Pessoal, dei um exemplo de artigo tendencioso antes. Mas com dois objetivos escrevo este artigo: (1) para dar exemplo de bom artigo que informa o leitor e (2) para que vocÊs leiam a opinião de Vera Chaia, doutora, livre docente em Ciências Políticas na PUC-SP sobre a não isenção de jornais ao veicularem notícias, principalmente em período eleitoral.
O artigo ao qual remeto vocês é intitulado "o poder da mídia", às pgs. 4/5, da edição 36/ANO 03, do periódico mensal de alto nível do qual já falei, Le Monde Diplomatique (http://diplomatique.uol.com.br/artigo.php?id=717).
Neste artigo a doutora discorre e responde a perguntas do Jornal. Naturalmente não reproduzirei o texto todo, mas vou reproduzir algumas perguntas para vocês terem idéia da profundidade das perguntas, assim como reproduzirei alguns trechos de respostas que comprovam o fato que sempre trago à baila de que temos de ler criticamente os jornais e com isso encerrarei esta ladainha em especial, para poder passar somente a criticar normalmente e cotidianamente alguns artigos sem poder ser acusado de querer apregoar gratuitamente a falta de isenção da imprensa de um modo geral.
Seleção de perguntas feitas pelo Jornal Le Monde Diplomatique:
"Que influência tem a mídia no Brasil, especialmente a televisão aberta, sobre a opinião pública?"
"Nós temos três grandes jornais no Brasil, O Globo, O Estadão e a Folha, jornais que têm capacidade de produção de conteúdo, de formulação ideológica em defesa disto ou daquilo... são eles que pautam a agenda nacional. Depois de produzida a versão dos fatos, as agências de notícias repassam esse conteúdo para os jornais que não têm essa capacidade. E há uma tradução mais simplificada para os noticiários de TV. Mas o núcleo formulador, vamos dizer assim, estaria abrigado nesses três jornais. Você concorda com isso?"
"Há uns vinte anos, Noam Chomsky escreveu um livro sobre como a imprensa norte-americana produzia o consenso nos Estados Unidos. E ele atribuía a essa mídia a formação da opinião política. Hoje, qual é a sua avaliação? A televisão é capaz de manipular o voto? Essa manufatura do consenso continua sendo produzida?"
"Mas se não é pela mídia, por onde se vai formando essa opinião (a opinião da população mais simples que vê o conflito entre o que a mídia diz e o que sua vida de fato mudou/melhorou/piorou)? Como circulam na sociedade juízos que vão permitir o deslocamento do eleitorado?"
"O Estadão está totalmente integrado à campanha do Serra, assim como os jornais de Brasília e do Rio de Janeiro. Esses órgãos de imprensa dependem muito da publicidade governamental; se assumem essa postura radicalizada da defesa de um candidato de oposição, e o governo consegue eleger a sua sucessora, como fica essa relação entre esses órgãos e o governo?"
Vejam a seleção de trechos de respostas da doutora Vera Chaia:
"As eleições diretas, em 1989, foram consideradas um marco em termos de influência da televisão e da imprensa, de um modo geral, nas eleições. Naquele ano houve um posicionamento claríssimo de todos os meios de comunicação, imprensa escrita, revistas e principalmnete televisão, a favor do Fernando Collor de Mello e em oposição a Luiz Inácio Lula da Silva (...)"
"(...) É claro que a Veja nunca se posicionou, e nunca vai se posicionar, a favor do Partido dos Trabalhadores e muito menos de Lula, mas várias outras revistas o fizeram. (...) Isso é interessante: apesar de a imprensa bater, a todo momento falar no mensalão, de aparecerem imagens de pessoas indo a bancos e da própria CPI que cassou o mandato do Jefferson e do Zé Dirceu, isso tudo que foi publicado e veiculado pela imprensa não sensibilizou a população. Eu acho que, se em 1989 a mídia tinha um peso significativo, hoje o eleitor mudou e compreende essa manipulação."
"Então, se ele (o eleitor simples) está notando que a vida dele melhorou, ele não vai aceitar o que a imprensa fala, entendeu? Não é só uma questão da mídia que influencia; é, sim, uma melhoria nas condições de vida das pessoas. E isso fez com que o brasileiro se posicionasse a favor do Lula."
"É preciso compreender o fenômeno Lula, não depreciando a figura dele, porque senão ele não seria reconhecido, não teria 80% de avaliação positiva. Isso por quê? Porque ele fez alguma coisa."
Senhores e senhoras, quero parabenizar o jornalista responsável pelo artigo, Silvio Caccia Bava e ao Jornal Le Monde Diplomatique pela publicação do artigo da forma como o foi feita. O bom trabalho jornalístico informativo deve ser festejado.
Aconselho a todos o acompanhamento das edições deste novo veículo jornalístico, senão uma tendência, ao menos um grandissíssimo exemplo de que uma maior isenção informativa e profundidade de perguntas e temas pode sair do campo da possibilidade e probabilidade de edição jornalística para o mundo dos fatos reais.
Apesar de as últimas informações serem sobre campo sensível, o objeto do artigo não era o Lula, mas a demonstração de manipulação de informação e criação de tendência pela mídia. Acho que ficou claro que isto existe. Por mais óbvio que possa parecer, ler este tipo de afirmação de uma especialista, em artigo publicado em jornal respeitável, traz a idéia da manipulação informativa definitivamente do mundo do possível para o mundo real.
terça-feira, 13 de julho de 2010
sexta-feira, 9 de julho de 2010
Flagrante de artigo desinformativo: "Dívida Emergente"
Senhores e senhoras, teremos várias oportunidades para demonstrar incongruências da informação jornalística, pois a pressão que sofrem para vender informação gera a necessidade de apresentar sempre uma "novidade" que surpreenda a opinião pública e isso é mais fácil quando o leitor pode ser confundido, aturdido. Se o leitor dominar os fatos, as notícias serão mero desdobramento de fatos uns dos outros e assim o é para profissionais que conhecem o tema sobre o qual os jornais menos técnicos discorrem com liberdade de abordagem e sem comprometimento com o entendimento do leitor.
Veja o artigo de hoje, 09 de julho, do Jornal o Globo, à folha 25: "Dívida Emergente - Débito público do Brasil é o 3o maior entre países em desenvolvimento, diz FMI, com risco para equilíbrio fiscal".
Observe que não há a publicação de mentira, nesta hipótese, mas a informação para ser apreendida de forma adequada deve ser contraposta a outras informações que não estão ali, mas já foram publicadas pelo mesmo jornal, o qual, aliás, eu assino, juntamente com o Jornal do Commercio. É claro que temos de chamar a atenção para que o leitor não queira, nem esta é a função do Jornal e dos jornalistas, que haja um processo de tutela, ou uma relação de professor-aluno, entre jornalista/jornal e leitor. A função do jornal é informar fatos e você deve fazer as comparações com outros fatos para dominar o que está acontecendo. Mas o jornal poderia facilitar este processo se já informasse a notícia com detalhes que facilitassem essa percepção, mas a notícia ficaria menos extraordinária, incomum, surpreendente e poderia perder apelo para venda em relação ao grande público.
Mas se você lê o artigo mencionado parece que o Brasil está muito mal. Agora perceba, esta notícia está somando o débito público que existe para financiar dívida pública, com suas necessidades normais de financiamento, com os valores públicos destinados exclusivamente para investimento em infra-estrutura e empréstimos ao BNDES para ser ofertado às empresas privadas. Crédito fomenta atividade empresarial, cria emprego, cria riqueza, cria arrecadação.
Recentemente o Jornal O Globo publicou uma lista de ranking de déficits orçamentários em que o Brasil estava em segundo lugar em menor déficit (1,5% do PIB), em primeiro lugar estava a Arábia Saudita (1,5% de superávit) e em último estava a Inglaterra (12% de déficit), seguida dos EUA (10% de déficit). França e Alemanha estão com déficit em torno de 3 a 4 vezes pior que o nosso.
Em relação à relação dívida/PIB, em que mundialmente conta-se somente a dívida real, descontados os investimentos públicos, que geram retorno a médio e longo prazo, o Brasil está hoje com mais ou menos 45% PIB, com previsão de chegar ao fim do ano com relação em torno de 40% do PIB, enquanto os EUA superam 80% do PIB, Itália supera 100% do PIB, Inglaterra idem, Alemanha e França também superam a relação dívida/PIB brasileira e a do Japão chegou a 200% do PIB. Estes países podem demorar de 5 a 7 anos para chegar à nossa ótima situação de hoje. E não por outro motivo o rating do Brasil foi elevado pelas agências de rating, mais uma vez.
Portanto, senhores e senhoras, as contas públicas brasileiras estão dentre as melhores do mundo, ao contrário do que uma leitura superficial do artigo mencionado possa parecer. E é lógico que é melhor não haver dívida nenhuma, mas isso não existe e se há que haver dívida que seja para fomentar o empresariado a criar empregos, tributos e riqueza para a nossa população.
Veja o artigo de hoje, 09 de julho, do Jornal o Globo, à folha 25: "Dívida Emergente - Débito público do Brasil é o 3o maior entre países em desenvolvimento, diz FMI, com risco para equilíbrio fiscal".
Observe que não há a publicação de mentira, nesta hipótese, mas a informação para ser apreendida de forma adequada deve ser contraposta a outras informações que não estão ali, mas já foram publicadas pelo mesmo jornal, o qual, aliás, eu assino, juntamente com o Jornal do Commercio. É claro que temos de chamar a atenção para que o leitor não queira, nem esta é a função do Jornal e dos jornalistas, que haja um processo de tutela, ou uma relação de professor-aluno, entre jornalista/jornal e leitor. A função do jornal é informar fatos e você deve fazer as comparações com outros fatos para dominar o que está acontecendo. Mas o jornal poderia facilitar este processo se já informasse a notícia com detalhes que facilitassem essa percepção, mas a notícia ficaria menos extraordinária, incomum, surpreendente e poderia perder apelo para venda em relação ao grande público.
Mas se você lê o artigo mencionado parece que o Brasil está muito mal. Agora perceba, esta notícia está somando o débito público que existe para financiar dívida pública, com suas necessidades normais de financiamento, com os valores públicos destinados exclusivamente para investimento em infra-estrutura e empréstimos ao BNDES para ser ofertado às empresas privadas. Crédito fomenta atividade empresarial, cria emprego, cria riqueza, cria arrecadação.
Recentemente o Jornal O Globo publicou uma lista de ranking de déficits orçamentários em que o Brasil estava em segundo lugar em menor déficit (1,5% do PIB), em primeiro lugar estava a Arábia Saudita (1,5% de superávit) e em último estava a Inglaterra (12% de déficit), seguida dos EUA (10% de déficit). França e Alemanha estão com déficit em torno de 3 a 4 vezes pior que o nosso.
