criado uma igreja de jornalismo de alcance local e folclórica, como tantas que se encontra em pontos diversos do mundo.
Mas, pelo seu tamanho e sua influencia, tornou-se um padrão imitado e copiado, com outra lógica e outra finalidade. Pela força econômica e pela crescente influencia política, impôs seus métodos aos países onde passou a atuar, num processo de contágio crescente e irresistível, contaminando concorrentes incapazes de enfrentar a chamada desvantagem competitiva.
Como me disse certa vez um dos grandes empresários de mídia do Brasil:
– Se o seu maior concorrente é um grande sonegador de impostos, você tem tres coisas a fazer: ou começa a sonegar impostos como ele, para competir em igualdade de condições. Ou prepara-se para ter custos maiores e lucros menores. Ou muda de ramo.
Foi isso o que ocorreu com a mídia em torno de Murdoch — e não estamos falando de sonegação de impostos, evidentemente.
Felizmente, não é em todo lugar que os repórteres contratam empresas de investigação para promover escutas telefônicas e bisbilhotar a saúde de crianças.
Nem todos os governos se curvam diante dos senhores da mídia de seus respectivos países.
Seria igualmente errado dizer que todas as empresas de comunicação aplicam os mesmos métodos e exibem a mesma falta de escrúpulos.
Mas é difícil negar que há um pouco de Robert Murdoch no pior do que a imprensa mundial exibe hoje, concorda?"


Esse texto foi copiado de um texto em que Merval Pereira estava sendo criticado pelo Blog da Cidadania por ser desonesto em publicar sobre o tema "controle da mídia" que estaria sendo buscado por Lula e José Dirceu à época do debate sobre a criação desse controle, seguindo parâmetros existentes, segundo o crítico, na Alemanha, França, Portugal, Espanha e Inglaterra.

Acesse:https://blogdacidadania.com.br/2011/07/desmascarando-merval-pereira/

Não conseguimos achar o artigo acima no Blog do Paulo Moreira Leite porque a pesquisa naquele Blog é difícil para artigos de 2011. Mas você mesmo pode tentar.

Acesse: https://www.brasil247.com/authors/paulo-moreira-leite?page=37Quanto mais pessoas entenderem o nível baixo a que a grande mídia está submetida para sobreviver como negócio, mais estaremos ajudando a mídia brasileira a se comprometer com uma repaginação e comprometimento com revisão de princípios e disseminação da verdade, com mais neutralidade.