quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O que está muito errado no Brasil? O que é essencial?

É claro que aqui não poderá ser abordado tudo, mas posso somente fazer a minha parte. Escolho linhas gerais e facilmente perceptíveis a qualquer um, de total importância para a vida real do brasileiro. A lista é aberta e todos estão convidados a acrescê-la.

O objetivo é expor erros a que estamos acostumados e não mais nos indignam, quando justamente agora, que temos crescimento econômico, seria o momento ideal para discutirmos o que fazer com a riqueza que existe e se avizinha para melhorar a qualidade de vida de nossas famílias.

Isso que faremos aqui as instituições bancárias fazem, sob seu prisma, na Febraban, as indústrias fazem na Fiesp, Firjan e CNI e as empresas comerciárias fazem na CNC. Passe a se fazer estes questionamentos e você não será mais um bucha de propagandas políticas ou da mídia e poderá conduzir-se de acordo com seu real interesse, transformando o Brasil em um país com renda per capita européia, com produção industrial chinesa, com salário mínimo europeu, com serviços públicos europeus e, se Deus quiser, sem muita coisa a ser copiada norteamericana, a não ser a capacidade de investimento em pesquisa, inovação e atração de cientistas e registro de patentes no nosso próprio País.

1 - É errado acharmos que somos pobres. Nossa economia é a sétima do mundo. Temos condições de investir para melhorar serviços públicos e aliviar toda a população de pagar por serviços privados que possa, por opção, obter com dignidade na esfera pública. Gente, na Europa, europeu não gasta com plano de saúde e educação. Ponha no lápis o quanto isso é de economia de renda durante um ano. Agora some dez anos. Agora some 30 anos e pegue esse valor mensalmente e invista a 0,5% na mísera poupança. Veja o valor que você perde por não ter serviço público de qualidade.. só na área pública de saúde e educação.

2 - É errado servidor público receber salário irrisório em comparação à sua responsabilidade. É errado servidor com atribuição sem complexidade receber em desacordo com o exercício de sua função... exercício real de sua função.. É errado a atribuição de cargos públicos estarem defasados em relação às verdadeiras atribuições de seus cargos exercidos atualmente.

3 - É errado pensar que o "serviço público está inchado" se há fila em hospital, se o "criança esperança" e "amigos da escola" tÊm que garantir locais e pessoas para dar acesso de educação para todos.. é errado achar que há excesso de funcionário público se há três vezes mais servidores por habitante na europa e duas vezes mais servidores públicos/trabalhadores nos eua. Isso significa que esses Estados investem de duas a três vezes mais do que o Brasil em serviço público para seus cidadãos... mas se a renda percapita deles é de até cinco vezes mais do que a nossa, quem em tese precisaria mais deste tipo de investimento? Brasil, claro!

4 - É errado achar que a mídia é isenta. A grande mídia é composta por grandes empresas e seus principais anunciantes são grandes empresas.. se a mídia precisa desses anunciantes, você acha que ela podeira publicar algo que contrarie interesse deste grupo de grandes empresas?

5 - É errado médico público ganhar R$1.300,00 e professor público ganhar R$700,00, como no Rio de Janeiro. É errada a substituição de servidores públicos e do serviço público por serviço privado onde o interesse público estiver em jogo, pois o servidor que tem estabilidade pode se negar a realizar algo ilegal, enquanto quem é ameaçado com perda de emprego fica muito mais indefeso a resistir a ameaças de prejuízo em caso de resistência a pedidos de infração contra o interesse público.

6 - É errado aumentarmos juros Selic em um mundo em que o dinheiro quer vir para o Brasil que é um dos países mais estáveis economicamente do mundo atual. Há medidas macroprudenciais como aumento de depósito compulsório, diminuição de prazos de empréstimos e aumento de exigência de capital próprio dos bancos em cada operação de empréstimo. Isso não aumenta dívida pública, controla demanda, desestimula tomada de empréstimo... mas diminui operações e lucratividade dos bancos...

7 - É errado continuar com aumento de juros quando o PIB foi reduzido à metade de um ano para o outro (foi de 7,5% em 2010 e será de 4% em 2011). Assim como é errado nossa produção industrial interna descer de 35% para 15%. País rico é país com indústria e não país com enfoque exclusivo em venda de commodities (Austrália e Canadá - o caso deles só se sustenta porque a Inglaterra acordou não produzir mais agrícolas e comprar desses dois países - informação dada por João Paulo de Almeida Magalhães no livro citado abaixo - tratam-se das "anti corn laws", pg. 25), exploração de turismo (Bahamas) ou com concentração de empresas montadoras de peças produzidas no estrangeiro (Malásia)!!! Quem manda é quem inventa, quem inova e quem é dono das indústrias!