Em relação à relação dívida/PIB, em que mundialmente conta-se somente a dívida real, descontados os investimentos públicos, que geram retorno a médio e longo prazo, o Brasil está hoje com mais ou menos 45% PIB, com previsão de chegar ao fim do ano com relação em torno de 40% do PIB, enquanto os EUA superam 80% do PIB, Itália supera 100% do PIB, Inglaterra idem, Alemanha e França também superam a relação dívida/PIB brasileira e a do Japão chegou a 200% do PIB. Estes países podem demorar de 5 a 7 anos para chegar à nossa ótima situação de hoje. E não por outro motivo o rating do Brasil foi elevado pelas agências de rating, mais uma vez.
Portanto, senhores e senhoras, as contas públicas brasileiras estão dentre as melhores do mundo, ao contrário do que uma leitura superficial do artigo mencionado possa parecer. E é lógico que é melhor não haver dívida nenhuma, mas isso não existe e se há que haver dívida que seja para fomentar o empresariado a criar empregos, tributos e riqueza para a nossa população.
terça-feira, 6 de julho de 2010
Email de amiga: "os excessos de contratação e salários prejudicam a imagem do serviço público"
Uma amiga me fez uma colocação altamente pertinente e compartilho com vocês:
Minha resposta:
"Mario,
>
> Como ex funcionaria publica de uma época em que o mérito era a variável mais importante, acho que grande parte da critica que se faz não e função das ações de governo para capacitação de órgãos públicos, mas sim do excesso de aparelhamento da máquina e a alguns excessos de aumentos salariais e de funcionários fantasmas. Essa situação e tão gritante que contamina e atrapalha as ações efetivamente construtivas em prol de um eficaz funcionamento da máquina publica."
Minha resposta:
"Você tem meu email, mas se quiser discutir ou discordar de algum artigo no blog, pode fazer no comentário, se assim entender interessante. Não me preocupo com as críticas, tá? Pra mim são até estimulantes para escrever outros artigos!
Agora, respondendo a você, entendo perfeitamente sua posição. Entretanto, dê-me um exemplo de excesso de aparelhamento de algum quadro público. Acho muito difícil você conseguir apontar isto. Você não terá problema em apontar aumento de contratação em todas as áreas, mas inchaço? Ter menos funcionários antes e mais depois não significa inchaço. Você viu a hipótese que mencionei sobre os policiais federais? Eram 7500 em 2002, hoje são 21 mil. Inchou? Na Argentina em 2002 os policiias federais eram 30 mil, para um país que é metade do nosso e , na época, tinha 1/6 da nossa população.
No Judiciário: são 8 juízes para cada 100 mil habitantes na Europa, mas no Brasil, ao menos na Justiça Federal são 0,94 para cada 100 mil. E assim os servidores, claro. Significaria dizer que para igualar com europeus teríamos de contratar ao menos 700% a mais. Se contratássemos 300% a mais, estaria inchado? Claro 300% a mais de Juízes exigiria mais funcinário e a folha aumentaria muito, o custo aumentaria, mas estaria inchada a máquina?
No INPI: todo mundo reclama que processo de reconhecimento de patente demora de 3 a 8 anos no Brasil e lá fora pode demorar meses. Mas até 2002 só havia 100 técnicos especializados em várias matérias (física, química etc.) para analisar todos os pedidos de patentes. Lula aumentou bem o salário e aumentou o número de funcionários. Talvez isso aumente o número de patentes reconhecidos no Brasil e os royalties pagos aqui.
Os jornais nunca focam o resultado positivo de contratação e incentivo salarial público. Isso é um absurdo.
Entendo o que você disse sobre excesso remuneratório. Mas pode mencionar quais são excessos e quais não são? Às vezes o salário alto derivou de uma necessidade administrativa, afinal, quando você aumenta salário de servidor você não está aumentando o salário de sua família e parentes. O funcionalismo não é feudo. São cargos públicos de todos. Qualquer um pode fazer concurso. Por isso, pela complexidade de atribuições de algumas carreiras, nem todos podem fazer o concurso ou diminui o número de candidatos e/ou interessados. Lembro por exemplo que por volta de 1997 o salário de Juiz estadual era bem menor que o de Promotor de Justiça. Havia Juízes querendo fazer concurso para a Promotoria de Justiça, para ser Tabelião de Cartório (ainda tem nesta hipótese) e os concursos para Magistratura Estadual não eram concorridos (lembro-me de um em que só se inscreveram 200 advogados e foi o comentário geral - mesmo prorrogando prazo de inscrição ninguém se inscrevia) porque os habilitados não queriam o trabalho e responsabilidade de Juiz se podiam ganhar mais estudando e passando para o concurso de Promotor de Justiça. Os salários tiveram de ser elevados para atrair e manter Juízes de Estado. Da mesma forma o problema com servidores do Judiciário da União hoje (Justiça Federal, Justiça Militar, Justiça Eleitoral e justiça Militar). São bem preparados, exercem funções complexas (não aquela palhaçada escrita pela Isto É desta semana - 05/07/2010) e podem fazer outros concursos (e estão) e sair dos quadros do Judiciário (saem hoje à razão de 20 a 25% ao ano), prejudicando o trabalho dos Juízes e andamentos regulares e mais céleres dos processos. Como mantê-los na função? Servidor não é escravo. Ele pode ir embora. Os Ministros e Juízes não querem que eles se vão. Você sabia que o Tribunal de Justiça do RJ já pagou melhor que a Federal a seus funcionários? Sabia que hoje o concurso para analista e técnico da Justiça Federal atrai mais e mais pretendentes e os que passam para o Tribunal de Justiça não tomam posse? Quem é prejudicado? O contribuinte.
Eu acho que os salários ficaram altos, mas o problema é existir opções altas em outras carreiras e desestabilizar o trabalho nas carreiras que não ficaram tão altas. A questão é como você, se fosse chefe desses quadros que estão se esvaziando, faria? E qual é o limite? O limite é a previsão orçamentária. Você sabia que o orçamento do Judiciário com este impacto alto de aumento fica em torno de 4% enquanto o Judiciário tem garantido para sua administração pela Constituição 6%?
Então há excesso? Alguns excessos terminaram puxando outros pelos problemas que te falei. Eu mesmo passei para advogado da Finep e não fui por causa dos aumentos do Judiciário Federal. O Judiciário atingiu seu objetivo em me manter em seus quadros, por enquanto.
Quanto a funcionário fantasma, eu entendo também, claro. Mas isto é problema de fiscalização. E isto acontece muito com cargos em comissão, de livre nomeação e não com cargo efetivo, preenchido por concurso público. Se a mídia confunde tudo isso, nós temos de explicar para a população. Em relação a cargos em comissão, houve, parece, muitos criados (foi publicado que 30 mil estariam sendo criados pelo Lula para diversos Poderes). Agora veja: sou contra criação de cargo em comissão de um modo geral, porque isso sim é feudo. Agora, se 30 mil foram criados pelo Lula para os três Poderes, a informação está errada, né? O Executivo só cria cargo em comissão para o Executivo. Ele só pode sancionar criação de cargos para o Legislativo e para o Judiciário, pois a iniciativa de criação destes cargos é dos respectivos Poderes, e foram aprovados pelo Legislativo em tramitação regular. Discordo da criação de todos estes cargos, até porque Lula tinha extinto 21 mil há uns cinco anos, lembra? Mas devemos colocar pingos nos "is".
Se quiser discutir entre aumentar salários e contratar mais funcionários para o respectivo cargo, já que a despesa será a mesma, do ponto de vista orçamentário, acho justo. Mas a mídia não põe assim. Vende que tudo é uma irresponsabilidade, mistura as atribuições de Presidente do Senado, Presidente da Câmara, Presidente do STF e Presidente da República, nunca investiga a causa da necessidade de investimento em servidor público, nem do impacto positivo do investimento em servidor público. Veja a Polícia Federal: o aumento de salário e de funcionários repercutiu em passaportes liberados mais rapidamente, mais investigações, mais condenações e prisões.
Adorei a contribuição e pretendo publicar no blog. Não vamos ficar com essas pérolas de informação só pra gente.
Não mencionarei seu nome, a não ser que você me autorize!! Pode me colocar contra a parede, tá? Fazer papel de advogado do diabo. Sei que há erros na adminsitração pública, mas não podemos deixar a midia enxovalhar a imagem do serviço público sem dar acesso ao leitor a ver outros lados da questão que nunca são nem serão publicados."
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Conflitos de interesses - grande mídia x sociedade x serviço público
Senhores e senhoras, a grande mídia tem notável importância na nossa sociedade, não há a menor dúvida. Sua importância é tanto maior na medida em que proporciona um debate profundo sobre os temas que aborda, dando oportunidade de o leitor conhecer a matéria veiculada e garantindo sua possibilidade de ponderar por si só sobre a questão. Isso é tanto mais possível quanto mais isenta é a mídia. Mas isso é muito difícil, pois a empresa jornalística é primeiramente uma empresa, e ela precisa tanto pagar impostos como vender notícia. O interesse, portanto, em fazer dinheiro com a venda de notícia é uma grande pressão para que a abordagem dos textos seja atraente ao público alvo tanto quanto não conflite com seus interesses de empresa jornalística, óbvio.
Acho muito importante notar uma grande parcialidade na abordagem de temas destinados ao público, em especial em matéria de orçamento, impostos, estatais e serviço público. E o meu objetivo é tentar fazer um contraponto desta visão empresarial jornalística a bem de se tentar aproximar um pouco mais da verdade, a qual não pertence a ninguém, mas que pode ser alcançada tanto mais perspectivas sobre ela possam ser apresentadas à sua Excelência, o Leitor.
Agora, se nós leitores somente temos acesso ao que é publicado pela grande mídia, como fugir da parcialidade da notícia veiculada? Este é um objetivo deste blog. Trazer contrapontos sobre a notícia veiculada para que você tenha acesso a duas informações e por final, e muito mais importante, conclua por si mesmo qual é a verdade e qual é o seu real interesse em dado tema, pois ser conduzido por uma massa de informação em sentido único não é o melhor para você, nem para sua família, nem para o Estado, nem para a Sociedade.
O que aplicarei aqui para a análise deriva do conceito passado a nós por Miguel Reale em seu livro “Filosofia do Direito”: é a ontognoseologia ou o estudo do objeto, enquanto ente cognoscível e do sujeito que conhece, enquanto ser cognoscente. Ou seja, o objeto sobre o que se discute deve ser estudado como objeto puro, sem paixões ou condicionalidades que induzam ou limitam seu conhecimento sobre ele. E aquele que apresenta um argumento ou explica o objeto de estudo deve ser analisado como sujeito com características próprias, com condicionalidades que induzem ou limitam o seu conhecimento sobre o objeto em discussão.
Imagine três homens da Idade Média: um árabe, um europeu cristão e um chinês. Um árabe falará das cruzadas realizadas pelos cristãos da idade média de uma forma diferente da que um cristão ocidental falaria, porque a perspectiva do árabe e do cristão são diferentes sobre o mesmo fato. Ouvir apenas um desses discursos sem estar atento para o que caracteriza cada um desses senhores, no caso de você ser um chinês que não sofreu a influência das cruzadas em sua história, não o ajudará a entender corretamente sobre o que verdadeiramente foram as cruzadas, para o bem ou para o mal.
