quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Análise Econômica Setembro de 2012: a evidência do real

É importante notar um fato muito sério e feliz: não há mais gangorras de notícias econômicas a curto ou médio prazos. Não estou escrevendo tanto sobre economia no momento simplesmente pelo fato de que poucas coisas estão mudando ou sendo informadas de forma errada pela mídia.

Perceberam que as manchetes escandalosas sobre erros de condução econômica pelo governo pararam? Perceberam que ninguém mais se assusta caso o juro Selic baixe, como baixou recentemente para 7,5%? Cadê os escândalos sobre pressões inflacionárias em função de baixas da Selic? Onde estão os corvos do mercado financeiro que diziam que baixa de juros cobrados do consumidor pelos bancos públicos geraria problemas para estes bancos públicos e seria uma espécie de dirigismo econômico insustentável do governo?

Pois é.. calaram-se. Vimos desde o pico da grita histérica da mídia de mercado contra maior ênfase na adoção das medidas macroprudenciais (defendiam mais alta de juros selic), contra baixa da selic (defendiam sua alta cavalar sempre e baixas ridículas e imperceptíveis esporadicamente) e contra baixa de juros bancárias pelos bancos estatais desde julho de 2011 (defendiam a livre concorrência de mercado neste quesito, ...como se existisse), as gralhas de mercado emudeceram. Tudo o que disseram que ocorreria, e que o Blog Perspectiva Crítica disse que não ocorreria, não ocorreu.

Depois tentaram colocar na conta do governo a queda de produção de empregos e da produção econômica a partir do segundo semestre de 2011, quando a culpa havia sido deles mesmos que não incentivaram queda da Selic antes, enquanto todo o mundo descia seus juros básicos; quando não incentivaram adoção de medidas macroprudenciais para controle de inflação de oferta, mas exigiram aumento de selic, que aumenta lucro de bancos e aumenta desnecessariamente para a hipótese da época a dívida pública. Então.. com desestímulo à produção e estímulo à importação (câmbio baixo por atração de dólares atrás de juros selic nas alturas) e ao investimento financeiro ao invés de produtivo, caiu a economia e a produção de emprego, e o mercado apontou o governo como culpado.

Bem, agora toda essa palhaçada acabou. O próprio Boletim Focus está apontando variações futuras mais responsáveis, apesar de ainda ter excelente tendência em superdimencsionar inflação futura de forma a pressionar alta de juros selic.

Mesmo assim, o próprio Boletim Focus confirmou previsão de aumento de PIB em 4% em 2013, quando o mercado estava rindo da previsão orçamentária de crescimento para o ano que vem de 4,5% que estava sendo defendida pelo governo. Então, mais uma vez, as análises econômicas apresentadas atualmente em sociedade estão mais sóbrias e, se isso se estabelecer, com o tempo teremos jornais normais, como os ingleses neste tema, ou seja, sem publicar notícias fantásticas, mas meras notícias subsequentes de acompanhamento do desenrolar dos números e tendências econômicas atuais e seus reflexos em nossas vidas.

Entrando na análise em si, ressaltando o que se apresenta de importante no tema econômico, vejo com bom grado o fechamento do ciclo de negociações com servidores de reposições inflacionárias. Além de garantir direitos remuneratórios, estimular carreiras públicas, estes reajustes significam aumento de investimento em prestação de serviço público à população, o que melhora suas vidas, e garantia de reforço de circulação de capital em nossa economia, em momento em que a economia interna é importante para a manutenção da estabilidade econômica do país, já que pouco podemos esperar da economia internacional.

Por outro lado, as medidas de alívio tributário para empresas é muito interessante, como a queda de preço de energia elétrica e isenções de IPI, Cofins e outros tributos, pois isso facilita a produção e diminui custo Brasil, incentivando a produção econômica, o investimento e a produção de empregos.

É por causa dessas medidas e do investimento no PAC e construção de moradias populares, aumento de crédito para compra de bens de consumo durável e imóveis, bem como previsão de investimentos em infra-estrutura (PAC, hidrelétricas, concessões de aeroportos, portos, rodovias, obras para realização da Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016) que há previsão de crescimento entre 4 e 4,5% do PIB ano que vem.

