Fiquei impressionado com as informações que Miriam Leitão publicou hoje, 29/09, em sua coluna no Globo. Conta uma atitude questionável, sem dúvida, de a campanha do PT estar telefonando para empresários e e formulando a seguinte frase: "Notamos que você não fez doação na última eleição e ainda não fez nesta". Tudo bem, o ideal seria que a empresa que quisesse doar procurasse a campanha e não o contrário. Mas acho que ela foi bem longe no que conclui dessa frase a seguir, quando diz que a frase "pode ser entendida pelo que está embutido: estamos de olho em você".
Agora veja o que ela escreve a seguir: que o Estado concede grande parte dos financiamento pelo BNDES, que "aumentou de forma extravagante suas concessões de empréstimos subsidiado e as arbitrariedades das escolhas dos campeões, o que faz negar crédito a alguns e exceder a outros".
Gente, por favor, durante todo o discurso na coluna não há menção a um fato de privilégio, um fato de fiscalização indevida, um fato de ilegalidade de qualquer tipo. Não houve menção sobre quem foi preterido injustamente pelo BNDES e quem foi beneficiado "excessivamente".
Essa forma de atuar condenando a hipótese ao invés dos fatos é conhecidíssimo de sistemas facistas, como ocorreu nos EUA macartista (http://pt.wikipedia.org/wiki/Macartismo). Interessante o filme com Robert de Niro "Culpado sob suspeita".
Isso não é conduta jornalista séria. Ela poderia ter repreendido as ligações, apesar de que comitê de campanha tem que buscar dinheiro, como o fazem Casas de Órfãos e outros institutos de assistência social todos os anos. Não há impedimento legal a isso, o que pode até ser aventado de lege ferenda. Na verdade o financiamento público de campanha acabaria com tudo isso. Agora, daí a dizer que o governo usa o Estado para privilegiar e cooptar uns e outros... porque não menciona a hipótese!! Vamos analisar os casos.
Todo o empréstimo no BNDES tem que obedecer a um procedimento de análise do projeto. Uns satisfazem, outros não. O tratamento desigual pode até ser objeto de questionamento judicial. Realmente o dinheiro é finito e pode ser que alguns tenham de ser priorizado em relação a outros, mas quem foi privilegiado ilegitimamente? Diga. Não dizer é alimentar fantasma de medos.
Desde o FHC há incentivo para a criação de multinacionais brasileiras e isso é importante para a inserção empresarial brasileira no exterior. Isso é parte de política industrial e de desenvolvimento e está correta. Com o Pré-sal, com necessidades de investimento de 600 bilhões de dólares (www.ecentex.org/pre-sal_financiamento_da_producao.htm), a Petrobrás precisará de verbas, mas sempre tem que haver projeto e submetê-lo ao crivo do BNDES. Mostre onde houve excesso, erro, ilegalidade. Não... mais fantasmas que estão à nossa volta..
Toda a coluna, tirando a segunda parte que fala sobre a invenção cultuada do gigantismo estatal brasileiro, está baseada em hipóteses e trata como se fosse ameaça real. Isso sim é método de Goebbels em que tanto se fala uma mentira que se torna verdade. É muito triste. É só mudar a forma de falar e tudo o que escreveu estaria perfeito. Criticar o pedido de verba para campanha (que provavelmente ocorreu na campanha de todos), tudo bem, mas dizer que isto é ameaça velada?!?! Por favor.
Quanto ao gigantismo do Estado, devo dizer que só concordo com a Miriam em um ponto: há empresas estatais que não exigem cargo por indicação. Os correios (ECT) são exatamente a hipótese. Se já houve importância estratégica para a segurança nacional quando a ECT foi criada para unir o País e facilitar a comunicação interna (por isso até hoje tem benefícios legais como se fosse o próprio Estado, ex. não recolhe custas judiciais), hoje é uma importante empresa, claro, mas sua adminstração prescinde de ingerência política. Qual política de Estado os Correios ajudam a implementar? Petrobrás, Banco do Brasil e Caixa Econômica, BNDES, Banco do Nordeste, Banco da Amazônia implementam políticas públicas, mas mesmo assim cabe reflexão sobre o limite de cargos ocupados por indicação política em cada um.
Aliás, hoje as estatatais poderiam ter como cargos por indicação política apenas a Presidência e as Diretorias (talvez nem todas). Fora isso, me parece que cargo por indicação política nessas empresas estatais é sim cabide de emprego e aqui poderia dizer "Estado maior do que deveria", mesmo sendo um universo pequeno para ser usado o termo gigantismo estatal. As indicações políticas fazem sentido dependendo exclusivamente de o quanto a estatal necessite de ingerência política para a realização de projetos nacionais, planos estratégicos de interesse público. E se a Presidência e Diretorias são os cargos com atribuição de definir a estratégia, para que nomear mais alguém, se o resto pode ser executado pelos empregados públicos dos quadros de cada estatal, que hoje, mais do que nunca, com direito à participação nos resultados, têm todo o interesse e empenho no atingimento das metas organizacionais e comerciais?
Agora, acho graça em falar do gigantismo brasileiro. Gigante o Brasil é, senhores. Somos o 4º país mais extenso do mundo. E somos 8ª economia mundial, rumando a ser a 4ª em 2050, segundo, se não me engano, previsão do Banco de investimentos americano Golman Sachs (http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:wQglS-HJGFwJ:pt.wikipedia.org/wiki/BRIC+goldman+sachs+brasil+ranking+2050&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br). E já vi previsão de que em 2050 o Brasil poderia estar em 4º à frente dos EUA, à frente dos EUA, pasmem. Mas temos menos servidores públicos por habitante do que os EUA, Alemanha, França, Irlanda e a média dos países mais ricos da OCDE. Já escrevi sobre isso no artigo "Reconstruindo o Serviço Público, Reconstruindo o Brasil", então, reforço minha posição contra esta política desinformativa.
Não a goebbels, gente!! Miriam, por favor, fatos e não hipóteses ameaçadoras para a liberdade dos brasileiros. O "privilégio" do governo Lula é tanto que foi em seu governo que as instituições financeiras tiveram seus maiores lucros históricos e neste mesmo governo autocrático e sectário que as empresas não financeiras tiveram os maiores cresimentos sobre patrimônio próprio (15% sobre patrimônio ao ano, quando normalmente o crescimento dessas empresas é em torno de 10% a.a., no máximo). Todos crescem, todos têm acesso às verbas públicas. E nesse governo o acesso às verbas do BNDES foram conferidos às pequenas e médias empresas em grande escala, pela primeira vez na história (rsrs). Sem macartismo, por favor.
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