Portanto, para você entender o máximo do tema em debate, deve analisar o tema e quem o apresenta a você, da forma o máximo possível imparcial e fria, sabendo que é impossível a quem escreve não se submeter a suas próprias crenças e, nesta medida, alterar a verdade daquilo que quer apresentar. Por isso você deve criticar, ter senso crítico, para não ser conduzido pela perspectiva alheia, seja de uma pessoa (caso em que me incluo e aos jornalistas), seja de uma empresa jornalística, seja de um grupo social em particular. Você não deve desprezar nenhuma perspectiva, mas se quiser entender a verdade sobre o fato, deverá estar atento a todas elas, entendendo seus interesses envolvidos, para poder ponderar o que é importante para você, o que está em jogo para o seu interesse e assim, melhor se conduzir de forma autônoma. Acredite-me, isto não é fácil, mas o mais importante é você não admitir ser conduzido por ninguém e estar disposto a ouvir e ler sobre perspectivas diversas com o fim de não se deixar ludibriar pela primeira perspectiva lógica que se lhe é oferecida.
É importante, por fim, que você entenda que o argumento apresentar-se como lógico não garante que seja correto ou verdadeiro. Isso é uma das mais célebres regras para o desenvolvimento do raciocínio autônomo, por mais óbvio que possa parecer. A lógica seduz nosso raciocínio e, se bem conduzida, transforma preto em branco, quadrado em redondo e assim ficamos preso em sua armadilha. Um dos livros mais interessantes que me apresentaram esse conceito foi “O Homem que calculava” de Malba Tahan, pseudônimo de Júlio César de Mello e Souza, além de o livro “O que é dialética”, de Leandro Konder, se não me engano, da Editora Brasiliense, Coleção Primeiros Passos. É conhecido o aforismo de que “a lógica é a prostituta das ciências”, pois ela se presta a defender qualquer coisa e um resultado de fácil percepção foi o apelo que o Nazismo obteve em seu País, a Alemanha de 1932.
Sendo assim, podemos perguntar, como pode neste momento, em que o Brasil é um dos países com melhores condições orçamentárias, crescimento do PIB, com um dos menores déficits orçamentários de todo o mundo e uma das melhores relações dívida/PIB, em relação mesmo aos países mais ricos, e com uma da menores (se não a menor) relações número de servidores públicos/número de habitantes de todos os países da OCDE, a grande mídia noticiar inchaço da máquina estatal, gastança descontrolada, contratação irresponsável e concessão de aumentos nababescos e desnecessários a todo o funcionalismo público?
Bem, primeiramente o termo inchaço senhores, pode ser logicamente compreendido quando há aumento de número de servidores. Isso tem apelo. É claro que ninguém quer gasto público desnecessário. Ninguém quer pagar mais impostos e servidores são pagos com impostos. Mas todos precisam e querem boa prestação de serviço público, o que só pode ser fornecido por número suficiente de funcionários e em qualidade compatível com a complexidade do cargo que exercerá.
Veja: a Polícia Federal do Brasil tinha, em 2002, 7.500 funcionários. Hoje tem 21 mil, mais ou menos. Inchou a máquina pública? Uma análise somente dos números de funcionários pode indicar que sim, mas em 2002 na Argentina havia 30 mil policiais federais. Este país tem metade do território brasileiro e tinha 1/6 da nossa população, à época. Pergunto agora: inchou-se o quadro de funcionários da Polícia Federal brasileira? Não, recuperaram-se os quadros da Polícia Federal dando um mínimo de estrutura humana para exercer a função de segurança pública, resultando em melhora sensível e diria a olhos vistos pela imensa quantidade de prisões efetuadas, inquéritos e investigações em andamento e concluídos, como muito bem noticiado pela mídia. Quem saiu beneficiado com esse investimento público em recursos humanos? Você, cidadão honesto e todas as empresas honestas deste País. Porque, não se engane, a única coisa que você tem de volta pelo imposto que paga é serviço público, que, por sua vez, é prestado por servidores públicos. Investir no serviço público é garantir o retorno do seu imposto pago. Para o seu bem e da sua família. Investir no serviço público é investir no seu interesse por uma melhor prestação de serviço público seja de segurança pública, saúde pública, pesquisa espacial, pesquisa agrícola, distribuição de justiça, defesa nacional, educação pública, diplomacia e relações internacionais.
Observe agora o caso de médicos do Estado do Rio de Janeiro. Apesar da complexidade de suas funções, eles recebem em torno de R$1.300,00. Um professor estadual então, nem se fala. Com esses valores e sem investir em melhora estrutural você nem consegue que os candidatos a médico e professor tomem posse em seus cargos ou aqueles que estão nesses cargos estão abandonando ou terminam por ter de se dedicar a outros serviços para complementar o salário. E qual é o resultado para você? Menos servidores e servidores desmotivados, ou seja, pior prestação de serviço público.
Hoje, senhores e senhoras, temos esvaziamento de quadros públicos e a maneira de você garantir melhora na prestação de serviço público é contratando e aumentado salário, seja para manter os que estão em seus cargos, seja para aumentar seu comprometimento (porque ninguém trabalha em dois ou três empregos, prejudicando sua qualidade de vida, porque quer), seja para atrair novos e capazes funcionários públicos para garantirem o retorno do seu imposto. Veja as causas da má prestação do serviço público geral hoje. Você que pesquisar verá baixos salários e poucos e desmotivados funcionários.
E para os funcionários que já ganham acima da média? Do Judiciário por exemplo. Muito simples, senhores, novamente de forma crítica, você deve ponderar o que eu quero como servidor para exercer esta função? Qual o nível do meu servidor do Judiciário (praticamente todos os técnicos têm nível superior e uns 40% de analistas e técnicos têm pós-graduação, inclusive mestrado ou doutorado)? Quais as opções que este servidor tem em outros cargos públicos (são 14 outras carreiras públicas que pagam até 80% a mais, a propósito)? Eu quero manter um bom funcionário ou quero economizar na remuneração? Se eu economizar qual é o benefício? Se eu investir, qual é o benefício. Não importa a sua resposta. Se você fez a pergunta de forma correta, descobriu os benefícios e malefícios de sua opção, a opção está correta. A conseqüência do que você decidiu pode não ser a melhor para você, mas você optou conscientemente. (È claro que você não sabe, nem os jornais publicarão, que o orçamento do Judiciário é de 6% o Orçamento da União, enquanto que o orçamento do Executivo é de 90% o orçamento da união e que aumento do Judiciário ou criação de novas Varas, dentro do limite de 6% do orçamento do Judiciário, não impede programas de governo nem aumentos a aposentados ou do salário mínimo, porque a origem de verbas é diferente e autônoma por causa do princípio da separação de poderes da República)
Pergunto: a Polícia Federal teve bom aumento salarial de 2002 para cá (ainda pode ser notada alguma defasagem com outros quadros da carreira pública) e uma grande contratação. Isto foi bom ou ruim? Manter políticas de valorização do funcionário público e recuperar quadros da carreira pública que não tinham funcionários suficientes é bom ou ruim para garantir o retorno do seu imposto? Não pense em fulano ou cicrano que está no cargo, mas na política de manutenção ou reforço do cargo público e do quadro da carreira pública para prestar serviço público com eficiência para você, hoje e no futuro próximo. O servidor se aposenta ou falece, o cargo e o quadro público é para sempre e servirá a você e a seus netos.
E o interesse da empresa jornalística? Senhores, a empresa jornalística é uma empresa. Ela quer pagar tanto imposto como eu ou você, só que pode publicar a sua opinião. E a opinião tem que ter apelo popular. Explicar a realidade é chato, mas sensacionalismo com malversação de dinheiro público é interessante. Eu gostaria que sem dinheiro o Estado pudesse prestar serviço público, mas o imposto de renda na Suécia é de 65% e no Japão próximo disso. Você vê sueco e japonês reclamando do imposto de renda? Não. Porque eles têm serviço público de qualidade e sentem-se retribuídos pelo Estado. O problema não é o imposto é o serviço público que você tem pelo que você paga.
Aqui temos um servidor para cada 32 habitantes. Segundo o Jornal O Globo, em publicação no dia 08 de junho de 2010, na França há 1 servidor público para cada 12,5 habitantes e há 1 servidor para cada 18 habitantes na Alemanha. Quem está com melhor serviço público? Será que o número de servidores por habitante tem correlação com isto?
Vejo outra coisa, serviço público não publica propaganda em jornal, mas empresas que prestam serviços terceirizados sim. Acabar com o serviço público pode até ser lucro mais a frente com o incremento da publicidade e crescimento da terceirização.
Preste atenção ao seu interesse e ao de quem lhe passa notícia. Analise as informações, analise o interesse de quem lhe vende a notícia e quer que você compre, mais do que quer que você entenda a questão. Até porque, na confusão, quem tem a notícia reina e enriquece.
Abusos devem ser noticiado e coibidos, mas se não pudermos recuperar o serviço público agora em que temos crescimento econômico, déficit orçamentário mínimo (1,5% negativo ao ano, enquanto os EUA apresentam 10% negativo, Inglaterra 12% negativo e Alemanha e França também ao menos 4 vezes pior do que nós), quando poderemos garantir serviço público de qualidade suficiente para a nossa demanda atual e futura?
Acho muito importante notar uma grande parcialidade na abordagem de temas destinados ao público, em especial em matéria de orçamento, impostos, estatais e serviço público. E o meu objetivo é tentar fazer um contraponto desta visão empresarial jornalística a bem de se tentar aproximar um pouco mais da verdade, a qual não pertence a ninguém, mas que pode ser alcançada tanto mais perspectivas sobre ela possam ser apresentadas à sua Excelência, o Leitor.
Agora, se nós leitores somente temos acesso ao que é publicado pela grande mídia, como fugir da parcialidade da notícia veiculada? Este é um objetivo deste blog. Trazer contrapontos sobre a notícia veiculada para que você tenha acesso a duas informações e por final, e muito mais importante, conclua por si mesmo qual é a verdade e qual é o seu real interesse em dado tema, pois ser conduzido por uma massa de informação em sentido único não é o melhor para você, nem para sua família, nem para o Estado, nem para a Sociedade.
O que aplicarei aqui para a análise deriva do conceito passado a nós por Miguel Reale em seu livro “Filosofia do Direito”: é a ontognoseologia ou o estudo do objeto, enquanto ente cognoscível e do sujeito que conhece, enquanto ser cognoscente. Ou seja, o objeto sobre o que se discute deve ser estudado como objeto puro, sem paixões ou condicionalidades que induzam ou limitam seu conhecimento sobre ele. E aquele que apresenta um argumento ou explica o objeto de estudo deve ser analisado como sujeito com características próprias, com condicionalidades que induzem ou limitam o seu conhecimento sobre o objeto em discussão.
Imagine três homens da Idade Média: um árabe, um europeu cristão e um chinês. Um árabe falará das cruzadas realizadas pelos cristãos da idade média de uma forma diferente da que um cristão ocidental falaria, porque a perspectiva do árabe e do cristão são diferentes sobre o mesmo fato. Ouvir apenas um desses discursos sem estar atento para o que caracteriza cada um desses senhores, no caso de você ser um chinês que não sofreu a influência das cruzadas em sua história, não o ajudará a entender corretamente sobre o que verdadeiramente foram as cruzadas, para o bem ou para o mal.