Mas há falta de concretização de investimentos prometidos na saúde e educação... e nem vou falar na cultura. A falta de concretização de investimentos na saúde e educação empobrece brasileiros obrigados a pagar muito caro por escolas a seus filhos e planos de saúde a seus filhos e pais. Retira, ainda, importante elemento de concorrência com a área privada, prejudicando regras de mercado em desfavor a todos os consumidores do país, além de não realizar finalidade específica do Estado insculpido na Constituição da República que é garantir acesso à educação e atendimento médico e hospitalar em todo o país para todos os cidadãos brasileiros.

A previsão de contratação de 60 mil servidores públicos para o ano que vem é pífia, ante 11 mil vagas não preenchidas em 2011 e ante à necessidade de mais de 1.000.000 (um milhão) de servidores públicos em todo o país, em todos os setores da Adminstração Pública para garantir estrutura proporcional à população brasileira que existe ao menos nos EUA e Alemanha... não vou nem comentar França, Suécia e Dinamarca.

O maior projeto de governo de enriquecimento do cidadão passa por investimento maciço em educação, saúde e previdência. Somente investimento maciço nestas três áreas, com adoção de métodos eficientes de gestão pública de materiais e recursos humanos é que se realizará a verdadeira revolução na "guerra pelo pib" a favor da pessoa física.

A assistência social é importante (Bolsa familia etc.), mas o investimento em educação, saúde e previdência é definitivo em enriquecer a população criando concorrência nessas áreas com a iniciativa privada pela fidelização dos brasileiros a seus serviços.

Preocupa-me a estruturação de meios jurídicos e institucionais para o avanço das Organizações Sociais, ONGs e Cooperativas prestadoras de serviços de segurança pública, educação pública e saúde pública. Isso não cria estabilidade de relações de prestação de serviço público à população e não garnte circulação de valores estáveis em economia da mesma forma que ocorre quando há incremento da máquina pública para o mesmo fim.

A substituição de servidores públicos por terceirizados privados também não cria concorrência no mercado pela mão-de-obra brasileira, impedindo um canal de pressão pelo aumento da renda do brasileiro, pois a terceirização de prestação de serviço público precariza a natureza do emprego ofertado em sociedade e, naturalmente, a qualidade de prestação de serviços prestados, além de diminuir pressão de alta em salários em nossa sociedade, o que muitas vezes afeta mais os trabalhadores de nível educacional mais alto, sem deixar de prejudicar os de nível educacional mais baixo também.

A economia não prescinde da presença do público, como a mídia de mercado tenta fazer ver. A existência de presença marcante, sem excessos, da máquina pública em segurança, fiscalização, previdência, saúde e educação é fator de estabilidade econômica e foi o que salvou a economia alemã e francesa do caos em que os outros países com menos servidores públicos terminaram por sofrer com a crise da economia privada.

Portanto, neste momento em que poucas coisas pontuais de peso se apresentam para serem comentadas, cada vez mais será importante ver a adoção de medidas econômicas imediatas e contrastá-las com medidas políticas e administrativas governamentais que assegurem o médio e longo prazos de nossa economia.

Um debate mais calmo e aprofundado sobre as vantagens a serem exploradas de um investimento sério no setor público acabará (ou deveria acabar) por tomar assento em debates econômicos com enfoque em desenvolver e ampliar a economia privada. Quem sabe não acabarão discutindo minha monografia de pós-graduação "Os limites possíveis aos atos privados"? rsrsrs

Até a próxima.

p.s.: quanto ao setor de imóveis. A tendência continua de baixa e correção. A dívida das famílias continua e continuará alta por cinco anos. Os capazes de se endividar para comprar imóveis entre 500 mil e um milhão já estão endividados por 20 anos. Então imóveis residenciais tendem a decrescer e acertar preço aos baixos níveis de valores disponíveis. Por isso as empresas construtoras focarão em construção de flats, lofts, para venda a interessados em alugar para executivos. E ainda construção de imóveis comerciais. Isso arrefecerá o impulso de baixa de valores de imóveis residenciais no Brasil, mas não impedirá a manutenção de movimento de baixam, ainda que lenta, por ao menos até junhode 2013. Só observando para ver a intensidade, mas afigura-se intensidade baixa de queda que será constante.  Para interessados em adquirir imóveis (como eu), juntem valores. A moeda brasileira tem força e apresenta-se hoje como opção de poupança forte (reserva de valor) no futuro próximo.

p.s. de 13/09/2012 - texto revisto e ampliado.