8 - É errado o salário mínimo não ser suficiente para uma família de quatro pessoas viver. A meta de salário mínimo é de R$3.000,00 (o valor definido pelo Dieese é próximo disso). Gente, é isso. Pare de pensar como pobre. Pare de se satisfazer com pouco. Não pense no serviço doméstico que você perderá... pense que todo brasileiro viverá bem e a economia crescerá de forma a você ter esse serviço de outra forma. Europeu tem salário mínimo de 1500 euros.. se nós somos a sétima economia e há 30 países europeus.. acho que merecemos viver como eles.. é claro que isso não ocorrerá de um dia para o outro, pois as contas públicas estourariam, assim como inflação, mas deve haver essa meta. E cada ato político deve ser avaliado se nos conduz mais próximo ou mais longe disso.

9 - É errado achar que salário mínimo que aumenta acaba com o País e estoura a inflação. A Europa tem o maior salário mínimo e a menor inflação!!!

10 - É errado se satisfazer com crescimento econômico baixo. Temos de crescer a 5% ou 6% ao ano pelo menos. João Paulo de Almeida Magalhães, emérito professor de economia da UFRJ, Presidente do Conselho Regional de Economia do RJ, em artigo "Estratégias e Modelos de Desenvolvimento", no livro "Os anos Lula - Contribuições para um Balanço Crítico 2003-2010", edição de 2010, às fls. 19/34, afirma que nossa meta deveria ser a mesma de China, Índia e Rússia, ou seja, entre 7,5% e 9% ao ano até obtermos o mesmo nível de renda percapita européia. A pressão inflacionária que desse crescimento adviria deveria ser controlado para evitar espiral inflacionária. Mas a opção do núcleo que manda no País, financista, impõe a prevalência do "controle inflacionário" em detrimento da "eliminação do atraso econômico"... e por isso nossa renda percapita está tendo de crescer a partir da diferença entre crescimento econômico e crescimento populacional, o que é muito mais lento e não é o que Índia e China fazem.

Veja esses trechos do artigo do meu professor de economia, no artigo mencionado:

"A pergunta é então: se o objetivo do desenvolvimento é eliminar o atraso econômico no menor tempo exequível, por que se contentar com 4,5% se a taxa de 7% é comprovadamente alcançável? A explicação é, em última análise, que a taxa mais elevada criaria pressões inflacionárias" (ob. cit. pg. 28)
"Na verdade, contudo, o núcleo neoliberal enquistado no Banco Central manteve sempre o comando da economia." (ob.cit. pg. 28)
"Em suma, a excessiva preocupação com a estabilidade de preços está levando, através da sobrevalorização cambial, a distorções estruturais capazes de comprometer o desenvolvimento do país." (ob cit. pg. 29)


Pessoal, há muito mais, mas acho que isso é essencial. Não nos satisfaçamos com pouco. Nosso país é nosso. Nós podemos ter a melhor vida do planeta. Só depende de nossa consciência, retidão, determinação, capacidade crítica e coesão. Indústrias são coesas. Bancos são coesos... nós, indivíduos com famílias, não podemos ser diferentes!! Empresas e mídia influenciam tudo, mas é a pessoa física que vota!!! Pelo amor de Deus! Vamos fazer o país que merecemos! Ninguém fará isso por nós ou nossos familiares.

p.s.: também é errado não se deixar perseguir o pleno emprego no Brasil. A área privada morre de medo do pleno emprego. Por quê? Ora, imagine que você é uma empresa. O pleno emprego acaba com o excedente de mão-de-obra e você teria de fazer o quê para obter mais empregados? Aumentar salário!! Mas, veja, esse medo é burro e egoísta. Na França e na Alemanha, antes da crise, havia situaçaõ de pleno emprego, ou seja, desemprego em 3%, 4%... só que era de toda a população francesa e alemã, ou seja, considerando africanos e turcos já com cidadania francesa e alemã. Gente, é isso... se tivermos pleno emprego, não haverá problema em empregar nossos vizinhos latino-americanos ou até europeus.. Não podemos parar de perseguir o pleno emprego exigindo baixa de crescimento econômico só porque faltará mão-de-obra ou aumentará custo.. o enfoque tem de ser no que é melhor para o brasileiro e para todo brasileiro. O aparente problema de falta de mão-de-obra será resolvido e se as empresas tiverem de aumentar salário é porque a produção e riqueza já aumentaram muito... não é sistema de ganha-perde, mas de ganha-ganha, ou seja, ganham brasileiros e ganham empresas brasileiras. O apego a egoísmos e imediatismos empresariais nega o direito a um mercado interno maior, a mais riqueza para todos.

p.s.2: É... reforma política, trabalhista, previdenciária e tributária também é importante... mas gente, isto é instrumental. O essencial é a mentalidade. Com o foco correto, como acho que o direcionamento de perguntas acima induz, o resto vem bem. O instrumental é sempre importante, mas o substancial é sempre o que impõe direção e ritmo.