Portanto, para você entender o máximo do tema em debate, deve analisar o tema e quem o apresenta a você, da forma o máximo possível imparcial e fria, sabendo que é impossível a quem escreve não se submeter a suas próprias crenças e, nesta medida, alterar a verdade daquilo que quer apresentar. Por isso você deve criticar, ter senso crítico, para não ser conduzido pela perspectiva alheia, seja de uma pessoa (caso em que me incluo e aos jornalistas), seja de uma empresa jornalística, seja de um grupo social em particular. Você não deve desprezar nenhuma perspectiva, mas se quiser entender a verdade sobre o fato, deverá estar atento a todas elas, entendendo seus interesses envolvidos, para poder ponderar o que é importante para você, o que está em jogo para o seu interesse e assim, melhor se conduzir de forma autônoma. Acredite-me, isto não é fácil, mas o mais importante é você não admitir ser conduzido por ninguém e estar disposto a ouvir e ler sobre perspectivas diversas com o fim de não se deixar ludibriar pela primeira perspectiva lógica que se lhe é oferecida.
É importante, por fim, que você entenda que o argumento apresentar-se como lógico não garante que seja correto ou verdadeiro. Isso é uma das mais célebres regras para o desenvolvimento do raciocínio autônomo, por mais óbvio que possa parecer. A lógica seduz nosso raciocínio e, se bem conduzida, transforma preto em branco, quadrado em redondo e assim ficamos preso em sua armadilha. Um dos livros mais interessantes que me apresentaram esse conceito foi “O Homem que calculava” de Malba Tahan, pseudônimo de Júlio César de Mello e Souza, além de o livro “O que é dialética”, de Leandro Konder, se não me engano, da Editora Brasiliense, Coleção Primeiros Passos. É conhecido o aforismo de que “a lógica é a prostituta das ciências”, pois ela se presta a defender qualquer coisa e um resultado de fácil percepção foi o apelo que o Nazismo obteve em seu País, a Alemanha de 1932.
Sendo assim, podemos perguntar, como pode neste momento, em que o Brasil é um dos países com melhores condições orçamentárias, crescimento do PIB, com um dos menores déficits orçamentários de todo o mundo e uma das melhores relações dívida/PIB, em relação mesmo aos países mais ricos, e com uma da menores (se não a menor) relações número de servidores públicos/número de habitantes de todos os países da OCDE, a grande mídia noticiar inchaço da máquina estatal, gastança descontrolada, contratação irresponsável e concessão de aumentos nababescos e desnecessários a todo o funcionalismo público?
Bem, primeiramente o termo inchaço senhores, pode ser logicamente compreendido quando há aumento de número de servidores. Isso tem apelo. É claro que ninguém quer gasto público desnecessário. Ninguém quer pagar mais impostos e servidores são pagos com impostos. Mas todos precisam e querem boa prestação de serviço público, o que só pode ser fornecido por número suficiente de funcionários e em qualidade compatível com a complexidade do cargo que exercerá.
Veja: a Polícia Federal do Brasil tinha, em 2002, 7.500 funcionários. Hoje tem 21 mil, mais ou menos. Inchou a máquina pública? Uma análise somente dos números de funcionários pode indicar que sim, mas em 2002 na Argentina havia 30 mil policiais federais. Este país tem metade do território brasileiro e tinha 1/6 da nossa população, à época. Pergunto agora: inchou-se o quadro de funcionários da Polícia Federal brasileira? Não, recuperaram-se os quadros da Polícia Federal dando um mínimo de estrutura humana para exercer a função de segurança pública, resultando em melhora sensível e diria a olhos vistos pela imensa quantidade de prisões efetuadas, inquéritos e investigações em andamento e concluídos, como muito bem noticiado pela mídia. Quem saiu beneficiado com esse investimento público em recursos humanos? Você, cidadão honesto e todas as empresas honestas deste País. Porque, não se engane, a única coisa que você tem de volta pelo imposto que paga é serviço público, que, por sua vez, é prestado por servidores públicos. Investir no serviço público é garantir o retorno do seu imposto pago. Para o seu bem e da sua família. Investir no serviço público é investir no seu interesse por uma melhor prestação de serviço público seja de segurança pública, saúde pública, pesquisa espacial, pesquisa agrícola, distribuição de justiça, defesa nacional, educação pública, diplomacia e relações internacionais.
Observe agora o caso de médicos do Estado do Rio de Janeiro. Apesar da complexidade de suas funções, eles recebem em torno de R$1.300,00. Um professor estadual então, nem se fala. Com esses valores e sem investir em melhora estrutural você nem consegue que os candidatos a médico e professor tomem posse em seus cargos ou aqueles que estão nesses cargos estão abandonando ou terminam por ter de se dedicar a outros serviços para complementar o salário. E qual é o resultado para você? Menos servidores e servidores desmotivados, ou seja, pior prestação de serviço público.
Hoje, senhores e senhoras, temos esvaziamento de quadros públicos e a maneira de você garantir melhora na prestação de serviço público é contratando e aumentado salário, seja para manter os que estão em seus cargos, seja para aumentar seu comprometimento (porque ninguém trabalha em dois ou três empregos, prejudicando sua qualidade de vida, porque quer), seja para atrair novos e capazes funcionários públicos para garantirem o retorno do seu imposto. Veja as causas da má prestação do serviço público geral hoje. Você que pesquisar verá baixos salários e poucos e desmotivados funcionários.
E para os funcionários que já ganham acima da média? Do Judiciário por exemplo. Muito simples, senhores, novamente de forma crítica, você deve ponderar o que eu quero como servidor para exercer esta função? Qual o nível do meu servidor do Judiciário (praticamente todos os técnicos têm nível superior e uns 40% de analistas e técnicos têm pós-graduação, inclusive mestrado ou doutorado)? Quais as opções que este servidor tem em outros cargos públicos (são 14 outras carreiras públicas que pagam até 80% a mais, a propósito)? Eu quero manter um bom funcionário ou quero economizar na remuneração? Se eu economizar qual é o benefício? Se eu investir, qual é o benefício. Não importa a sua resposta. Se você fez a pergunta de forma correta, descobriu os benefícios e malefícios de sua opção, a opção está correta. A conseqüência do que você decidiu pode não ser a melhor para você, mas você optou conscientemente. (È claro que você não sabe, nem os jornais publicarão, que o orçamento do Judiciário é de 6% o Orçamento da União, enquanto que o orçamento do Executivo é de 90% o orçamento da união e que aumento do Judiciário ou criação de novas Varas, dentro do limite de 6% do orçamento do Judiciário, não impede programas de governo nem aumentos a aposentados ou do salário mínimo, porque a origem de verbas é diferente e autônoma por causa do princípio da separação de poderes da República)
Pergunto: a Polícia Federal teve bom aumento salarial de 2002 para cá (ainda pode ser notada alguma defasagem com outros quadros da carreira pública) e uma grande contratação. Isto foi bom ou ruim? Manter políticas de valorização do funcionário público e recuperar quadros da carreira pública que não tinham funcionários suficientes é bom ou ruim para garantir o retorno do seu imposto? Não pense em fulano ou cicrano que está no cargo, mas na política de manutenção ou reforço do cargo público e do quadro da carreira pública para prestar serviço público com eficiência para você, hoje e no futuro próximo. O servidor se aposenta ou falece, o cargo e o quadro público é para sempre e servirá a você e a seus netos.
E o interesse da empresa jornalística? Senhores, a empresa jornalística é uma empresa. Ela quer pagar tanto imposto como eu ou você, só que pode publicar a sua opinião. E a opinião tem que ter apelo popular. Explicar a realidade é chato, mas sensacionalismo com malversação de dinheiro público é interessante. Eu gostaria que sem dinheiro o Estado pudesse prestar serviço público, mas o imposto de renda na Suécia é de 65% e no Japão próximo disso. Você vê sueco e japonês reclamando do imposto de renda? Não. Porque eles têm serviço público de qualidade e sentem-se retribuídos pelo Estado. O problema não é o imposto é o serviço público que você tem pelo que você paga.
Aqui temos um servidor para cada 32 habitantes. Segundo o Jornal O Globo, em publicação no dia 08 de junho de 2010, na França há 1 servidor público para cada 12,5 habitantes e há 1 servidor para cada 18 habitantes na Alemanha. Quem está com melhor serviço público? Será que o número de servidores por habitante tem correlação com isto?
Vejo outra coisa, serviço público não publica propaganda em jornal, mas empresas que prestam serviços terceirizados sim. Acabar com o serviço público pode até ser lucro mais a frente com o incremento da publicidade e crescimento da terceirização.
Preste atenção ao seu interesse e ao de quem lhe passa notícia. Analise as informações, analise o interesse de quem lhe vende a notícia e quer que você compre, mais do que quer que você entenda a questão. Até porque, na confusão, quem tem a notícia reina e enriquece.
Abusos devem ser noticiado e coibidos, mas se não pudermos recuperar o serviço público agora em que temos crescimento econômico, déficit orçamentário mínimo (1,5% negativo ao ano, enquanto os EUA apresentam 10% negativo, Inglaterra 12% negativo e Alemanha e França também ao menos 4 vezes pior do que nós), quando poderemos garantir serviço público de qualidade suficiente para a nossa demanda atual e futura?
Bolha imobiliária no RJ em 2010
(Escrito em Março 2010)
Senhores, quero compartilhar umas considerações:
Acabei de ver um apartamento na Afrânio de Melo Franco, Leblon, três quartos, prédio antigo, sete andares, ao lado da Delegacia de Polícia e em frente ao Shopping Leblon. COm garagem, 140 m2, sem piscina, sem sauna, sem play. Pedem R$1.5 milhão. Estão lançando um imóvel em Botafogo, de luxo, segundo um dos corretores que conheço, construção da Paris, com sauna, piscina, tudo, os de dois quartos teriam 200 m2, com certeza um ótimo prédio. Custo, 1.15 milhão. No Flamengo, nas proximidades da Rua Barão de Itambá, rua atrás da FGV, paralela à Praia do Flamengo e perpendicular à Rua Farani, perto da Rua Pio X ou PioVI, onde tem uma favela visível e próxima à rua Pio X ou VI, está R$7.000,00 o metro quadrado, ou seja, um apartamento novo de 100 m2 tem pedido R$700.000,00.
Pessoas com bons salários estão impressionados e acham que em breve não haverá mais imóveis passíveis de compra. Em tese, segundo estes e outros, estaríamos caminhando meteoricamente para uma situação vivida em Nova York, em que ninguém compra imóvel, só aluga, ou outras grandes cidades da Europa Ocidental. Pode ser.
Entretanto, devo compartilhar alguns dados com os amigos, para que cheguem a suas próprias conclusões do melhor momento para fazerem investimentos ou compras. Pois ciente destes fatos, não posso me omitir em explicitá-los aos amigos para que tenham informações que os ajudem a refletir e tirar suas próprias conclusões, justamente no momento em que a crítica se faz necessária, pois justificar o que já ocorreu é muito fácil. É só repetir o que é impresso nos jornais.
