Quero parabenizar o jornalista Elio Gaspari pelo seu artigo intitulado "O Wikileaks lavou a alma do Itamaraty", publicado em 05/12/2010, no Jornal o Globo, pg.12.
Ele dá notícia de que o vazamento dos documentos oficiais e secretos americanos deixou patnte que "o governo americano é inimigo do Itamaraty". Segundo os documentos vazados, na forma do artigo comentado do Elio Gaspari, o Embaixador americano Clifford Sobel teria conversado com nosso Ministro da Defesa Nelson Jobim e concluído que ele seria um homem decidido a "desafiar a supremacia histórica do Itamaraty em todas as áreas da política externa".
O próprio Gaspari considera que "o que incomoda o Departamento de Estado (americano) é uma diplomacia capaz de impedir que sua embaixada negocie no varejo dos ministérios assuntos que envolvam relações internacioanais". Dentre eles, ficaria facilitado o ALCA, venda de armamentos americanos ao Brasil, tarifas de importação/exportação e, claro, talvez nunca tivéssemos processado os EUA por subsídios ao algodão e outros.
Essa é a importância de funcionários públicos de carreira que sejam de alto nível, bem remunerados e tenham uma boa estrutura de trabalho para defender nossos reais interesses. O Brasil é respeitado por não ser entreposto comercial de interesses nacionais e internacionais. O Itamaraty tem personalidade resultante de dezenas de décadas de anos de prática e experiência.
No fim, para ser visto como a política externa americana é falsa, apesar de apoiarem o Governo de Direita que depõs Manuel Zelaya (Honduras), tendo praticamente o Brasil ficado isolado em defendê-lo acusando o ato de golpe de Estado, ficou evidente dos documentos vazados, segundo Gaspari, que em telegrama da embaixada do EUA em Tegucigalpa, trÊs semanas depois da deposição de Manuel Zelaya "na visão da embaixada, os militares, a Corte Suprema e o Congresso armaram um golpe ilegal e inconstitucional contra o Poder Executivo". Ou seja, é muito importante termos nossas próprias referências. Quem somente segue cegamente não influencia o mundo ou faz valer seus valores.
Parabéns ao Itamaraty e a nossos diplomatas de carreira, parabéns ao Presidente do Wikileaks, Julien Assenge, herói internacional pela liberdade de imprensa que está sendo caçado, parabéns ao Elio Gaspari e parabéns ao Jornal O Globo, por ter permitido a publicação deste tipo de artigo, quando a minha impressão à época foi a de que, como normalmente ocorre, a posição do Jornal foi endossar a polítca norte-americana de reconhecer o governo golpista em Honduras e ter deixado nosso Governo Brasileiro valente e solitário na defesa da soberania e autodeterminação dos povos.
Nos EUA, organizado por uma sociedade inicialmente composta por pequenos burgueses e comerciantes, artesãos e tecelães que não tinham oportunidades na Europa com o surgimento da Revolução Industrial, a visão de Estado e de carreiras de Estado é muito diferente. É comum Promotores de Justiça serem eleitos, Delegados de Polícia e muitos cargos diplomáticos e embaixadas americanas são ocupados por remanescentes da área privada, de empresas privadas.
Assim, prejuízos ao interesse público podem ter marcha. E ao meu ver, o maior exemplo disso foi a invasão do Iraque, contra a opinião da ONU, com base em argumentos falsos, mas com excelentes retornos financeiros em contratos de extração de petróleo, obras para empresas americanas (inclusive do Vice-Presidente americano Dick Cheney), vendas de armas e aço ao governo americano pelas empreas americanas, a um custo altíssimo das finanças públicas americanas, que hoje, sem o gastos de trilhões na guerra, poderiam estar muito melhores e terem absorvido melhor o impacto da crise financeira de 2008.
Hoje, os EUA têm déficit público de 9,9%, relação dívida/PIB de mais de 90% (já foi de 25%), desemprego em 9,2% (quando já teve 4% com Clinton)... mas as empresas de armas, petróleo e aço estão muito satisfeitas.
Autonomia na condução de interesses públicos de uma nação tem custos: quadro próprio de funcionários públicos de alto nível e bem remunerados. Mas o retorno é maior do que entregar tudo para área privada e ver interesses privados predominarem ao público ao custo muito maior para a economia e a população (e menos fiscalizável e muito menos transparente).
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