4 comentários:

  1. Não sou economista nem um imbecil ou idiota que acredita em todas as patranhas divulgadas pela media tanto contra como a favor das políticas econômicas dos governos, quer de direita ou de esquerda.
    Ninguém me convence, por exemplo, que a variação da SELIC tem influência direta e decisiva na inflação, como, unanimemente, é divulgado pela media. O custo alto ou baixo do dinheiro afeta tanto a produção de géneros, como os serviços e uso e/ou consumo; no meu modesto e limitado entender, o que provoca inflação é o desequilíbrio entre a oferta e a procura dos produtos de consumo das transações correntes, face às suas reais ou fictícias necessidades dasociedade.
    Portanto, também no meu limitado entender, para o cidadão comum pouco interessa que a SELIC suba ou desça, quando, tanto os bancos públicos como os particulares, em sintonia, cobram quanto querem e apresentam lucros obscenos, a cada blanço divulgado, pouco se lixando para o aperto da maioria da população que se encontra endividada e uma parte significativa inadimplente.
    Outro assunto que me incomoda é a referência leviana ao funcionalismo público e seu custo sem se definir que tipo de estado se defende.
    Ora, desde o comunismo puro (utópico), passando pelas ditaduras de direita ou de esquerda, pelo nosso misto indefinido, pelas sociais democracias, até ao liberalismo mais ou menos radical, há uma infinita possibilidade de estados que podemos imaginar, defender e dimensionar sem precisarmos de os rotular de direita, esquerda ou centro.
    Ao cidadão comum, a maioria, embora seja suscetível e influenciado pelo discurso enganoso da generalidade dos políticos e da media, o que lhe interessa é a qualidade de vida que determinada prática política lhe proporciona.
    É precisamente a falta de debates destes temas em moldes bem acessíveis que falta para a sociedade decidir o que lhe é mais favorável, principalmente quando tem a possibilidade de ir às urnas, de preferência de forma livre.

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  2. Quartier, importante o seu interesse pelos temas que tratamos no BLOG. O fato de você procurar informações sobre economia e sociedade e estar presente em nosso canal de comunicação dedicando o seu tempo para exprimir sua irresignação com a forma do tratamento da questão econômica pela mídia, demandando canal para debate do tema para a sociedade é o que nos move a escrever o Blog.

    Economia não é simples. Necessita de estudo de alguns conceitos (ou vários) e de acompanhamento dos fatos e comentários econômiocs de vários técnicos para, com o tempo, se formar algumas convicções sobre vários elementos econômicos e entender como influenciam sobre outros ou podem ser compreendidos por variações de índices como, por exemplo o índice da inflação.

    Certamente, como você bem apontou, há total falta de debate sobre como o elemento "força de trabalho do setor público" influencia positivamente ou negativamente o desenvolvimento da economia de forma a garantir compatibilidade entre crescimento econômico e obtenção de maior qualidade de vida para a população.

    Esse tipo de debate é possível aqui. É o que estamos tentando fazer. E acho que estamos conseguindo. Nunca será possível ensinar (nem é esta nossa pretensão) conceitos econômicos a fundo, mas a discussão sobre estes temas caros para nós podem gerar frutos como indicação de leituras, de fontes, de pesquisa que nos induzam, comentaristas, seguidores, leitores e o blogger, a buscar mais informações, a trocar informaçoes e cada vez mais poder entender o emaranhado de conceitos econômicos, fatos econômicos e sociais, fatos políticos e sua correlação de forma a produzir um resultado em melhoria social ou outro que possa parecer melhoria social, mas que na verdade seja uma reestruturação de Estadoe mercado que não favorece nem o mercado e nem a sociedade (como formação de cartéis, como influência de empresas de forma desastrosa em formulação de política pública em prejuízo do interesse público..).



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  3. (continuando)
    Assim, como sempre respondo os comentários, para retribuir a atenção especial que o leitor me dispensou, tenho a oportunidade de de te passar algumas informações, com o objetivo de realizar a missão do BLOG que é o de ajudar os cidadãos a entenderem a fundo os temas que são aqui abordados.