Portanto, já indicando a leitura do artigo de hoje no Globo (em março) chamado "espelho irlandês", na área econômica, que não consegui acessar pelo Globo on line, coloco as seguintes ponderações, já me adiantando a dizer que creio que vivemos um início de bolha imobiliária, principalmente na Zona Sul, mas que já chega à Barra da Tijuca.
Argumentos que sustentam a existência de bolha:
1 – O processo formador do mercado imobiliário de Nova York e outros grandes centros europeus ocidentais demorou décadas. Além disso, a renda per capta, em 2008, segundo lista do FMI publicada no Wikipédia, da França era de US$ 46.037, na Alemanha estava em torno de U$44.729 e nos EUA era de US$47.440 (http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_pa%C3%ADses_por_PIB_nominal_per_capita), enquanto no Brasil estava em US$ 8.295. Há discussão de metodologia em que hoje, em 2009, estaríamos em US$9.100. O PIB dos EUA é superior ao nosso em 7,5 vezes (14.266,201,00 trilhão de dólares), França duas vezes (2.634.817 trilhão de dólares) e Alemanha três vezes (3.235.463 trilhões de dólares, segundo lista do FMI para 2009 dos PIBs, publicado no Wikipédia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_pa%C3%ADses_por_PIB_nominal).
2 – A grande comparação que se faz é o mercado de Nova York, mas além da renda per capta e pib muito maiores, nos EUA, a densidade populacional em Nova York é o dobro da do Rio de Janeiro. Nova York tem 789,4 km2 para 8.363.710 habitantes, apresentando densidade populacional de 10.452 pessoas por km2. O Rio de Janeiro tem 1182 km2 para população de 6.186.710, apresentando densidade populacional de 5.234 pessoas por quilômetro quadrado (fonte: lista das cidades mais populosas do mundo, Wikipédia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_pa%C3%ADses_por_PIB_nominal_per_capita).
3 – Segundo um amigo da área financeira, a maior renda média familiar no RIO é em São Conrado: R$16 mil, contando renda de dois adultos. Alguns amigos nesta faixa de renda que conheço e até superiores, estão tendo dificuldade em obter imóveis, mesmo considerando as diferenças das exigências pessoais.
Pergunto: Há sustentabilidade para a continuação de movimento de alta? Se há, em que prazo? Seria razoável que logo após a crise internacional de 2007 e 2008 (pois o movimento de supervalorização ocorreu depois disso), em dois anos não seja possível obter imóveis de dois quartos na zona sul por menos de 500 mil reais, ou seja US$277.777,00, a câmbio de R$1,80? E se isso é razoável, e, portanto, o processo de valorização é sustentável, em três anos teríamos este mesmo dois quartos a 500 mil dólares ou um milhão de reais? E os demais imóveis? Por exemplo, um dois quartos no Leblon então seria quanto? E um de quatro quartos?
Não se esqueçam que o real está em valorização. Em tese, quanto mais valorizada a moeda, maior seu poder de compra, mas não é isso o que acontece no momento em relação a imóveis. Uma valorização anual de 15 a 20% do imóvel já é alta, mas a Tijuca teve valorização de 80%, Botafogo de 118%, Leblon de 40 ou 56%, no ano passado. Isso pode se perpetuar? Isso é sustentável?
Para mim, as causas do aumento exacerbado de valores imobiliários são:
1 - Em setembro de 2008 as bolsas que estavam com previsão de valorização em até 84 mil pontos ao final do ano (alguns previam 94 mil pontos), teve queda astronômica com a crise dos EUA e chegou no final do ano a 29 mil pontos. Como se sabe, o investidor foge para ouro, dólar, poupança e imóveis. Houve aumento da demanda de imóveis por migração de investimentos nacionais das bolsas.
2 – Aliado a isso, no mesmo período, o Governo Federal, preocupado com as conseqüências na economia nacional, em especial na construção civil, que estava no centro do furação lá fora, facilitou empréstimo para compra de imóveis, baixando juros e aumentando limites, em especial através da modalidade consignação em folha de pagamento, o que poderia ser usado por servidores federais, os quais, com menor risco de desemprego, possibilitaram cobrança de menores juros, de forma a atrair este capital para o mercado e garantir os empregos e obras na área da construção civil. Resultado, aumento de demanda por imóveis por disponibilidade de mais valores. Muitas vezes esses tomadores, pessoas normais, compram desde que a prestação caiba em seu bolso, independentemente do valor do empréstimo, até porque não acompanham o mercado, portanto, “se eu quero e se posso pagar, vou em frente”. Isto é diferente de precificar um bem.
3 – Além disso, fundos estrangeiros já estavam se preparando para investir em imóveis no Brasil, segundo Luiz Carlos Mendonça de Barros em uma entrevista antes da crise de 2008, acho que na “Isto é dinheiro”. E com a crise, houve a percepçaõ de que o Brasil, último a entrar e quase primeiro a sair, era porto seguro, portanto, estão entrando mesmo. Esses valores que são bilhões de dólares, aumentam a demanda e aumentam a precificação dos imóveis. Sua estratégia pode ser de curto prazo (compra e vende mais caro), ou pode ser de longo prazo (compra para compor fundo de 15, vinte e trinta anos). Além de aumentarem o valor médio dos imóveis no mercado, pelo período em que estiverem em processo de compra, comprar caro é relativo para eles, pois se a estratégia é de curto prazo, faz sentido comprar enquanto há previsão de que outro compre mais caro. E para estratégia de longo prazo, uma sobrevalorização de 25% na compra de um imóvel hoje é diluída no tempo do investimento, pelo qual o imóvel se valorizará realmente e durante esse tempo há a rentabilidade dos aluguéis, para garantir o retorno do investimento.
4 – Por fim, soube de corretores que algumas pessoas, em função das eleições, ainda temem confisco de poupança e títulos públicos. Um deles me contou que teve um coprador que tinha 4 milhões para comprar “o que tivesse na Zona Sul”, para transformar dinheiro em imóvel, que é mais difícil de o governo confiscar.
Após isso, o que podemos ponderar é que:
1 – As previsões são de valorização das bolsas nesse e nos próximos anos, assim, esta causa de demanda de compra de imóveis pode se converter em venda de imóveis para voltar a investir e bolsa. Previsão de baixa na demanda,
2 – A ajuda anti-cíclica que o Governo Federal deu ao mercado é finito, pois quem comprou imóvel (bem ou mal) não comprará outro tão cedo, pois o endividamento é de 20 a 30 anos. Não é como comprar refrigerante. Quem comprou, não compra de novo. Assim, a maioria, quando viu a oportunidade de usar mais dinheiro com maiz prazo e menos juros, sabiamente, sem saber até quando duraria esta benesse, comprou imóvel. Ou seja, aumentou a demanda, mas saiu do mercado de compra. A tendência é de fim desta causa de aumento da demanda.
3 – Os investidores e especuladores internacionais, realmente, são um problema, pela dimensão dos valores de que dispõem, e inclusive, o FMI já alertou recentemente para a revisão de sua postura quanto ao controle de fluxo de capitais, dizendo que o fluxo livre de capitais dos países ricos para os emergentes vem causando aumento exacerbado de mercados imobiliários nestes países, o que não é saudável. Veja esta matéria jornalística (http://ultimosegundo.ig.com.br/economia/2010/02/25/fmi+sugere+controle+de+fluxos+de+capital+para+evitar+surgimento+de+bolhas+financeiras+9409073.html)
transcrevo um trecho da matéria acima mencionada:
“Segundo os autores (de novo estudo do fmi sobre controle de fluxo de capitais – grifo meu), mercados emergentes com controles de capital tiveram melhor desempenho que outros durante a crise internacional. Aos leigos no assunto, pode soar contraditório: em tese, ingresso de dólares no País confirmaria a condição de economia atraente. Não é bem assim. O fluxo de capitais está inundando os mercados emergentes e não são poucos os especialistas que enxergam aí uma possível formação de bolhas de ativos em Cingapura, Coreia do Sul, China e Taiwan, sobretudo nos mercados imobiliários.”
Mas é certo senhores que enquanto eles estiverem rondando é um problema a precificação dos ativos. Não há concorrência para este ingresso avassalador de valores. Mas após pico de compra, o dinheiro desses fundos também termina e eles precisam negociar com seus investidores a captação de mais valores para voltar a comprar, o que pode demorar de seis meses a um ano. Se sentirem que o movimento não se sustenta, os aplicadores especulativos vendem na lata e se vão. Os investidores de longo prazo escolhem melhor, aceitam pequena sobre valorização, mas mantém os imóveis e podem diminuir a velocidade de compra, na alta.
4 – Por fim o medo do confisco terminará no fim do ano, com a eleição e em seis meses depois disso são revendidos tais imóveis e voltam as aplicações para o mercado financeiro, seja poupança, títulos públicos, ações.
Assim, vejo que até o final deste ano e durante o próximo ano, teremos arrefecimento de preços e até diminuição de valores de imóveis. Claro que no Brasil não teremos o problema dos EUA ou mesmo da Irlanda, porque o Banco Central do Brasil não permite alavancagem das instituições financeiras como lá (aqui parece que é 11/1 e nos EUA chegou a 33/1) e porque os empréstimos são mais criteriosos (para liberar crédito para moradia, aqui normalmente não é admitido comprometimento superior a 30% da renda do tomador de empréstimo, muitas vezes nem 25% ou 20%). A crise não será bolha de crédito. Será bolha de preço de imóvel. Significa que quem comprar em alta terá o desgosto de ver o imóvel ao lado ser vendido por preços inferiores ao que pagou. É lógico que quem comprou o imóvel de sua vida, não se desfará em pouco tempo, e a perda se desfaz no tempo, como o investidor estrangeiro de longo prazo. Mas não deixa de ser um alerta para avaliar o momento de compra, já que com o mesmo dinheiro poderia ser comprado mais a frente um imóvel melhor.
Outro argumento importantíssimo para balizar o limite de aumento dos imóveis, como muito tem a ver com o investimento imobiliário, está na comparação dos aluguéis que podem ser exigidos dos imóveis que se compra. Mundialmente o imóvel deve ter retorno entre 0,5% a 3%, em valor locatício mensal. Mas essas recentes altas na Zona Sul está produzindo a situação de um imóvel de R$800.000,00, ter condomínio de R$500,00 e não poder ser alugado por mais de R$3.000,00 (considerando-se o Leblon. Esse aluguel ainda seria menor em outros bairros). Ou seja, o investimento neste imóvel gera renda equivalente a 0,375% ao mês, quando no mínimo seria de se esperar retorno de R$4.000,00. São 33% de diminuição no rendimento mínimo esperado ou no mínimo 25% menos, dependendo de que base você calcula a perda. E a valorização anual? Bem o imóvel ainda tem isso. Qual seria o potencial de valorização anual média deste imóvel de R$800.000,00. Em três anos valerá R$1.600.000,000, essa velocidade de valorização é sustentável? Mas então quem vai continuar comprando a esses preços quando for verificado que a renda do carioca não comporta aluguel superior a R$3.000,00 mensais (observe-se a renda média do carioca, em que a mais alta é de São Conrado, com R$16.000,00 mensais por casal) nem os imóveis nos preços atuais podem continuar subindo na proporção em que vêm subindo? O investidor terá de parar de comprar nesse nível de preço. Então a demanda arrefece e os preços terão que se ajustar. Veja que a lógica de quem compra pra morar é diferente de quem compra pra investir. Mas o especulador e investidor tem muita influência na formação do preço. É importante ver o limite do movimento de valorização, a partir do atingimento de limites de retorno do investimento em imóvel, seja em bases mensais (aluguéis) ou anuais (valorização do imóvel).
