Segundo a grande mídia no Brasil, servidor público bom é (quase) servidor público morto. Brincadeira à parte, a grande mídia adotou o discurso de que o Estado deve ser mínimo e servidor público é despesa e não investimento em serviço público. Esses dois ícones e vetores adotados são levados às últimas conseqüências, mas pergunto: isso interessa a quem? Faremos aqui um debate rápido sobre um tema que a mídia coloca pronto para você, porque não interessa a ela que você tenha opinião própria, mas que você compre o seu discurso, o qual interessa muito a ela e a seus clientes. Mas por quê?
Primeiro temos de conceituar o que é “grande mídia”. Grande mídia é o grupo de empresas gigantes de comunicação que têm o poder de realçar fatos e induzir realidades para o bem ou para o mal da sociedade, nunca deixando de observar seu próprio interesse e de seus principais clientes. Não é, segundo o editorial do Globo publicou outro dia, ainda em agosto ou setembro de 2010, o grupo de empresas autônomas e independentes de comunicação que informam a população mesmo que prejudicando interesses do governo. Até porque o governo não é inimigo de ninguém, mas, assim como empresas privadas, comete erros e acertos. Os erros devem ser apontados e os acertos comemorados, independentemente do partido que governe.
Agora veja, o que é entendido como "grande mídia" existe em qualquer país civilizado e somente a educação da sociedade é o contrapeso a esse poder, pois cria senso crítico. Leia o artigo “O PODER DA MÍDIA”, publicado no jornal “Le Monde Diplomatique”, pgs. 04/05, edição de julho de 2010, e confira que Noam Chomsky escreveu o mesmo sobre a imprensa americana. A grande mídia são poucas e grandes empresas de comunicação gerando realidade na sociedade que é meramente reduplicada pelas agências menores de comunicação e assim cria consensos em sociedade. Segundo Vera Chaia, doutora e livre docente em Ciências Políticas na PUC-SP, o consenso no Brasil tem como centro irradiador de notícias o Jornal O GLOBO, O JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO E O JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO. São ótimas empresas e orgulho para o País como empresas viáveis de comunicação, mantenedoras de milhares de empregos e arrecadadoras de impostos. Mas é importante que a sociedade entenda que elas têm seus próprios interesses, como empresas e por filosofia, qual seja: são capitalistas (também sou) e defensoras de Estado Mínimo e diminuição de despesa do Estado ao mínimo possível (defendo Estado flexível, plástico, que esteja onde a área privada não consegue atuar e não esteja onde ela atua bem e organizadamente). Isso não é ruim, a princípio, mas até onde isso é interesse seu como cidadão? Por outro lado, não podem estas empresas abordarem temas públicos com total imparcialidade e você tem de entender isso.
Não estou dizendo que a grande mídia é um conjunto de empresas e pessoas malévolas por princípio e que conspiram contra o interesse público sempre. Não é isso, a priori. Mas o poder de reproduzir fatos em massa na sociedade e influenciar sobre a perspectiva que se dá ao fato pode levar à deturpação de sua função e, se isso conflitar com o interesse público, a própria sociedade deve reagir democraticamente como faço através da internet.
O problema é que a grande mídia é constituída por empresas privadas e seus clientes, em sua grandissíssima maioria, são empresas privadas, originariamente privadas, privatizadas, concessionárias ou terceirizadas. Para as grandes empresas de comunicação privadas, assim como para toda empresa privada, serviço público, além de não ser tão necessário, já que podem contratar qualquer um para fazer qualquer coisa (plano de saúde, política de ajuda à educação de seus funcionários, contratar despachantes e advogados para resolver suas demandas burocráticas junto aos órgãos do governo etc.), é meramente despesa pública. Ora, é difícil ser isento ao tocar nesse assunto quando sua receita não depende do serviço público, quando o serviço público não é importante para o seu dia-a-dia como o é para o cidadão, e quando se entende que serviço público e servidor público é aumento de despesa pública somente, ou seja, é necessário ser bancado por mais tributos.
A grande mídia não precisa ser parcial e interesseira, não precisa privilegiar o interesse próprio, o interesse privado ou o interesse de seus principais clientes ou círculo social que garante o status quo de onde esteja. Também não precisa apoiar acriticamente o governo. Mas muitas vezes o faz pelo inevitável sentido de auto-preservação e de manutenção do apoio dos círculos sociais a que se dirige e que a mantêm política, social e financeiramente.
O que revolta as pessoas é quando a grande mídia publica artigos com ar de isenção, quando evidentemente além de informar estão induzindo uma perspectiva sobre o fato. Se ao invés de se autoproclamarem defensores da verdade, enquanto dão notícias evidentemente parciais, informassem os fatos, deixando sua opinião somente para o campo específico de opinião, talvez não houvesse tanto alarde. Ou se ao invés de tentarem dar notícias francamente desfavoráveis e em massa contra um político da situação ou oposição, por trás da imagem de isenta, declarassem seu voto, como parece que alguns jornais americanos fazem, ninguém reclamaria da parcialidade.
Tomara um dia a grande mídia no Brasil renegue seu poder e foque toda a sua energia em publicar informações de maneira menos parcial, talvez ela venha a ser mais clara e honesta em seus objetivos e interesses, porque não é ilícito nem ilegítimo ter interesses,.. quem sabe um dia isso ocorra,.. e estaremos em outro País.
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