Gostei no último artigo da Miriam intitulado "Nova queda", datado de 15/12/2011. Acesse em http://oglobo.globo.com/economia/miriam/
Gostei não por suas conclusões e digressões iniciais, mas mais pelo rumo que toma do meio para o fim do artigo.
A parte inicial veio fazendo considerações sobre o que ocorreu durante o ano, com as previsões econômicas equivocadas (sobre inflação e juros), mas explicando que se o Banco Central não tivesse endurecido os juros no início do ano a situação teria sido pior e dizendo que a postura de seu Blog e sua coluna foi o de criticar o Bancen quando em agosto reverteu a evolução do juros, contra o mercado, considenrando que "A economia estava no mais difícil momento para se tomar a decisão de reduzir os juros, porque a inflação estava alta — ainda está acima do teto da meta — mas já estava contratada a desaceleração da atividade".
Em seguida apresenta explicações para o arrefecimento da atividade econômica que nem ela ou o mercado previram: "O economista Alexandre Maia, da Gap Asset, explica que a desaceleração ao longo do ano aconteceu por várias vias: inflação mais alta, que corroeu a renda das famílias; crise na Europa que adiou investimentos dos empresários; aumento de juros, retenção de gastos do governo e medidas de restrição ao crédito no início do ano."
Tenta assim informar o que já existe ( o que é fácil) e tenta introduzir o argumento de que a inflação foi um grande elemento que comprimiu as compras e que deve ser, portanto, o cerne da política econômica para garantir normalidade dos mercados. Aqui é na verdade o ponto nodal de todo o artigo.
Como a análise histórica dos artigos da sua coluna sobre economia demonstrarão uma posição que não foi confirmada pelos fatos, já que se colocou totalmente ao lado do mercado, agora tenta reinserir o tema controle de inflação (ponto nevrálgico de toda a argumentação do mercado durante o ano de 2011 para que o Bacen subisse juros independentemnte da situação da economia nacional e estrangeira), para demonstrar que o tema sempre foi importante e portanto o foco de suas análises e dos artigos não estavam equivocados, assim como de agora para frente mais uma vez deveria se privilegiar o tema de juros x inflação (interpretar tudo por uma inflação alta e se possível subir o juros para controlá-la), ou seja, incidir no mesmo erro, ao nosso ver. Para mim, mas posso estar enganado, é preparação de terreno intelectual dos leitores neste sentido. É tentar colocar nos seus trilhos, que se demonstraram errados.
Quero deixar claro que se forem avaliados os nossos artigos, não é preciso nada desse tipo de argumentação. Nossas análises se demonstraram coesas do início ao fim do ano de 2011. E volto a afirmar, se o Bacen não tivesse subido juros no início do ano como quis o mercado e a Miriam, mas tivesse recrudescido as medidas macroprudenciais, teríamos controle de inflação sem a perda de PIB e potencial de empregos que vemos hoje.
E em agosto, o Bacen somente passou a fazer o que devia ter feito no início do ano, mas sua nova postura, mesmo que com crasso atraso, foi devido à leitura evidente de decréscimo de atividade econômica (ocorrida desde abril e maio de 2011 tanto com o IPCA, quanto o IBC-Br), mesmo contra a visão (ou falta de visão) do mercado que só quis olhar para inflação acumulada em 12 meses pois isto era bom argumento para aumento de juros e lucros fáceis bancários. Portanto, o Bacen também não foi genial.
Agora, o melhor foi que ao fim do artigo, a Miriam e o analista que escolheu para informá-la, apresentaram perspectivas coerentes, ao meu ver, com a realidade econoômica brasileira. Talvez os representantes do mercado estejam cansando de expor suas imagens a um público que vem trabalhando pára ter memória e está cobrando coesão analítica.
O artigo demonstra o ponto de retorno de Miriam à realidade econômica, o que vejo com muita felicidade, ao menos ao fim do artigo. Quanto ao ponto de retorno retórico de voltar a privilegiar o debate sobre inflação sem considerar todos os demais elementos econômicos que a condicionam, trantando a inflação como o elemento mor da economia e que deve ser combatido meramente com juros, volto a dizer: a simplificação da análise da economia meramente pelo contraste juros x inflação é simplista, é inverídico, não informa e induz a erro.
Análise econômica de verdade deve considerar economia internacional, commodities, juros presente e futuro (e não o acumulado como parâmetro para a inflação futura) nível de emprego, atividade econômica, nível de endividamento familiar, relação dívida/pib brasileira e a tendência de evolução desses elementos, dentre alguns outros. Deve-se ainda descamar as causas da inflação e tratar cada causa de forma específica. A solução não é juros selic para tudo. Comparar somente juros x inflação é risível.
Aguardamos que este artigo suso mencionado seja um novo momento para Miriam seguir o caminho da análise junto conosco. Não necessariamente concordando, claro, mas ao menos falando sobre mesmos fatos econômicos e dando a importância devida a todos os eventos e elementos econômicos, fugindo da repetição de analistas de mercados que só vêem tendências inflacionárias nas alturas a serem controladas invariavelmente por aumento de juros, desconsiderando as causas da inflação, assim como desconsiderando se aumento de juros causará queda de pib, queda de renda do brasileiro e queda do emprego de brasileiros.
A economia não tem um fim exclusivo em números de juros x inflação. A economia é uma ciência social e tem a finalidade de proporcionar o conhecimento para permitir o enriquecimento da sociedade e de todos os seus cidadãos. Todos.
p.s. de 16/12/2011: texto revisto e ampliado
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