E os investimentos das olimpíadas e do Mundial de Futebol? O das olimpíadas é mais na Barra da tijuca e em regiões delimitadíssimas no Centro. Pode gerar valorização na Barra da Tijuca de forma principal, e vai. E o mundial de Futebol?
Observem. O mercado precifica hoje os ganhos futuros. As obras de melhoria estrutural já estão precificados em grande parte nesses valores altos dos imóveis hoje. Não significa que as melhorias previstas não vão afetar, em três a seis anos, as valorizações, inclusive na Zona Sul. Mas de qualquer maneira os aumentos vão ter que respeitar os limites de valorização possível anual dos imóveis e o aluguel possível de ser pago pela população que mora na cidade, como forma de garantia do investimento da compra de imóvel, por pessoa física ou por fundos imobiliários.. Portanto, acredito, que a Barra ainda tem mais possibilidades de valorização sim, o que é muito prejudicado pela falta de investimento e opções de transporte público, mas a Zona Sul, no prazo de seis meses e ao longo de 2011, deve experimentar arrefecimento de preços. Aos preços de hoje na Zona Sul, acredito que já houve a precificação de eventuais melhorias. Após o reajuste ao longo do ano que vem, o mercado voltará a seguir valorização normal ano a ano, com oscilações nas proximidades dos eventos, claro, que serão corrigidos em seguida, e voltar-se-á à normalidade.
Para os que não acreditam nisto, pergunto: há sustentabilidade na valorização dos imóveis na proporção em que ocorreram de 2008 para cá? Ou seja, o nível de valorização desse período se reproduzirá no tempo? E por quanto tempo? Há limite para a valorização dos imóveis? Em que bases?
Senhores, já estamos em uma bolha imobiliária de preços.
Um abraço,
Mário César
obs: aberta as discussões! Estou “assaltado” pelo interesse em entender o movimento do nosso mercado imobiliário.
Senhores, quero compartilhar umas considerações:
Acabei de ver um apartamento na Afrânio de Melo Franco, Leblon, três quartos, prédio antigo, sete andares, ao lado da Delegacia de Polícia e em frente ao Shopping Leblon. COm garagem, 140 m2, sem piscina, sem sauna, sem play. Pedem R$1.5 milhão. Estão lançando um imóvel em Botafogo, de luxo, segundo um dos corretores que conheço, construção da Paris, com sauna, piscina, tudo, os de dois quartos teriam 200 m2, com certeza um ótimo prédio. Custo, 1.15 milhão. No Flamengo, nas proximidades da Rua Barão de Itambá, rua atrás da FGV, paralela à Praia do Flamengo e perpendicular à Rua Farani, perto da Rua Pio X ou PioVI, onde tem uma favela visível e próxima à rua Pio X ou VI, está R$7.000,00 o metro quadrado, ou seja, um apartamento novo de 100 m2 tem pedido R$700.000,00.
Pessoas com bons salários estão impressionados e acham que em breve não haverá mais imóveis passíveis de compra. Em tese, segundo estes e outros, estaríamos caminhando meteoricamente para uma situação vivida em Nova York, em que ninguém compra imóvel, só aluga, ou outras grandes cidades da Europa Ocidental. Pode ser.
Entretanto, devo compartilhar alguns dados com os amigos, para que cheguem a suas próprias conclusões do melhor momento para fazerem investimentos ou compras. Pois ciente destes fatos, não posso me omitir em explicitá-los aos amigos para que tenham informações que os ajudem a refletir e tirar suas próprias conclusões, justamente no momento em que a crítica se faz necessária, pois justificar o que já ocorreu é muito fácil. É só repetir o que é impresso nos jornais.
Portanto, já indicando a leitura do artigo de hoje no Globo (em março) chamado "espelho irlandês", na área econômica, que não consegui acessar pelo Globo on line, coloco as seguintes ponderações, já me adiantando a dizer que creio que vivemos um início de bolha imobiliária, principalmente na Zona Sul, mas que já chega à Barra da Tijuca.
Argumentos que sustentam a existência de bolha:
1 – O processo formador do mercado imobiliário de Nova York e outros grandes centros europeus ocidentais demorou décadas. Além disso, a renda per capta, em 2008, segundo lista do FMI publicada no Wikipédia, da França era de US$ 46.037, na Alemanha estava em torno de U$44.729 e nos EUA era de US$47.440 (http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_pa%C3%ADses_por_PIB_nominal_per_capita), enquanto no Brasil estava em US$ 8.295. Há discussão de metodologia em que hoje, em 2009, estaríamos em US$9.100. O PIB dos EUA é superior ao nosso em 7,5 vezes (14.266,201,00 trilhão de dólares), França duas vezes (2.634.817 trilhão de dólares) e Alemanha três vezes (3.235.463 trilhões de dólares, segundo lista do FMI para 2009 dos PIBs, publicado no Wikipédia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_pa%C3%ADses_por_PIB_nominal).
2 – A grande comparação que se faz é o mercado de Nova York, mas além da renda per capta e pib muito maiores, nos EUA, a densidade populacional em Nova York é o dobro da do Rio de Janeiro. Nova York tem 789,4 km2 para 8.363.710 habitantes, apresentando densidade populacional de 10.452 pessoas por km2. O Rio de Janeiro tem 1182 km2 para população de 6.186.710, apresentando densidade populacional de 5.234 pessoas por quilômetro quadrado (fonte: lista das cidades mais populosas do mundo, Wikipédia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_pa%C3%ADses_por_PIB_nominal_per_capita).
3 – Segundo um amigo da área financeira, a maior renda média familiar no RIO é em São Conrado: R$16 mil, contando renda de dois adultos. Alguns amigos nesta faixa de renda que conheço e até superiores, estão tendo dificuldade em obter imóveis, mesmo considerando as diferenças das exigências pessoais.
Pergunto: Há sustentabilidade para a continuação de movimento de alta? Se há, em que prazo? Seria razoável que logo após a crise internacional de 2007 e 2008 (pois o movimento de supervalorização ocorreu depois disso), em dois anos não seja possível obter imóveis de dois quartos na zona sul por menos de 500 mil reais, ou seja US$277.777,00, a câmbio de R$1,80? E se isso é razoável, e, portanto, o processo de valorização é sustentável, em três anos teríamos este mesmo dois quartos a 500 mil dólares ou um milhão de reais? E os demais imóveis? Por exemplo, um dois quartos no Leblon então seria quanto? E um de quatro quartos?
Não se esqueçam que o real está em valorização. Em tese, quanto mais valorizada a moeda, maior seu poder de compra, mas não é isso o que acontece no momento em relação a imóveis. Uma valorização anual de 15 a 20% do imóvel já é alta, mas a Tijuca teve valorização de 80%, Botafogo de 118%, Leblon de 40 ou 56%, no ano passado. Isso pode se perpetuar? Isso é sustentável?
Para mim, as causas do aumento exacerbado de valores imobiliários são:
1 - Em setembro de 2008 as bolsas que estavam com previsão de valorização em até 84 mil pontos ao final do ano (alguns previam 94 mil pontos), teve queda astronômica com a crise dos EUA e chegou no final do ano a 29 mil pontos. Como se sabe, o investidor foge para ouro, dólar, poupança e imóveis. Houve aumento da demanda de imóveis por migração de investimentos nacionais das bolsas.
2 – Aliado a isso, no mesmo período, o Governo Federal, preocupado com as conseqüências na economia nacional, em especial na construção civil, que estava no centro do furação lá fora, facilitou empréstimo para compra de imóveis, baixando juros e aumentando limites, em especial através da modalidade consignação em folha de pagamento, o que poderia ser usado por servidores federais, os quais, com menor risco de desemprego, possibilitaram cobrança de menores juros, de forma a atrair este capital para o mercado e garantir os empregos e obras na área da construção civil. Resultado, aumento de demanda por imóveis por disponibilidade de mais valores. Muitas vezes esses tomadores, pessoas normais, compram desde que a prestação caiba em seu bolso, independentemente do valor do empréstimo, até porque não acompanham o mercado, portanto, “se eu quero e se posso pagar, vou em frente”. Isto é diferente de precificar um bem.
3 – Além disso, fundos estrangeiros já estavam se preparando para investir em imóveis no Brasil, segundo Luiz Carlos Mendonça de Barros em uma entrevista antes da crise de 2008, acho que na “Isto é dinheiro”. E com a crise, houve a percepçaõ de que o Brasil, último a entrar e quase primeiro a sair, era porto seguro, portanto, estão entrando mesmo. Esses valores que são bilhões de dólares, aumentam a demanda e aumentam a precificação dos imóveis. Sua estratégia pode ser de curto prazo (compra e vende mais caro), ou pode ser de longo prazo (compra para compor fundo de 15, vinte e trinta anos). Além de aumentarem o valor médio dos imóveis no mercado, pelo período em que estiverem em processo de compra, comprar caro é relativo para eles, pois se a estratégia é de curto prazo, faz sentido comprar enquanto há previsão de que outro compre mais caro. E para estratégia de longo prazo, uma sobrevalorização de 25% na compra de um imóvel hoje é diluída no tempo do investimento, pelo qual o imóvel se valorizará realmente e durante esse tempo há a rentabilidade dos aluguéis, para garantir o retorno do investimento.
4 – Por fim, soube de corretores que algumas pessoas, em função das eleições, ainda temem confisco de poupança e títulos públicos. Um deles me contou que teve um coprador que tinha 4 milhões para comprar “o que tivesse na Zona Sul”, para transformar dinheiro em imóvel, que é mais difícil de o governo confiscar.
Após isso, o que podemos ponderar é que:
1 – As previsões são de valorização das bolsas nesse e nos próximos anos, assim, esta causa de demanda de compra de imóveis pode se converter em venda de imóveis para voltar a investir e bolsa. Previsão de baixa na demanda,
2 – A ajuda anti-cíclica que o Governo Federal deu ao mercado é finito, pois quem comprou imóvel (bem ou mal) não comprará outro tão cedo, pois o endividamento é de 20 a 30 anos. Não é como comprar refrigerante. Quem comprou, não compra de novo. Assim, a maioria, quando viu a oportunidade de usar mais dinheiro com maiz prazo e menos juros, sabiamente, sem saber até quando duraria esta benesse, comprou imóvel. Ou seja, aumentou a demanda, mas saiu do mercado de compra. A tendência é de fim desta causa de aumento da demanda.