    A mais importante dinâmica econômica que influencia sobre a inflação, como você disse, é a regra da oferta e da procura. Certo. E um fato que influencia esta regra é a demanda, mas o sobe e desce da selic tem consequências muito fortes na economia. É o principal instrumento de estímulo à economia e contenção de inflação. Por isso mesmo não pode ser usado de forma leviana como cinha ocorrendo.

    O mercado e a mídia de mercado sempre publicou que se elevasse Selic para resolver qualquer aumento de inlação, sem diferenciar quando a inflação era de demanda ou de oferta. E mesmo quando fosse por inflação de demanda, quando aumento de selic é mais indicado, sem considerar se outras medidas, como as macroprudenciais, poderiam surtir efeito de controle inflacionário sem os efeitos colaterais negativos do aumento de selic que são basicamente atingir toda a economia indistintamente (mesmo que parte da economia esteja indo bem e não precisando de estímulo ou desestímulo econômico) e aumentar a dívida pública.

    O mercado e a mídia fazaim isso primeiro porque podia manipular o entendimento da maioria da população (opinião pública) em relação às expectativas da inflação, através das publicações favoiráveis ao aumento de selic e segundo porque tinham o praticamente exclusivo interesse em aumento de selic sempre, pois aumenta o lucro de bancos e instituições financeiras que aplicam em títulos do governo.

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  4. (continaundo)
    É muito importante que uma pessoa jovem e bem disposta como você continue na sua busca por entender esses mecanismos. Eu demorei 22 anos para reunir toda a informação que possuo. E vou te passar umas dicas para que você chegue lá também e seja crítico com eficiência como sua natureza o impele a ser.

    Leia todas as análises econômicas do BLOG, de preferência da mais antiga para a mais nova. Eu não sou pago para escrever, portanto meu compromisso é somnete com a verdade dos fatos econômicos e se você ler os artigos desta forma poderá acompanhar o desenvolvimento dos fatos e o perfeito encadeamento dos raciocínios de acordo com a alteração dos fatos econômicos no tempo.

    Procure entender, mesmo sem ser economista, a diferença de política monetária e política fiscal. Leia o livro "Economia ao alcance de quase todos", de Nicole e Galbraith. Procure ler sobre medidas macroprudenciais e controle da inflação. Procure ler sobre causas de variação do câmbio e influencia sobre o câmbio na inflação. Procure ler sobre medidas de estímulos econômicos e reflexos destas medidas na inflação. Procure ler sobre investimentos realizados em economia e os reflexos na inflação. Procure ler sobre investimentos públicos realizados em economia e reflexos destes na variação da inflação. Procure informações sobre o clássico debate crescimento econômico x inflação.

    Desenvolvimentistas privilegiam o crescimento econômico, para que o país atinja seu potencial econômico e amadureça sua economia mais rapidamente, mesmo que haja uma inflação um pouco maior (desde que controlada) da inflação. Os monetaristas defendem que a inflação seja sempre controlada e baixa, de preferência no nível europeu, japonês e americnao de 2% ao ano no máximo, acreditando que nesse ambiente a economia se desenvolve melhor, mesmo que cresça e se amadureça mais devagar. Eu sou desenvolvimentista e acho que é possível atingirmos o máximo de crescimento com controle inflacionário, que é o que China e Índia fazem.

    Procure, portanto, o debate entre desenvolvimentistas e monetaristas/financistas. Leia o livro da L&P de bolso sobre Keynes.

    Depois disso você terá vários elementos de conhecimento que apurarão seus conceitos e o municiarão de informações tais que você vai conseguir ver em qualquer artigo quando falam verdades consistentes e quando estão tentando manipular a opinião pública de forma a obter apoio para uma série de medidas que facilmente você verificará que beneficia bancos, indústrias ou o comércio, em detrimento do cidadão ou da normalidade econômica.

    Falta muita coisa ainda que não mencionei, como você procurar também sobre direito concorrencial, combate a movimentos de dumping nacional ou internacional, combate a cartéis e etc.. mas lendo os artigos do BLOG, lendo os dois livros indicados e procurando as informações focadas na relação entre fatos econômicos e inflação, você dará um salto gigantesco.

    Depois disso, fazer o debate sobre tipo de Estado, investimento no serviço público e normalidade inflacionária com crescimento econômico ficará sob bases bem mais sólidas.

    Um grande abraço,

    Mário César Pacheco

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