quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A precarização da saúde no setor privado

Pessoal, isso é muito grave. Compartilho com vocês tema que foi objeto de carta minha a um Deputado Federal como sugestão de projeto de lei para melhora de prestação de serviço médico na área privada.

Os planos privados estão sendo inchados pela ascenção da clásse média baixa (o que é ótimo sob perspectiva social) e não está havendo regra que obrigue a manutenção de estrutura proporcional à demanda, gerando pagamento de plano e não prestação de serviço médico através do plano de saúde!!!!! A solução é obrigar aos planos a manterem ofertas de leitos, quartos, ctis, enfermarias, médicos e enfermeiros em proporção ao número de segurados do plano de saúde, ou potencial paciente. Essa a sugestão de um médico amigo meu. O mesmo pode ser pensado para hospitais. Deveriam ser obrigados a manter número proporcional de leitos, Utis, enfermarias, médicos e enfermeiros, consoante o número de pacientes, por plano com o qual fecham contrato.

Esse descasamento entre pacientes/segurados e número de médicos/ctis/quartos/enfermarias está precarizando o serviço médico particular. Eu passei mal e fui ser atendido no Quinta D'Or, há duas semanas, através do plano Unimed. Fiquei 2 horas e 45 minutos e não consegui ser atendido por médico algum. Fui atendido por uma enfermeira depois de uma hora, e aguardei um clínico geral por 1h45min, quando desisti, às 00:00h!!! Se eu me dispusesse a esperar, seria atendido pelo clínico, e depois aguardaria para ser encaminhado para um especialista, o qual, depois, me sugeriria exames, pelos quais eu também aguardaria!!!! Processarei o hospital por negativa de prestação de serviço médico e perda de tempo livre.

A solução definitiva, para mim é investimento na saúde pública, mas enquanto não vem, regras para tornar viável a prestação de serviço de saúde contratado são necessárias e urgentes!!!

Também soube que os representantes da Rede D'Or pediram audiÊncia para se encontrar com o Governador Sérgio Cabral para pedir que sejam baixados os salários dos médicos contratados para as UPAs, pois estava acarretando a saída de médicos da área privada.

Senhores, é isso que digo. Tem que investir na área pública para dar dignidade para o médico e dignidade para o seu atendimento. Ao invés de se reunir com o Governador para pedir baixa do salário do médico público, a área privada deveria diminuir seus lucros e aumentar o salário do médico, concorda? É isso que a área privada mais teme, acompanhada pela mídia que é remunerada por seus anúncios: a concorrÊncia da área pública por profissionais qualificados.

Fiquem atentos aos seus próprios interesses senhores. Precarização do serviço público é tudo o que a área privada quer, só que quando há ascenção social como houve nesses últimos oito anos, a área privada não se programou para te atender bem e agora quer que o programa de melhora da saúde pública pare para ele não ter de pagar melhor os médicos. Isso interessa a você?!?!

Sérgio Cabral, continue os investimentos na saúde pública. Não baixe o salário dos médicos das UPAs!!! E mande os representantes da rede D'Or ou outra rede privada de saúde, bem como as seguradoras, aumentarem o salário dos médicos. Nâo me importa o aumento dos planos de saúde (o que se resolve com concorrência na área privada), se eu tiver a opção de ser bem atendido na área pública. Além disso esta área pública é a única saída para pobres, portanto, a recuperação do investimento na saúde pública é essencial para a defesa da cidadania e é a única resposta ética de um governo comprometido com o bem comum.

ps.: texto revisto, corrigido e ampliado em 10/02/2011, sem qualquer alteração de sentido, como sempre.

2 comentários:

  1. Caro Mário,
    A precarização da saúde privada é de conhecimento de todos os médicos que eu conheço. Sou médico ortopedista formado há 9 anos pela UERJ e fiz residência no INTO, onde atualmente sou médico staff.
    No meu 2o ano de residência trabalhei numa emergência ortopédica particular de muito movimento localizada na Tijuca. Na época éramos dois plantonistas e atendíamos uma média de 50 pacientes cada um em 12h de plantão, o que achava demais. Uma amiga que trabalha no mesmo hospital atendeu 38 pacientes de 18-22h de ontem, e hoje são três plantonistas.
    Também trabalhei no Copa D´Or em 2005. Um plantonista de ortopedia dava conta do plantão tranquilamente. Hoje são dois plantonistas 24h e alguns conhecidos pediram demissão no fim do ano, pois não aguentaram a carga de trabalho.
    O interessante é o fato da remuneração do médico não ter acompanhado o aumento da carga de trabalho. Um plantonista da rede D´Or ganha cerca de 3500 reais para trabalhar 24h semanais
    cerca de 36 reais a hora. Talvez seja este o motivo da dificuldade para acharem plantonistas.
    Hoje em dia o agendamento de cirurgias eletivas em Hospitais particulares de grande porte no Rio é uma tarefa hercúlea! No último sábado quase suspendi uma cirurgia, pois não havia leito disponível na São José... A minha paciente acabou por internar, mas a cirurgia iniciou com mais de 3h de atraso.
    Outros colegas relataram problemas similares nos últimos meses...
    Sou pessimista neste assunto. Acredito que o mercado será controlado por três corporações hospitalares: Rede D´Or, Unimed e Amil.
    As perspectivas não são boas para médicos e principalmente pacientes.

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  2. É uma lástima, mesmo. Há uns seis anos atrás um médico conhecido optou por trabalhar em hospital em Portugal. Ele disse que lá ganhava o equivalente ao que ganhava em quatro hospitais no RJ e só trabalhava um turno, podendo viver. Eu acho que o Conselho Nacional de Medicina deveria discutir com juristas, lobbistas e parlamentares como realizar alterações legislativas para garantir dignidade no exercício da medicina e qualidade de atendimento aos segurados e pacientes.
    Veja o filme Sicko - SOS Saúde de Michael Moore. Parece que na Inglaterra um cirurgião só pode realizar 120 cirurgias por ano. É claro que lá o sistema de saúde é todo público.
    De qualquer modo, acho que a única saída definitiva é investimento na saúde pública. O médico não pode ser empregado de empresa, com meta de diminuição de custos, nem ser massacrado para atender um milhõa de pessoas por hora. Mercado livre em saúde não dá em boa coisa e o filme de Michael Moore está aí para provar a falência do sistema de saúde público americano e o sofrimento dos americanos pobres e de classe média.
    As pessoas não vão se tratar nos hospitais para não acumularem dívidas!!! Temos de evitar isso no Brasil. Não quer dizer que não precise haver medicina privada, lógico. Precisa e sempre precisará, mas a normalidade da área privada depende do investimento maciço na área pública.
    Dignidade ao exercício da medicina! Dignidade ao atendimento ao paciente! Foco na cura! Não a transformação do médico em empregado com metas de diminuição de custos no atendimento ao paciente!
    Grande Abraço

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