3 – Os investidores e especuladores internacionais, realmente, são um problema, pela dimensão dos valores de que dispõem, e inclusive, o FMI já alertou recentemente para a revisão de sua postura quanto ao controle de fluxo de capitais, dizendo que o fluxo livre de capitais dos países ricos para os emergentes vem causando aumento exacerbado de mercados imobiliários nestes países, o que não é saudável. Veja esta matéria jornalística (http://ultimosegundo.ig.com.br/economia/2010/02/25/fmi+sugere+controle+de+fluxos+de+capital+para+evitar+surgimento+de+bolhas+financeiras+9409073.html)
transcrevo um trecho da matéria acima mencionada:
“Segundo os autores (de novo estudo do fmi sobre controle de fluxo de capitais – grifo meu), mercados emergentes com controles de capital tiveram melhor desempenho que outros durante a crise internacional. Aos leigos no assunto, pode soar contraditório: em tese, ingresso de dólares no País confirmaria a condição de economia atraente. Não é bem assim. O fluxo de capitais está inundando os mercados emergentes e não são poucos os especialistas que enxergam aí uma possível formação de bolhas de ativos em Cingapura, Coreia do Sul, China e Taiwan, sobretudo nos mercados imobiliários.”
Mas é certo senhores que enquanto eles estiverem rondando é um problema a precificação dos ativos. Não há concorrência para este ingresso avassalador de valores. Mas após pico de compra, o dinheiro desses fundos também termina e eles precisam negociar com seus investidores a captação de mais valores para voltar a comprar, o que pode demorar de seis meses a um ano. Se sentirem que o movimento não se sustenta, os aplicadores especulativos vendem na lata e se vão. Os investidores de longo prazo escolhem melhor, aceitam pequena sobre valorização, mas mantém os imóveis e podem diminuir a velocidade de compra, na alta.
4 – Por fim o medo do confisco terminará no fim do ano, com a eleição e em seis meses depois disso são revendidos tais imóveis e voltam as aplicações para o mercado financeiro, seja poupança, títulos públicos, ações.
Assim, vejo que até o final deste ano e durante o próximo ano, teremos arrefecimento de preços e até diminuição de valores de imóveis. Claro que no Brasil não teremos o problema dos EUA ou mesmo da Irlanda, porque o Banco Central do Brasil não permite alavancagem das instituições financeiras como lá (aqui parece que é 11/1 e nos EUA chegou a 33/1) e porque os empréstimos são mais criteriosos (para liberar crédito para moradia, aqui normalmente não é admitido comprometimento superior a 30% da renda do tomador de empréstimo, muitas vezes nem 25% ou 20%). A crise não será bolha de crédito. Será bolha de preço de imóvel. Significa que quem comprar em alta terá o desgosto de ver o imóvel ao lado ser vendido por preços inferiores ao que pagou. É lógico que quem comprou o imóvel de sua vida, não se desfará em pouco tempo, e a perda se desfaz no tempo, como o investidor estrangeiro de longo prazo. Mas não deixa de ser um alerta para avaliar o momento de compra, já que com o mesmo dinheiro poderia ser comprado mais a frente um imóvel melhor.
Outro argumento importantíssimo para balizar o limite de aumento dos imóveis, como muito tem a ver com o investimento imobiliário, está na comparação dos aluguéis que podem ser exigidos dos imóveis que se compra. Mundialmente o imóvel deve ter retorno entre 0,5% a 3%, em valor locatício mensal. Mas essas recentes altas na Zona Sul está produzindo a situação de um imóvel de R$800.000,00, ter condomínio de R$500,00 e não poder ser alugado por mais de R$3.000,00 (considerando-se o Leblon. Esse aluguel ainda seria menor em outros bairros). Ou seja, o investimento neste imóvel gera renda equivalente a 0,375% ao mês, quando no mínimo seria de se esperar retorno de R$4.000,00. São 33% de diminuição no rendimento mínimo esperado ou no mínimo 25% menos, dependendo de que base você calcula a perda. E a valorização anual? Bem o imóvel ainda tem isso. Qual seria o potencial de valorização anual média deste imóvel de R$800.000,00. Em três anos valerá R$1.600.000,000, essa velocidade de valorização é sustentável? Mas então quem vai continuar comprando a esses preços quando for verificado que a renda do carioca não comporta aluguel superior a R$3.000,00 mensais (observe-se a renda média do carioca, em que a mais alta é de São Conrado, com R$16.000,00 mensais por casal) nem os imóveis nos preços atuais podem continuar subindo na proporção em que vêm subindo? O investidor terá de parar de comprar nesse nível de preço. Então a demanda arrefece e os preços terão que se ajustar. Veja que a lógica de quem compra pra morar é diferente de quem compra pra investir. Mas o especulador e investidor tem muita influência na formação do preço. É importante ver o limite do movimento de valorização, a partir do atingimento de limites de retorno do investimento em imóvel, seja em bases mensais (aluguéis) ou anuais (valorização do imóvel).
E os investimentos das olimpíadas e do Mundial de Futebol? O das olimpíadas é mais na Barra da tijuca e em regiões delimitadíssimas no Centro. Pode gerar valorização na Barra da Tijuca de forma principal, e vai. E o mundial de Futebol?
Observem. O mercado precifica hoje os ganhos futuros. As obras de melhoria estrutural já estão precificados em grande parte nesses valores altos dos imóveis hoje. Não significa que as melhorias previstas não vão afetar, em três a seis anos, as valorizações, inclusive na Zona Sul. Mas de qualquer maneira os aumentos vão ter que respeitar os limites de valorização possível anual dos imóveis e o aluguel possível de ser pago pela população que mora na cidade, como forma de garantia do investimento da compra de imóvel, por pessoa física ou por fundos imobiliários.. Portanto, acredito, que a Barra ainda tem mais possibilidades de valorização sim, o que é muito prejudicado pela falta de investimento e opções de transporte público, mas a Zona Sul, no prazo de seis meses e ao longo de 2011, deve experimentar arrefecimento de preços. Aos preços de hoje na Zona Sul, acredito que já houve a precificação de eventuais melhorias. Após o reajuste ao longo do ano que vem, o mercado voltará a seguir valorização normal ano a ano, com oscilações nas proximidades dos eventos, claro, que serão corrigidos em seguida, e voltar-se-á à normalidade.
Para os que não acreditam nisto, pergunto: há sustentabilidade na valorização dos imóveis na proporção em que ocorreram de 2008 para cá? Ou seja, o nível de valorização desse período se reproduzirá no tempo? E por quanto tempo? Há limite para a valorização dos imóveis? Em que bases?
Senhores, já estamos em uma bolha imobiliária de preços.
Um abraço,
Mário César
obs: aberta as discussões! Estou “assaltado” pelo interesse em entender o movimento do nosso mercado imobiliário.
Vetores Filosóficos
Compartilho com vocês os pensamentos que me influenciam quando critico artigos de jornal ou quando me predisponho a analisar um fato ou argumento político social ou econômico.
Essas frases também introduziram minha monografia de pós graduação e achei impressionantes pela simplicidade de suas estruturas e pela grandeza axiológica e de alcance de seus teores.
“Entre o fraco e o forte, é a liberdade que oprime e a lei que liberta.”
Rousseau
“A filosofia na busca da afirmação da verdade, e tão somente da verdade, percorre um caminho que atravessa frontalmente idéias socialmente estabelecidas.”
Barrows Dunham
“A maioria das pessoas não deseja tanto alcançar a verdade quanto encontrar razões que apóiem seus preconceitos favoritos.”
Jonh Hospers
“(...) que os indivíduos que estiverem sob seu governo sejam os mais felizes do mundo; (...) Enfim, que toda a província saiba que o bem-estar, os filhos, a reputação e as riquezas de todas as pessoas sob seu governo são objeto de sua mais profunda devoção.”
Marco Túlio Cícero
Naturalmente não vou comentá-los. Somente compartilho esses achados com vocês. Dedico-os ao necessário exercício da autocrítica de cada um de nós.
Essas frases também introduziram minha monografia de pós graduação e achei impressionantes pela simplicidade de suas estruturas e pela grandeza axiológica e de alcance de seus teores.
“Entre o fraco e o forte, é a liberdade que oprime e a lei que liberta.”
Rousseau
“A filosofia na busca da afirmação da verdade, e tão somente da verdade, percorre um caminho que atravessa frontalmente idéias socialmente estabelecidas.”
Barrows Dunham
“A maioria das pessoas não deseja tanto alcançar a verdade quanto encontrar razões que apóiem seus preconceitos favoritos.”
Jonh Hospers
“(...) que os indivíduos que estiverem sob seu governo sejam os mais felizes do mundo; (...) Enfim, que toda a província saiba que o bem-estar, os filhos, a reputação e as riquezas de todas as pessoas sob seu governo são objeto de sua mais profunda devoção.”
Marco Túlio Cícero
Naturalmente não vou comentá-los. Somente compartilho esses achados com vocês. Dedico-os ao necessário exercício da autocrítica de cada um de nós.
quinta-feira, 1 de julho de 2010
Radicalização da Democracia
Hoje acordei com a frase do Mangabeira Unger latejando em minha cabeça: "Precisamos, no Brasil, radicalizar a democracia". Foi em um seminário na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro lá pelos anos 1995 a 1997, quando eu terminava a faculdade. Ele se referia a incluir os excluídos, educar e incentivar a participação do indivíduo na vida política e econômica da sociedade.
Ontem eu fui a uma reunião do Sindicato dos Professores do Estado do Rio de Janeiro para discutir com as mães de crianças portadoras de deficiência meios de defender seus filhos da política atualmente aplicada a “ferro e fogo” de “inclusão social” das crianças portadoras de deficiência em classes regulares, desrespeitando suas necessidades e o nível cognitivo de cada uma. Essa discussão, conseqüência de um movimento iniciado desde antes de outubro de 2009, foi organizado pelas mães Maria Clara, Irlanda, Lindalva e Danielle, com apoio do IBDD (Instituto Brasileiro de Defesa dos Portadores de Deficiência), na pessoa dos seus advogados Dr. Alexandre e Dr. Gustavo Proença e da própria Presidente Tereza Amaral, e hoje conta com a parceria do Sindicato dos Professores do Estado do Rio de Janeiro, na pessoa de sua Presidente, Sra. Maristela, além do apoio do Desembargador Siro Darlan, com o qual, juntamente com as mães, pude discutir o assunto pessoalmente.