p.s.3: Nossa meta deve ser ter os mesmos serviços públicos que os europeus e ter a mesma renda percapita com mesmo índice de inflação. A pergunta é como chegar lá o quanto antes. A pergunta errada e única que se faz hoje é como controlar inflação. A resposta é todo um movimento social no sentido da contenção inflacionária a todo custo e falta de direcionamento de nossa energia e inteligência para sair do cerco que resulta em baixo crescimento brasileiro. Baixo crescimento esse, inclusive, que resulta em diminuição da competição do Brasil com os países ricos, diminuição do processo de crescimento econômico, diminuição da persecução do princípio constitucional do pleno emprego brasileiro, diminuição do crescimento das indústrias brasileiras, diminuição de nossa autonomia produtiva.. isso é um absurdo. E temos vários economistas que nos apontam o caminho para se chegar ao padrão europeu o mais rápido possível. Eu fico com Mantega, Paulo Nogueira Batista Jr., George Vidor, Delfim Neto, Luciano Coutinho e João Paulo de Almeida Magalhães. Não à ala financista. Bancos não criam emprego. O que cria emprego é indústria gente. Indústria cria, enquanto banco (essencial para a economia, claro) vive da ecoonomia que exista, pois sua função é intermediar, simplesmente, o dinheiro que existe na sociedade, canalizando os valores dos poupadores e direcionando-os aos investidores ou consumidores. Seguir financista não é o mesmo que seguir desenvolvimentistas. E ser desenvolvimentista não quer dizer que se queira inflação. Mas o desenvolvimentista se irresigna com a vida em padrão inferior a nossos reais potenciais. Desenvolvimentista é ativo e ousado e cria política para atingir a meta de acelerar nosso desenvolvimento enfrentando problemas. Os financistas não querem inflação e não querem alteração de fluxo de capitais e lucratividade no setor financeiro e ponto. É um método que sobrevive através do medo, é passivo. Vamos juntos avaliar todos os atos políticos sob o prisma de o quanto aceleram nosso avanço de renda percapita e de obtenção de serviços públicos como os que os europeus têm, pois isso é ser rico.

p.s.4: texto revisto

p.s.5: Acho que finalizarei aqui, mas não sei... mas também é errado não podermos ter orgulho de nossos políticos.. a culpa é deles, claro, mas também tem uma parcela nossa. Mais pessoas honestas devem ser incentivadas a entrar para a política!! Não devíamos deixar que somente vagabundos, representantes de empresas e bancos, ladrões, representantes do tráfico e outros descomprometidos com a melhoria de vida do cidadão brasileiro e seus familiares entrassem para a política. Existem pessoas com convicções já hoje na política, não são poucos, mas não são muitos e com certeza não são a maioria.. mas e se fossem?!?! Eu quero políticos que me orgulhem. Eu quero ver um Senador da República entrar em um restaurante e ser recebido por aplausos de pé dos presentes. Então.. temos de corrigir esse costume enraizado de que político só pode ser Odorico Paraguassu e seus afins. Procurem e enalteçam os bons políticos. Incentivem pessoas de bem a seguir o caminho da política. Vamos isolar os políticos vagabundos e de mau caráter. Eles sempre se apresentam (os de mau caráter acabam sempre descobertos e propagandeados em jornais, elameando a classe).. é questão de tempo. Difícil é ver os honestos, pois nunca aparecem nas manchetes.

p.s.6: Acho que ficou claro, mas vou especificar o P.s.5. Primeiro os representantes de bancos e empresas não precisam ser desonestos.. eles estão mencionados junto aos desonestos porque foram comentados no momento em que eu quis enaltecer que há grupos que não defendem o interesse de cidadãos considerados como indivíduos. Mesmo que os representates de empresas e bancos sejam honestos, muitas vezes colocam o interesse dessas empresas à frente do cidadão, adotando medidas que aumentam a participação no pib da empresa e empobrecendo o cidadão. Neste sentido representantes políticos de empresas e bancos, principalmente bancos, podem prejudicar os interesses (mesmo que legitimamente) dos cidadãos. Há muitos políticos que podem receber apoio de empresas mas não se desvinculam de seus compromissos com o cidadão. Dificilmente algum parlamentar muito renomado não tem apoio de uma ou algumas empresas (mesmo que pequenas) que contribuem para sua campanha (fato normal e legítimo, mais uma vez.. até desejável, eu diria) mas cito alguns políticos de projeção que são honestos e comprometidos com o bem da população e o crescimento do Brasil, independentemente de sua matiz política e de apoios de campanha: Jorge Bittar, Fernando Gabeira, Alexandre Molon, Francisco Dornelles, Carlos Minc, Nílton Salomão, Eliomar Coelho, Marcelo Freixo.. então, é possível! Um dia, quem sabe, votaremos, e as empresas apoiarão, em parlamentares simplesmente por seu caráter e compromisso honesto com o bem do País, das empresas e das pessoas, para que ajam no limite de suas capacidades para criar ambiente ótimo de trabalho e vida para todos.

p.s. 22/08/2011 - texto revisto e ampliado.

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