Também estou ajudando a organizar e manter o movimento de greve dos servidores do Judiciário da União (Justiça do Trabalho, Justiça Federal, Justiça Eleitoral e Justiça Militar), através do Sindicato dos Servidores da Justiça Federal (SISEJUFE). E o que há de comum nestes dois movimentos de defesa de direitos de partes da população? Dificuldade de mobilização. As dificuldades são distintas em cada caso: no primeiro as mães, muitas vezes humildes e totalmente dependentes do sistema público de ensino para deixar seus filhos e poderem trabalhar, não querem se indispor com as autoridades, mesmo que discordem do que está sendo feito com seus filhos e até sofram as conseqüências em casa de um distanciamento dos filhos por conta da mudança de rotina completamente despropositada que o governo municipal vem fazendo (tema a que voltaremos). No caso dos servidores do Judiciário, apesar de em Estados como São Paulo a adesão chegar a até 90% em algumas Varas Judiciárias, além de intensa adesão ao movimento grevista pelos servidores do Estado do Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia e Distrito Federal, no nosso Rio de Janeiro, apesar de haver adesão e movimento, nota-se ainda um distanciamento do servidor por uma falta de percepção da natureza do movimento sindical e uma falta de identidade entre si e sua entidade classista.
Nas duas hipóteses há, como resultado e/ou causa, uma letargia cívica que gera prejuízos para esses próprios indivíduos, que não admitem a adoção pessoal de defesa de seus direitos por seus motivos pessoais quaisquer que sejam, e um prejuízo grande para a sociedade e a democracia, já que estas pessoas, ao não defenderem seus direitos, permitem que a sociedade se movimente sem sua contribuição. Uma democracia é tão forte quanto maior é a participação da sociedade nos atos da vida pública, para corrigir erros políticos, para questionar estruturas e exigir que se adote o que entenda correto. Isto aconteceu com a Lei do “Ficha Limpa”, de iniciativa popular, e na Lei que pune compra de votos, outra lei de iniciativa popular.
Pessoal, quando há união, podemos fazer mais. É muito importante que seja cultuada a confiança entre os grupos de pessoas dentro de nossa sociedade: associação de moradores, sindicatos, todas as organizações sociais por classe social, classe profissional e classe econômica. Mesmo com toda a dificuldade, os dois movimentos que cito estão tendo amplos benefícios de sua mobilização, aproximando pessoas, discutindo a realidade brasileira sob a perspectiva de seu grupo, observando em que medida direitos de seu grupo estão sendo desrespeitados e quais são as medidas políticas ou judiciais que devam ser adotadas para corrigir esta situação.
Naturalmente na época da ditadura a associação de pessoas era sempre criminalizada e isto deixou um ranço cultural neste sentido, no sentido de que não se pode confiar no colega de grupo, bem como no sentido de que movimentos de grupo são baderneiros, contrários à ordem e rasteiros. Mas isso tem que mudar!!! Não há nada mais “in” do que você estar em uma associação representativa qualquer que tenha objetivo efetivo em defender o direito dos seus associados.
Pergunto: vocês já viram o poder de mobilização dos servidores públicos ou trabalhadores do setor privado na Europa? E na Europa quais são os países menos afetados pela crise financeira européia, que é rebarba da crise creditícia americana de 2008? Alemanha e França, os dois países com os mais organizados sindicatos de trabalhadores do setor público e/ou privado da Europa (além de países com número de servidor público por habitante de 1,6 vezes a 2,7 vezes maior que o Brasil, em proporção à suas populações – mas isto é outro papo).
Pessoal, por um Brasil forte, por nós individualmente, não podemos deixar que somente a Europa tenha indivíduos organizados e defendam seus direitos e vivam em melhores condições. A sociedade só pode influir nos rumos políticos e defender suas posições e apropriar-se de seus destinos, garantindo uma melhor qualidade de vida para si e seus familiares, através de associações de grupo com identidade de interesses.
Por que somente banqueiros podem se associar, discutir a realidade social, organizar seus interesses e defendê-los, através da FEBRABAN? Por que somente as empresas de transportes coletivos podem se associar, discutir a realidade social, organizar seus interesses e defendê-los, através da FETRANSPORT? Por que pode haver FIRJAN, FIESP, OAB, CREA, mas você não pode criar sua própria associação de pessoas para discutir a realidade social e defender seus interesses? Por que todas estas siglas de federações empresariais e Conselhos Profissionais são admiráveis e o seu sindicato não? Todos querem participar de entidades de projeção, mas para se projetarem, antes foram criadas, atuaram, realizaram e hoje gozam de credibilidade social.
Radicalizemos a democracia, participemos mais de nossas associações, confiemos mais nos colegas de mesmo grupo social, econômico, profissional e de interesses. Ter interesses não é ruim, gente, é normal e saudável para você e para a sua sociedade. Grupos fortes fazem o conjunto da sociedade forte, mas as associações civis não podem ser fortes sem sua participação ou ao menos não terão a mesma eficiência do que com a ativa participação de seus representados. Acredite nos seus direitos! Acredite no seu poder individual de mobilização! Você sim faz diferença! Abaixo a letargia cívica! Na Grécia Antiga o cidadão, para assim ser considerado em sociedade, era obrigado a participar das reuniões nas Assembléias e dar sua participação, sua opinião na condução dos rumos da sua sociedade. Não se omita. Seja ativo, por você, seus familiares e pela sociedade.
Ontem eu fui a uma reunião do Sindicato dos Professores do Estado do Rio de Janeiro para discutir com as mães de crianças portadoras de deficiência meios de defender seus filhos da política atualmente aplicada a “ferro e fogo” de “inclusão social” das crianças portadoras de deficiência em classes regulares, desrespeitando suas necessidades e o nível cognitivo de cada uma. Essa discussão, conseqüência de um movimento iniciado desde antes de outubro de 2009, foi organizado pelas mães Maria Clara, Irlanda, Lindalva e Danielle, com apoio do IBDD (Instituto Brasileiro de Defesa dos Portadores de Deficiência), na pessoa dos seus advogados Dr. Alexandre e Dr. Gustavo Proença e da própria Presidente Tereza Amaral, e hoje conta com a parceria do Sindicato dos Professores do Estado do Rio de Janeiro, na pessoa de sua Presidente, Sra. Maristela, além do apoio do Desembargador Siro Darlan, com o qual, juntamente com as mães, pude discutir o assunto pessoalmente.
Também estou ajudando a organizar e manter o movimento de greve dos servidores do Judiciário da União (Justiça do Trabalho, Justiça Federal, Justiça Eleitoral e Justiça Militar), através do Sindicato dos Servidores da Justiça Federal (SISEJUFE). E o que há de comum nestes dois movimentos de defesa de direitos de partes da população? Dificuldade de mobilização. As dificuldades são distintas em cada caso: no primeiro as mães, muitas vezes humildes e totalmente dependentes do sistema público de ensino para deixar seus filhos e poderem trabalhar, não querem se indispor com as autoridades, mesmo que discordem do que está sendo feito com seus filhos e até sofram as conseqüências em casa de um distanciamento dos filhos por conta da mudança de rotina completamente despropositada que o governo municipal vem fazendo (tema a que voltaremos). No caso dos servidores do Judiciário, apesar de em Estados como São Paulo a adesão chegar a até 90% em algumas Varas Judiciárias, além de intensa adesão ao movimento grevista pelos servidores do Estado do Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia e Distrito Federal, no nosso Rio de Janeiro, apesar de haver adesão e movimento, nota-se ainda um distanciamento do servidor por uma falta de percepção da natureza do movimento sindical e uma falta de identidade entre si e sua entidade classista.
Nas duas hipóteses há, como resultado e/ou causa, uma letargia cívica que gera prejuízos para esses próprios indivíduos, que não admitem a adoção pessoal de defesa de seus direitos por seus motivos pessoais quaisquer que sejam, e um prejuízo grande para a sociedade e a democracia, já que estas pessoas, ao não defenderem seus direitos, permitem que a sociedade se movimente sem sua contribuição. Uma democracia é tão forte quanto maior é a participação da sociedade nos atos da vida pública, para corrigir erros políticos, para questionar estruturas e exigir que se adote o que entenda correto. Isto aconteceu com a Lei do “Ficha Limpa”, de iniciativa popular, e na Lei que pune compra de votos, outra lei de iniciativa popular.
Pessoal, quando há união, podemos fazer mais. É muito importante que seja cultuada a confiança entre os grupos de pessoas dentro de nossa sociedade: associação de moradores, sindicatos, todas as organizações sociais por classe social, classe profissional e classe econômica. Mesmo com toda a dificuldade, os dois movimentos que cito estão tendo amplos benefícios de sua mobilização, aproximando pessoas, discutindo a realidade brasileira sob a perspectiva de seu grupo, observando em que medida direitos de seu grupo estão sendo desrespeitados e quais são as medidas políticas ou judiciais que devam ser adotadas para corrigir esta situação.
Naturalmente na época da ditadura a associação de pessoas era sempre criminalizada e isto deixou um ranço cultural neste sentido, no sentido de que não se pode confiar no colega de grupo, bem como no sentido de que movimentos de grupo são baderneiros, contrários à ordem e rasteiros. Mas isso tem que mudar!!! Não há nada mais “in” do que você estar em uma associação representativa qualquer que tenha objetivo efetivo em defender o direito dos seus associados.
Pergunto: vocês já viram o poder de mobilização dos servidores públicos ou trabalhadores do setor privado na Europa? E na Europa quais são os países menos afetados pela crise financeira européia, que é rebarba da crise creditícia americana de 2008? Alemanha e França, os dois países com os mais organizados sindicatos de trabalhadores do setor público e/ou privado da Europa (além de países com número de servidor público por habitante de 1,6 vezes a 2,7 vezes maior que o Brasil, em proporção à suas populações – mas isto é outro papo).
Pessoal, por um Brasil forte, por nós individualmente, não podemos deixar que somente a Europa tenha indivíduos organizados e defendam seus direitos e vivam em melhores condições. A sociedade só pode influir nos rumos políticos e defender suas posições e apropriar-se de seus destinos, garantindo uma melhor qualidade de vida para si e seus familiares, através de associações de grupo com identidade de interesses.
Por que somente banqueiros podem se associar, discutir a realidade social, organizar seus interesses e defendê-los, através da FEBRABAN? Por que somente as empresas de transportes coletivos podem se associar, discutir a realidade social, organizar seus interesses e defendê-los, através da FETRANSPORT? Por que pode haver FIRJAN, FIESP, OAB, CREA, mas você não pode criar sua própria associação de pessoas para discutir a realidade social e defender seus interesses? Por que todas estas siglas de federações empresariais e Conselhos Profissionais são admiráveis e o seu sindicato não? Todos querem participar de entidades de projeção, mas para se projetarem, antes foram criadas, atuaram, realizaram e hoje gozam de credibilidade social.
Radicalizemos a democracia, participemos mais de nossas associações, confiemos mais nos colegas de mesmo grupo social, econômico, profissional e de interesses. Ter interesses não é ruim, gente, é normal e saudável para você e para a sua sociedade. Grupos fortes fazem o conjunto da sociedade forte, mas as associações civis não podem ser fortes sem sua participação ou ao menos não terão a mesma eficiência do que com a ativa participação de seus representados. Acredite nos seus direitos! Acredite no seu poder individual de mobilização! Você sim faz diferença! Abaixo a letargia cívica! Na Grécia Antiga o cidadão, para assim ser considerado em sociedade, era obrigado a participar das reuniões nas Assembléias e dar sua participação, sua opinião na condução dos rumos da sua sociedade. Não se omita. Seja ativo, por você, seus familiares e pela sociedade.
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